sábado, 19 de junho de 2010

Peter Drucker: Um filósofo e economista. «O que me interessa é o comportamento das pessoas», não do capital ou das mercadorias

(1909-2005)
Viena
http://www.austrianinformation.org/storage/images-april-06/drucker1.jpg
Peter Ferdinand Drucker, foi um filósofo e economista de origem austríaca, considerado como o pai da administração moderna, sendo o mais reconhecido dos pensadores do fenómeno dos efeitos da Globalização na economia em geral e em particular nas organizações, sub-entendendo-se a administração moderna como a ciência que trata sobre pessoas nas organizações, como dizia ele próprio.
Peter Drucker afirmava que a empresa que conseguir vender o produto/serviço certo, para o cliente certo, com a distribuição adequada, por um preço adequado e no momento oportuno, verá os esforços de venda reduzirem-se a quase zero, ou seja, a venda tornar-se-a automática em função da demanda ter sido correctamente equacionada e trabalhada. Presidente honorário da Drucker Foundation e professor de ciências sociais da Claremont Graduate University, Califórnia, EUA, escreveu muitos artigos e mais de 30 livros. O pensador produziu ao longo de sua carreira uma mistura única de rigor intelectual, popularização, practicidade e profundo conhecimento das tendências cruciais, como definiu Robert Heller, fundador e editor de uma das maiores revistas de negócios inglesas, a Management Today.
Pode afirmar-se que não há management theory (teoria da administração) que não parta da obra de Drucker. Entre os livros mais recentes figuram Desafios Gerenciais para o Século XXI, Administrando em Tempos de Grandes Mudanças e Sociedade Pós-Capitalista, todos publicados pela editora Pioneira, actualmente Thomson. Quinze anos depois de publicar Administrando para o Futuro, e doze depois de Administração em Tempos de Grandes Mudanças, no seu livro, Managing in the Next Society, Peter Drucker explorou as tarefas imprescindíveis da alta gerência nas primeiras décadas do século XXI.
Cortesia de oficinadegerencia
Ele partiu de uma minuciosa descrição do cenário de negócios mais provável, determinado pela análise das tendências actuais mais marcantes e de suas consequências mais lógicas, à luz de circunstâncias históricas esclarecedoras por suas semelhanças com as actuais.
«Já acreditei numa nova economia», dizia o mais reconhecido dos teóricos da administração. Drucker explicou que isso ocorreu em 1929, quando era estagiário nos escritórios europeus de uma grande empresa de Wall Street. Um economista europeu, estava convencido de que o boom de Wall Street duraria para sempre, e havia demonstrado de forma «conclusiva» num livro. Dois dias depois da publicação, ocorreu o crash da bolsa. Setenta anos mais tarde, em meados dos anos 90, Drucker voltaria a ouvir falar de um boom perpétuo do mercado accionista, dessa vez impulsionado pela nova economia. «Senti que já havia estado ali», escreveu em Management in the Next Society, elaborado quase na sua totalidade antes dos atentados de 11 de Setembro de 2001 (exceto dois capítulos).
Cortesia de qualitydigest
De suas principais ideias, uma das mais surpreendentes, é a previsão de que aumentará a mobilidade social, a partir do acesso à educação formal. Outra característica importante será a existência de duas forças de trabalho distintas à disposição dos empregadores: a das pessoas de menos e a de mais de 50 anos de idade. As empresas deverão remunerá-las também de modos diferentes: as primeiras necessitarão de renda constante e emprego estável; as segundas poderão cuidar dos trabalhos temporários.
Enfim, os pilares de uma empresa serão modificados:
  • O significado da produção é o conhecimento, que é propriedade dos trabalhadores do conhecimento e é facilmente transportável;
  • Há cada vez mais trabalhadores externos, temporários ou com dedicação parcial;
  • A concentração do negócio inteiro dentro da empresa não funciona mais, pois o conhecimento necessário para uma atividade é altamente especializado e sai muito caro contratar todos os funcionários que têm um dos conhecimentos necessários;
  • Agora o cliente possui a informação;
  • Restam poucas tecnologias únicas; as indústrias precisam dominar muitas tecnologias diferentes, com as quais nem sempre estão familiarizadas.
