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Festas bacanais. Argumento
«(…) Fazem concílio os bêbados de porte,
opõe-se aos Bagulhentos Pedro ingente;
favorece-os o Catigela forte,
no Lamarosa tem seu lava-dente.
De inveja Lieo lhes busca a morte,
descendo a Monte-mor contra esta gente,
que vê em rio Mourinho a acção traidora,
e a Peramanca chega venceora.
XI
Ouvi,
que não vereis com vãs façanhas
fantásticas,
fingidas, mentirosas,
louvar
os vossos, como nas estranhas
musas,
de engrandecer-se desejosas:
bebedices
dos vossos são tamanhas,
que
excedem as sonhadas fabulosas,
que
excedem ao primeiro vinhateiro,
e a
Baco inda que fora verdadeiro.
XII
Por
estes vos darei um Claudio fero,
que
fez a Peramanca tal serviço,
um
fulano Coutinho, que de mero
b
borracha para ele só cobiço.
Pois
pelos doze Pares dar-vos quero
uns
doze que sobre um pobre chouriço
entornaram
tão rijo que de cama
um
monte lhes serviu de esterco e lama.
XIII
E se
a troco de Nun'alvres e Barbança
ou
do Luna quereis igual memória,
vede
primeiro a Pedro, cuja lança
no
beber escurece qualquer glória;
e
aquele que do enxame a segurança
no
copo só quis ter, por ter vitória;
aquele
Diogo, invicto cavaleiro,
que
em quatro não é quarto, mas primeiro.
XIV
Nem
deixarão meus versos esquecidos
aqueles
que na sede gastadora
se
fizeram no copo tão subidos,
de
Lieo a bandeira vencedora:
um
Daniel fortíssimo e os temidos
lacaios,
por quem sei que sempre chora
da
Chamusca e Louredo o vinho forte,
e
outros a quem Tétis causa a morte.
XV
Em
quanto a estes canto, e a vós não posso,
bom
Fernando, que não me atrevo a tanto,
essa
mão alargai ao vinho vosso,
dareis
matéria a nunca ouvido canto.
os que em vê-la somente tem espanto,
que em pagodes, merendas e jantares
empinar querem só de Baco os mares.
XVI
Em
vós os olhos tem o Mouro frio,
frio,
que usar de vós lhe não é dado;
pelo
contrário o bárbaro gentio
com
desejo de ver-vos 'stá squentado;
Peramanca
o vermelho senhorio
vos
tem s'enviuvais aparelhado;
que
pois em dar seus bens sois brando e tenro,
deseja
de comprar-vos para genro».
[…]
In Décio Carneiro, Paródia ao Primeiro
Canto dos Lusíadas de Camões, Quatro Estudantes de Évora, 1589, 1880, autoria
anónima, Projecto Livro Livre, livro 660, 2015, Poeteiro Editor Digital, Iba
Mendes.
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