terça-feira, 15 de junho de 2010

Ventura Abrantes: A sua paixão pela famigerada «Questão de Olivença» leva-o à fundação do Grupo dos Amigos de Olivença (15 de Agosto de 1938)

(1883-1956)
Olivença
Cortesia de alemguadiana
Ventura Ledesma Abrantes foi um líder nacionalista português, fundador do irredentista Grupo dos Amigos de Olivença.
Neto de uma portuguesa de Ponte de Sor e de um espanhol de Badajoz, fixados em Olivença, Ventura Abrantes nasceu no seio de uma família oliventina pró-portuguesa. A família acabou por decidir fixar-se em Portugal, segundo os seus biógrafos por ser mal vista pelas autoridades espanholas. Em Portugal, Ventura Abrantes estabeleceu-se como livreiro, representando o país nas exposições livreiras de Sevilha, Barcelona e Florença.

Cortesia do Grupo de Amigos de Olivença
Em 1938 fundou uma organização que daria origem, em 1945, ao Grupo dos Amigos de Olivença. Um de seus feitos mais notáveis na Questão de Olivença foi ter convencido o ministro da Justiça português, Manuel Gonçalves Cavaleiro de Ferreira, a conceder automaticamente a nacionalidade portuguesa a todos os oliventinos que o solicitassem. O seu livro «O Património da Sereníssima Casa de Bragança em Olivença», publicado em Lisboa por Álvaro Pinto em 1954, continua a ser um dos livros mais importantes sobre a história da Olivença portuguesa.

Cortesia do Grupo de Amigos de Olivença
Ventura Ledesma Abrantes foi uma daquelas raras figuras de patriota que a uma causa dedicou toda a sua alma, quiçá, a sua própria vida: a recuperação para Portugal da sua Olivença natal. Seu pai, barbeiro na Vila de Olivença, era filho de uma portuguesa, natural de Torre das Vargens (concelho de Ponte de Sor), que emigrara para Espanha, casando em Barcarrota (Província de Badajoz) e fixando-se mais tarde em Olivença, mas sem nunca abandonar a nostalgia da sua doce terra alentejana. Deste modo, é a avó paterna que instiga o idealismo irredentista no espírito da família Abrantes. Desde muito jovem que Ventura Abrantes se habitua a frequentar as terras alentejanas da raia. Contacta com as suas gentes, nutre amizades.

Cortesia do Grupo de Amigos de Olivença
Pela sua posição pró-portuguesa os Abrantes são malquistos pelas autoridades oliventinas. Não se fazem esperar represálias e a família toma a decisão de se deslocar definitivamente para Lisboa.
A ele, entre outros, se deve a abertura em 1931 da primeira Feira do Livro de Lisboa, para o que, certamente, não seria alheio o facto de ele próprio ser o Presidente da Associação da Classe de Livreiros de Portugal (embrião da actual A. P. E. L.). Ainda na década de 30 é nomeado representante de Portugal nas Exposições Livreiras de Sevilha, Barcelona e Florença.
Abre na Rua do Alecrim, 80-82 a Livraria Oliventina e a Casa Editora Ventura Abrantes, estimulando uma das tertúlias mais animadas do cosmopolita Chiado onde pontificavam Teófilo Braga, António Sardinha e Egas Moniz. Edita obras de grande fôlego como o «In Memoriam» de Camilo Castelo Branco, «A Vida e Obra de Júlio Dinis» e a «Vida Sexual» ambos do seu amigo Prof. Doutor Egas Moniz ou o emblemático «Como Perdemos Olivença» do Prof. Doutor Queiroz Veloso entre outras.
Visto como uma personalidade algo singular, culto e activo, Ventura Abrantes viria ainda a ser admitido na selectiva Sociedade de Geografia de Lisboa, publicando na sua conceituada revista alguns trabalhos científicos sobre Olivença.