«Pode parecer paradoxal. Mas o homem a quem o capitalismo deste século mais deve em termos de eficácia do seu coração - a empresa -, sempre manifestou sérias reservas sobre ele, apesar de ser a favor do mercado. A sua procura, primeiro, de uma sociedade industrial em que o trabalho fosse encarado como um recurso de ouro (e não um custo a cortar sistematicamente) e o capital assumisse uma "responsabilidade pelo bem público", e mais tarde da sociedade do saber, são a prova disso mesmo. Foi este "moralismo social" permanente ao longo da obra de sessenta anos de Peter Drucker, que um jornalista sénior americano, Jack Beatty, 52 anos, editor da revista The Atlantic Monthly, agarrou e vai publicar em livro no princípio do próximo ano. Por oposição à mão invísivel do mercado, Drucker teve sempre subjacente uma "consciência invísivel" que o leva "a não se rever no sistema", disse-nos Beatty no seu escritório na sede da revista, nos antigos quarteirões portuários de Boston. "Ele é uma pessoa íntegra - ele próprio não vive segundo os valores do Senhor Dinheiro. Vendeu seis milhões de livros, mas habita numa vivenda tipicamente americana de subúrbio, confortável, mas simples, e dedica imenso tempo, gratuitamente, ao universo das organizações sem fins lucrativos", frisou-nos, salientando que este traço pessoal de Drucker o impressionou imenso.
Cortesia de janelanaweb
Porque Drucker não gostou de Dr. Management? Talvez tenha sido por isso que o título da obra de Beatty levou uma volta. Tinha sido pensado como Dr. Management, mas o próprio Drucker sugeriu que fosse mudado. Ele não quer ficar prisioneiro da gestão dos negócios - o que ele deu à luz, nos anos 40 e 50, foi um continente muito maior (ver entrevista a Drucker). Também nunca foi um académico. Por exemplo, nunca aceitou dar aulas na Harvard Business School. E, acima de tudo, ele é um "pintor de conceitos" sobre a sociedade, o que o leva mais longe do que a gestão. Assim, o título da obra de Beatty acabou em O Mundo segundo Peter Drucker (The World According to Peter Drucker), editado pela Free Press em Janeiro de 98 e que vai ser traduzido também em português pela Editora Civilização. Um resumo da obra pode ser consultado na Executive Digest de Fevereiro de 1998. Pela mesma altura, Drucker editará na John Wiley & Sons a continuação da sua saga autobiográfica Adventures of a Bystander (o primeiro volume) [traduzido em português pela Difusão Cultural], que neste segundo volume terá o pós-título Trailblazers, Rediscovering the Pioneers of Business (o segundo volume). Mas como não havia nenhum guia sobre a sua obra, Beatty devorou dezenas de livros e artigos de Drucker, desde os anos de juventude até à velhice. Ele tinha este projecto na ideia há anos - "Editei alguns dos ensaios dele aqui na Atlantic e ficou-me este bichinho. Queria colocar a sua obra no contexto. Não é bem uma biografia. é como se fosse uma pintura intelectual do homem", referiu-nos. E as pinceladas que sairam merecem ser lidas. Menos de 200 páginas que nos levam a visitar o percurso de Drucker, da infância na Áustria que o moldou como "incurável estudante para toda a vida e viciado na escrita", aos primeiros anos de "reformista" confesso do sistema até à maturidade de "um pragmático crítico", diz Beatty que o critica aqui e acolá de um ponto de vista mais à esquerda. Mas quem é o personagem? "Começemos por ver aquilo que ele não é", responde Beatty. Não é um economista. Percebeu isso, logo, aos vinte anos na Wall Street em Londres: "O que me interessa é o comportamento das pessoas", não do capital ou das mercadorias, disse ele numa ocasião. Mas não é um especialista em ciência política. Ele é "instintivamente hostil a visões a priori, sistemas filosóficos, ideologias políticas, salvações ou utopias", escreve Beatty, que lhe chama "um pós-político". Um profissional de tendências. Então, talvez se possa chamar-lhe um profissional de tendências. "O pensamento dele é um modelo de procura de padrões - ele identifica as constelações com significado, no fluxo caótico da informação. Ajuda-nos a navegar, como agora se diz. Faz-nos ver o que já lá está, mas permanecia invísivel para nós", explica o autor de O Mundo segundo Peter Drucker». In Jack Beatty, A Primeira Biografia de Peter Drucker, Jorge Nascimento Rodrigues.
Cortesia wikipédia/Jorge Nascimento Rodrigues/JDACT