sexta-feira, 31 de março de 2017

31 com os Poetas. António Ferreira. «Pretidão de Amor, tão doce a figura, que a neve lhe jura que trocara a cor»


jdact



… tenho sono talvez porque toquei onde sinto o animal que abandonei e o sono é uma lembrança que encontrei…



«Aquela nunca vista formosura,

aquela viva graça e doce riso,

humilde gravidade e alto aviso,

mais divina que humana real brandura.



Aquela alma inocente e sábia e pura

que entre nós cá fazia um paraíso,

ante os olhos a trago e lá a diviso

no céu triunfar da morte e sepultura.



Pois por quem choro, triste? Por quem chamo

sobre esta pedra dura a meus gemidos,

que nem me pode ouvir nem me responde?



Meus suspiros nos céus sejam ouvidos;

e enquanto a clara vista se me esconde,

seu despojo amarei, amei e amo».

António Ferreira (1528-1569), Soneto



… tenho sono talvez porque toquei onde sinto o animal que abandonei e o sono é uma lembrança que encontrei…»



JDACT