Cortesia do Grupo de Amigos de Olivença
Sob a sua égide é fundada nesta Sociedade a Sub-secção de Estudos Históricos de Olivença. Além de publicista de mérito, colaborou assiduamente em jornais e revistas de Lisboa e Porto muitas vezes sob o pseudónimo de João Coelho. Mas, seria, indubitavelmente, a sua paixão pela famigerada «Questão de Olivença» que o levaria à fundação do Grupo dos Amigos de Olivença (15 de Agosto de 1938) juntamente com o então Tenente Humberto Delgado, Amadeu Rodrigues Pires e Francisco de Sousa Lamy.

Cortesia do Grupo de Amigos de Olivença
A personagem de Ventura Ledesma Abrantes ainda hoje sobrevive no espírito e no ideal do Grupo dos Amigos de Olivença. Figura pitoresca dos meios intelectuais da capital, onde se movia com grande desenvoltura e aceitação, consagrou parte da sua fortuna e da sua actividade de livreiro e editor à divulgação e estudo de Olivença num País que se havia desinteressado ou simplesmente resignado à posse daqueles 750 Km² de território legitimamente seu.
Para o efeito leccionou, escreveu e fez publicar uma quantidade invulgar de material bibliográfico abordando as mais variadas temáticas oliventinas. Hoje, esses documentos, alguns deles bastante valiosos para o estudo etnográfico e histórico do burgo oliventino, encontram-se raramente nalguma estante de alfarrabista.
O seu portuguesismo era de tal forma arreigado que, intercedendo junto do Ministro da Justiça de então, Dr. Cavaleiro Ferreira, consegue que seja concedida pelo Estado Português a cidadania portuguesa a todos os Oliventinos que o solicitem, sendo-lhes para isso averbado no respectivo Bilhete de Identidade a menção de "Português de Olivença".
Ventura Ledesma Abrantes morreu aos 73 anos de idade.

