sábado, 12 de junho de 2010

Bento de Espinosa: Um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada «Filosofia Moderna». O fundador do «criticismo bíblico» moderno

(1632-1677)
Amesterdão
Cortesia de wikipedia
Bento de Espinosa, também Benedito Espinoza ou Baruch Spinoza, foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu em Amsterdão, nos Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa, sendo considerado o fundador do criticismo bíblico moderno. A sua família fugiu da Inquisição de Portugal. Foi um profundo estudioso da Bíblia, do Talmude e de obras de judeus como Maimónides, Ben Gherson, Ibn Ezra, Hasdai Crescas, Ibn Gabirol, Moisés de Córdoba e outros. Também se dedicou ao estudo de Sócrates, Platão, Aristóteles, Demócrito, Epicuro, Lucrécio e também de Giordano Bruno.

Ganhou fama pelas suas posições de panteísmo (Deus, natureza naturante) e do monismo neutro, e ainda devido ao facto da obra Ética ter sido escrita sob a forma de postulado e definições, como se fosse um tratado de geometria.


O Banimento, em português
Cortesia de wikipédia
No verão de 1656, a Sinagoga Portuguesa de Amesterdão puniu-o com o Chérem, equivalente à Excomunhão, pelos seus postulados a respeito de Deus na sua obra, defendendo que Deus é o mecanismo imanente da natureza e do universo e a Bíblia uma obra metafórico-alegórica que não pede leitura racional e que não exprime a verdade sobre Deus. Conforme Will Durant, o Chérem pelos judeus de Amesterdão, tal como ocorrera com as atitudes que levaram à retração e posterior suicídio de Uriel da Costa em 1647, fora como que um gesto de «gratidão» por parte dos judeus com o povo holandês. Embora os pensamentos de Espinosa e da Costa não fossem totalmente estranhos ao judaísmo, vinham contra os pilares da crença cristã. Os judeus, perseguidos por toda Europa na época, especialmente pelos governos ibéricos e luteranos alemães, recebem abrigo, protecção e tolerância dos protestantes de inspiração calvinista dos Países Baixos. Deste modo, não podiam permitir no seio de sua comunidade um pensador tido como herege.
Após o Chérem adoptou o primeiro nome Benedictus, Bendito, a tradução do seu nome original - Baruch - para o latim.
Considerando que as reacções públicas ao Tratado Teológico-Político não lhe serem favoráveis, abstem-se de publicar os seus trabalhos. A Ética foi publicada após a sua morte, na Opera Postuma editada por  amigos. O monumento de homenagem a Espinosa, na cidade de Haia foi comentado por Renan, em 1882, do seguinte modo:
«Maldição sobre o passante que insultar essa suave cabeça pensativa. Será punido como todas as almas vulgares são punidas – pela sua própria vulgaridade e pela incapacidade de conceber o que é divino. Este homem, do seu pedestal de granito, apontará a todos o caminho da bem-aventurança por ele encontrado, e por todos os tempos o homem culto que por aqui passar dirá em seu coração, «foi quem teve a mais profunda visão de Deus»

Cortesia de wikipédia
Espinosa defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, a saber, a única substância em que consiste o universo e do qual todas as entidades menores constituem modalidades ou modificações. Ele afirmou que Deus sive Natura, «Deus ou Natureza» em latim, era um ser de infinitos atributos, entre os quais a extensão (sob o conceito atual de matéria) e o pensamento eram apenas dois conhecidos por nós. A sua visão da natureza da realidade, então, fez tratar os mundos físicos e mentais como dois mundos diferentes ou submundos paralelos que nem se sobrepõem nem interagem mas coexistem em uma coisa só que é a substância. Esta formulação é uma solução muitas vezes considerada um tipo de panteísta e de monismo. Espinosa também propunha uma espécie de determinismo, segundo o qual absolutamente tudo o que acontece ocorre através da operação da necessidade, e nunca da teleologia. Para ele, até mesmo o comportamento humano seria totalmente determinado, sendo então a liberdade a nossa capacidade de saber que somos determinados e compreender por que agimos como agimos. Deste modo, a liberdade para Espinosa não é a possibilidade de dizer «não» àquilo que nos acontece, mas sim a possibilidade de dizer «sim» e compreender completamente por que as coisas deverão acontecer de determinada maneira.
A filosofia de Espinosa tem muito em comum com o estoicismo, mas difere muito dos estóicos num aspecto importante. Ele rejeitou fortemente a afirmação de que a razão pode dominar a emoção. Pelo contrário, defendeu que uma emoção pode ser ultrapassada apenas por uma emoção maior. A distinção crucial era, para ele, entre as emoções activas e passivas, sendo as primeiras aquelas que são compreendidas racionalmente e as outras as que não o são.

Cortesia de pensepalav.wordpress
Para Espinosa, a substância não possui causa fora de si, ela é uma causa não-causada, ou seja, uma causa em si. Ela é singular a ponto de não poder ser concebida por outra coisa que não por ela mesma. Por não ser causa do nada, a substância é totalmente independente, livre de qualquer outra coisa, pois a sua existência basta em si mesma.Ou seja, a substância, para que o entendimento possa formar o conceito, não precisa do conceito de outra coisa. A substância é absolutamente infinita, pois se não o fosse, precisaria ser limitada por outra substância da mesma natureza.
Pela proposição V da Parte I da Ética, Espinosa afima: «Uma substância não pode ser produzida por outra substância», portanto, não existe nada que limite a substância, sendo ela, então, infinita. Da mesma forma, a substância é indivisível. «À natureza de uma substância pertence o existir». Assim, a substância é indivisível. Apesar de ser denominado Deus, a substância de Espinosa é radicalmente diferente do Deus judaico-cristão, pois não tem vontade ou finalidade. Consequentemente, o Deus de Espinosa não é alvo de preces e menos ainda exigiria uma nova religião.

O corpo humano é um complexo de corpos individuais, e é capaz de manter as suas proporções de movimento e de repouso ao passar por uma ampla variedade de modificações impostas pelo movimento e repouso de outros corpos. Essas modificações são o que Espinosa chama de afectos. Um afecto que aumenta a capacidade do corpo de manter as suas proporções características de movimento e repouso aumenta a potência de agir e tem, em paralelo, na mente, uma modificação que aumenta a potência de pensar. A passagem de uma potência menor para uma maior é o afecto de alegria. Um afecto que diminui a potência do corpo de manter as proporções de movimento e repouso diminui a potência de agir e tem, em paralelo, na mente, uma diminuição da potência de pensar. A passagem de uma potência maior para uma menor é o afecto de tristeza. Já um afecto que ultrapassa as proporções de movimento e repouso dos corpos que compõem o corpo humano, destrói o mesmo corpo e a mente, significando a morte.





Cortesia de wikipédia/Grupo de Estudos Espinosanos, Estudos sobre o Séc XVII/JDACT