(1830-1891)
Cacilhas
Cortesia de gutenberg
José Elias Garcia foi um professor da Escola do Exército, jornalista, político republicano e coronel de engenharia do Exército Português. Fundou em 1854 o periódico O Trabalho, a primeira publicação abertamente republicana em Portugal. Foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Foi eleito deputado deputado reformista a partir de 1870 e deputado republicano em 1890. Membro da Maçonaria desde 1853, foi grão-mestre do Grande Oriente Lusitano. Foi director da Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses.
O seu pai era chefe de uma das oficinas do Arsenal da Marinha, revolucionário constitucional, que foi cruelmente perseguido pelo partido absolutista, preso no Limoeiro e sentenciado à morte. Quando o exército libertador do duque da Terceira entrou em Almada, saiu «milagrosamente» da prisão, dirigiu-se àquela vila e combater pela liberdade. Em 1814 era major da Guarda Nacional, e tomou parte importante na sublevação promovida por José Estêvão Coelho de Magalhães no Batalhão do Arsenal.
José Elias Garcia, tornou-se também entusiasta do partido liberal como seu pai. Estudou nas Escolas Politécnica e do Exército, com destino à Engenharia militar, os quais terminou, recebendo prémios em diversas cadeiras. Assentou praça, como voluntário, no Regimento de Granadeiros da Rainha, em 31 de Agosto de 1853, foi promovido a alferes para Infantaria n.º 2, em 15 de Julho de 1856, atingindo a patente de coronel a 27 de Setembro de 1888. Estava fora do quadro da sua arma, por se achar em comissão, como director de estudos, tendo entrado para o corpo docente da Escola do Exército em 1857, onde foi lente proprietário da 6.ª cadeira, Mecânica Aplicada.
Pertenceu ao antigo conselho geral de instrução militar, foi vogado conselho de instrução naval, e vereador da câmara municipal de Lisboa, do pelouro de instrução pública, de que teve a presidência em 1878. Foi também presidente da junta departamental do sul, do Congresso das Associações Portuguesas, presidente da direcção da Associação dos Jornalistas e Escritores portugueses.
Cortesia de Palavras sobre o Jornalismo Constitucional, purl
Entrou na política, com tendências pronunciadamente democráticas, e em 1854 fundou o primeiro jornal republicano, intitulado O Trabalho. Em 1858 apareceu o Futuro, jornal fundado e sustentado por um grupo a que pertencia José Elias Garcia. Neste ano ainda não se tinha constituído o Partido Republicano; José Felix Henriques Nogueira e Lopes de Mendonça não tinham conseguido formar em torno de si um grupo de acção. O Futuro, mais tarde, em 1862, fundiu-se com a Discussão, tomando o nome de Política Liberal.
Em 1868 pertenceu ao célebre grupo do «pátio do Salema», donde saiu o Partido Reformista, que foi, por assim dizer, a guarda avançada do Partido Republicano. Em 1865 foi redactor principal do Jornal de Lisboa, que redigiu até ao último número. A 12 de Outubro de 1873 publicou-se o primeiro número da Democracia, jornal redigido por José Elias Garcia, inserindo um artigo editorial escrito por Latino Coelho, precedendo a exposição do programa republicano, que era o do jornal. Mais tarde, em 1876, organizou-se um centro republicano.
José Elias Garcia foi deputado pela primeira vez em Setembro de 1870, quando tinha ainda o seu nome ligado ao Partido Reformista, que, por ser então o mais liberal, era o que convinha aos homens que compunham a guarda avançada da democracia. Em 1881, depois da valente campanha do Tratado de Lourenço Marques (actual Maputo), em que ele tomou parte activa, comparecendo nos comícios particulares que se realizaram em Lisboa contra aquele tratado, e como protesto contra o governo regenerador que iniciara o período das perseguições, foi eleito pelo círculo 95, de Lisboa, para a legislatura que começou em 2 de Janeiro de 1882, e terminou pela dissolução de 24 de Maio de 1884. Tornou a ser deputado na legislatura de 15 de Dezembro do referido ano de 1884 até 7 de Janeiro de 1887, dia em que foi dissolvida a câmara. Também pertenceu à legislatura de 2 de Abril de 1887, dissolvendo-se a Câmara em 11 de Julho de 1889. Nas eleições que se seguiram, a lista republicana ficou derrotada.
Com a questão inglesa e os primeiros actos do despotismo do governo regenerador, o Partido Republicano novamente se animou, e apesar das simpatias gerais dos candidatos do governo, escolhidos entre os africanistas de maior popularidade, a lista republicana triunfou no dia 29 do Março de 1890, sendo Elias Garcia novamente eleito, juntamente com Latino Coelho e Manuel Arriaga. Durante o tempo em que foi vereador da Câmara Municipal, prestou muitos e importantes serviços; estabeleceu as escolas centrais, o ensino da ginástica, os batalhões escolares, o ensino do desenho de ornato, o canto coral das escolas e as bibliotecas populares.