«A origem de Olivença está ligada à reconquista cristã da região fronteira a Elvas pelos Templários idos do Reino de Portugal, cerca do ano de 1230. Nesse território a Ordem criou a comenda de Oliventia, erigindo um templo a Santa Maria e levantando um castelo. No final do século, pelo Tratado de Alcanices, assinado em 1297 entre o Rei D. Dinis e Fernando IV de Castela, Olivença seria formalmente incorporada em Portugal, pera sempre, juntamente com Campo Maior, Ouguela e os territórios de Riba-Côa, em escambo com Aroche e Aracena. De imediato, D. Dinis elevou a antiga povoação à categoria de vila, outorgando-lhe foral em 1298, determinou a reconstrução da fortificação templária e impulsionou o seu povoamento. Os seus sucessores reforçaram sucessivamente a posição estratégica de Olivença, concedendo privilégios e regalias aos moradores e realizando importantes obras defensivas. Em 1488 D. João II levantou a impressionante torre de menagem de 40 m de altura. Em 1509 D. Manuel iniciou a construção de uma soberba ponte fortificada sobre o Guadiana, a Ponte da Ajuda, com 19 arcos e tabuleiro de 450 metros de extensão. Do reinado de D. Manuel, que deu foral novo em 1510, datam também outras notáveis construções como a Igreja da Madalena (por muitos considerada como o expoente, depois do Mosteiro dos Jerónimos, do manuelino), a Santa Casa da Misericórdia ou o portal das Casas Consistoriais. Seguindo-se ao esplendor do século XVI português, dá-se a união dinástica filipina, entre 1580 e 1640. A pertença de Olivença a Portugal não é questionada. No dia 4 de Dezembro de 1640, chegada a notícia da Restauração em Lisboa, a praça aclama com júbilo D. João IV e é envolvida totalmente na guerra que se segue (1640/1668), período em que se inicia o levantamento das suas fortificações abaluartadas, cuja construção se dilataria durante a centúria seguinte. No decurso do conflito, Olivença foi ocupada em 1657 pelo Duque de San Germán e, na circunstância, a totalidade da população abandonou a vila e refugiou-se junto de Elvas, só regressando a suas casas quando foi assinada a paz (1668) e as tropas castelhanas abandonaram a praça e o concelho.
O século XVIII inicia-se com um novo conflito bélico - a Guerra de Sucessão de Espanha -, em cujo transcurso foi destruída a Ponte da Ajuda (1709). A posição de Olivença tornou-se assim especialmente vulnerável. Em 20 de Janeiro de 1801, Espanha, cínica e manhosamente concertada com a França Napoleónica, sem qualquer pretexto ou motivo válido, declara guerra a Portugal e, em 20 de Maio, invade o nosso território, ocupando grande parte do Alto-Alentejo, na torpe e aleivosa «Guerra das Laranjas». Comandadas pelo «Generalíssimo» Manuel Godoy, favorito da rainha, as tropas espanholas cercam e tomam Olivença. Portugal, vencido às exigências de Napoleão e de Carlos IV, entregou a Espanha, «em qualidade de conquista», a «Praça de Olivença, seu território e povos desde o Guadiana», assinando em 6 de Junho o «Tratado de Badajoz», iníqua conclusão de um latrocínio. «Cedeu-se» Olivença, terra entranhadamente portuguesa que participara na formação e consolidação do Reino, no florescimento da cultura nacional, nas glórias e misérias dos Descobrimentos, na tragédia de Alcácer-Quibir, na Restauração!... Findas as Guerras Napoleónicas, reuniu-se, com a participação de Portugal e Espanha, o Congresso de Viena, concluído em 9 de Junho de 1815 com a assinatura da Acta Final pelos plenipotenciários, entre eles Metternich, Talleyrand e D. Pedro de Sousa Holstein, futuro Duque de Palmela.
O Congresso retirou, formalmente, qualquer força jurídica a anteriores tratados que contradissessem a «Nova Carta Europeia». Foi o caso do «Tratado de Badajoz». E consagrou, solenemente, a ilegitimidade da retenção de Olivença por Espanha, reconhecendo os direitos de Portugal. Na Acta Final, apoio jurídico da nova ordem europeia, prescrevia o seu art.º 105.º:

«Les Puissances, reconnaissant la justice des réclamations formées par S. A. R. le prince régent de Portugal e du Brésil, sur la ville d’Olivenza et les autres territoires cédés à Espagne par le traité de Badajoz de 1801, et envisageant la restitution de ces objets, comme une des mesures propres à assurer entre les deux royaumes de la péninsule, cette bonne harmonie complète et stable dont la conservation dans toutes les parties de l’Europe a été le but constant de leurs arrangements, s’engagent formellement à employer dans les voies de conciliation leurs efforts les plus efficaces, afin que la rétrocession desdits territoires en faveur du Portugal soi effectuée ; et les puissances reconnaissent, autant qu’il dépend de chacune d’elles, que cet arrangement doit avoir lieu au plus tôt».

Espanha assinou o tratado, em 7 de Maio de 1807 e assim reconheceu os direitos de Portugal. Volvidos 185 anos, o Estado vizinho não deu, porém, provas do carácter honrado, altivo e nobre que diz ser seu, jamais nos devolvendo Olivença. Mas em terras oliventinas, sofridos dois séculos de brutal, persistente e insidiosa repressão castelhanizante (hoje, falar-se-ia de genocídio e crimes contra a Humanidade...), tudo o que estrutura e molda uma comunidade, a sua História, cultura, tradições, língua, permaneceu e permanece pleno de portugalidade! Separados do povo a que pertencem, da sua cultura, da sua língua, alienados da Pátria que é a sua, em austeros e silenciosos duzentos anos, os oliventinos preservam o espírito português e demonstram, pelo sentir da maior parte, não renunciar às suas raízes». In Grupo dos Amigos de Olivença.

Grupo Amigos de Olivenlça : http://www.olivenca.org/
Cortesia de wikipédia/JDACT