A primeira junta escolar que funcionou foi por ele presidida. Pertenceu à Maçonaria 38 anos começando por aprendiz de maçon em 1853, dando entrada na Loja 5 de Novembro, sob o nome de Irmão Péricles. Ali subiu até rosa-cruz, sétimo grau do rito francês. Em Agosto de 1881, sendo feita a fusão das corporações maçónicas portuguesas sob o nome de Grande Oriente Lusitano Unido, filiou-se na loja Simpatia, sendo eleito Venerável. Mais tarde, em 1885, pela morte de António Augusto de Aguiar, foi eleito definitivamente Grão-Mestre. Nessa ocasião desempenhava também o lugar de presidente do conselho da Ordem. Foi uma verdadeira vitória para José Elias Garcia a sua eleição a Grão-Mestre da Maçonaria, porque se deu uma renhida luta, havendo nomes poderosos indicados para o referido cargo. Como Grão-Mestre da ordem era também presidente da Assembleia geral do Asilo de S. João.
Trabalhou com ardor pelo progresso da maçonaria e para que ela bem em público manifestasse que não havia motivo para prevenções que só cabem em espíritos pouco desenvolvidos, e assim viu coroados os seus esforços ao conseguir que ela publicamente manifestasse que não tinha outros fins que não fossem a defesa da pátria e da Liberdade e a prática do bem e da justiça. Quando se deu o caso de 11 de Janeiro de 1891, dirigiu-se como Grão-Mestre da Maçonaria, a todas as potências maçónicas do estrangeiro, relatando a verdade dos factos e o direito que nos assistia, e assim apareceram em muitos jornais estrangeiros artigos defendendo direitos da nação portuguesa.
A biografia deste prestimoso cidadão encheria volumes, se minuciosamente se narrassem todos os actos da sua vida pública, pondo bem em relevo a grandeza, a abnegação e a lealdade daquele irrepreensível carácter. Elias Garcia morreu pobre, porque sacrificou tudo quanto auferia pelos seus trabalhos, em proveito do seu partido, e para a sustentação da Democracia, jornal que ele fundara, e que lhe merecia a maior dedicação. A sua morte foi muito sentida. A imprensa unânime, de todas as cores políticas do país, consagram nas colunas dos seus jornais, indeléveis testemunhos de quanto apreciava e respeitava o carácter e merecimento de tão útil e benemérito cidadão, e lastimava a sua perda.
«O funeral foi imponentíssimo. Ali se viam incorporadas diversas associações as crianças do asilo de S. João, as escolas municipais com os respectivos professores, os alunos e o corpo docente da Escola do Exército representantes de todos os partidos políticos, da câmara municipal, da maçonaria portuguesa, bombeiros municipais, etc. Quatro anos depois em 21 de Abril de 1895, o Grande Oriente Lusitano mandou levantar um jazigo no cemitério Oriental, para onde foram trasladados os seus restos mortais. Também foi uma manifestação imponente. 0 monumento é simples, tem a forma de obelisco, foi delineado por Silvestre da Silva Matos. Está levantado em terreno concedido gratuitamente pela câmara municipal, que tomou o encargo da sua conservação e reparação. Começou a construir-se nos fins do ano de 1893, ficando concluído nos princípios de Abril de 1894. A base do monumento assenta em três degraus, em cujas faces se encontram: na anterior, em medalhão, o busto de Elias Garcia; em uma das laterais o emblema da ciência composto da esfera armilar e doutros instrumentos igualmente simbólicos; na outra a figura da Liberdade pairando sobre o globo, sustentando numa das mãos o facho do progresso, e na outra mostrando despedaçadas as cadeias da servidão; e na face posterior diversos emblemas maçónicos. Acima da base do obelisco eleva-se uma pirâmide medindo 4,20m de altura, tendo como remate uma bela estrela de cristal de 5 raios. Foi feita na Áustria por impossibilidade absoluta e comprovada de se fabricar em Portugal. A decoração dos quatro lados da coluna é composta de outros quadros em baixo relevo, desenhados e cinzelados por Silvestre Matos e seus operários. A lápide foi oferecida pelo industrial Moreira Rato, proprietário da fabrica de cimento de Alhandra. É um livro sobre o qual se vê um poema, e onde estão gravadas as letras ABC. Folhas de hera acompanham o livro, tendo a eles presa uma fita em forma de laço com a legenda: Instrução do povo». In Portugal, Dicionário Histórico, Manuel Amaral
Cortesia de livre-e-humano
No pp dia 8 de Maio, teve lugar, na Cova da Piedade, uma cerimónia de «homenagem à memória do saudoso democrata Elias Garcia, promovida pelo Centro Republicano que tem o seu nome. Foram exemplarmente sintetizadas as suas actividades, pelo jornal O Século, do seguinte modo: «Elias Garcia foi um dos mais ilustres membros do partido democrático, e na qualidade de vereador, durante largos anos, da Câmara de Lisboa, soube honrar sobremaneira o seu lugar, pela sua digna atitude, em favor das autonomias municipais, pela (…) criação das escolas municipais (…), pela instituição dos batalhões escolares, onde a mocidade completava a sua primeira instrução com exercícios militares, tornando-se de futuro apta, consciente e cívica, para saber defender o território pátrio, o que equivalia à defesa dos lares de todos nós. Ainda no desempenho do cargo de lente da Escola do Exército, ele pôs em evidência a sua inconfundível proficiência, e na cadeira de deputados às cortes, que foi em seguidas legislaturas, honrou bem o seu mandato, defendendo sempre as regalias populares e apresentando muitos projectos de lei, nos quais sempre se revelou o seu esclarecido espírito de patriota e de grande amigo da instrução pública». In O Século nº 10 199, 8 de Maio de 1910, p. 3, centenariorepublica
Elias Garcia morreu aos 60 anos de idade.
Cortesia de wikipédia/O Século/Dicionário Histórico, Manuel Amaral/JDACT