Cortesia
de wikipedia e jdact
O
Mar. Fenda de Galápagos. 0,30º S, 90,30º W
«(…)
Meu Deus! Situação?, perguntou Helen. Steve, qual é a sua situação? Ele estava
hiperventilando, coração disparado, em pânico. O casco. Terei danificado o
casco? Junto ao ruído áspero de sua própria respiração, esperou pelo som do
metal cedendo, pela explosão fatal. Ele estava a mais de mil metros abaixo da
superfície, e mais de cem atmosferas de pressão o comprimiam como um punho
fechado. Uma fenda no casco, uma explosão de água, e ele seria esmagado. Steve,
fale comigo! Suando frio, ele finalmente conseguiu responder. Eu assustei-me...,
colidi com a parede do desfiladeiro... Algum dano? Ele olhou para fora da cúpula.
Não dá para ver. Acho que bati com o sonar de proa. Ainda consegue manobrar? Ele
experimentou os controles, virando o aparelho para bombordo. Sim. Sim. Ele
suspirou aliviado. Acho que estou bem. Algo passou bem perto da cúpula. Fiquei
assustado. Algo? Passou com muita rapidez, como uma cobra. Um animal com cabeça
de peixe e corpo de enguia? Sim. Sim, foi isso o que vi.
Então
é um zoarcídeo. Thermarces cerberus. Cérbero, pensou Ahearn. E
sentiu um calafrio. O cão de três cabeças que guarda os portões do Inferno. Ele
é atraído pelo calor e pelo enxofre, disse Helen. Vai ver mais deles ao se
aproximar da chaminé. Se está dizendo… Ahearn não sabia quase nada de biologia
marinha. As criaturas que agora passavam diante da cúpula de acrílico eram
meras curiosidades para ele, placas vivas indicando o caminho. Usando ambas as
mãos, ele manobrou o Deep Flight IV para descer mais profundamente no
abismo. Dois mil metros. Três mil. E se ele tivesse danificado o casco? Quatro
mil metros. A pressão sufocante da água aumentava linearmente à medida que ele
descia. A água tornava-se ainda mais escura, colorida pela fumaça sulfurosa que
emanava da chaminé mais abaixo. As luzes das asas mal penetravam aquela densa
suspensão de partículas minerais. Cego pelos sedimentos, saiu daquelas águas
tintas de enxofre, o que melhorou um pouco a visibilidade. Descia um dos lados
da chaminé hidrotermal, afastando-se das águas aquecidas pelo magma, embora a temperatura
externa continuasse a subir. Quarenta e nove graus centígrados. Outro vulto
passou diante de seu campo de visão. Desta vez, conseguiu manter o controle.
Viu mais zoarcídeos que pareciam cobras gordas penduradas de cabeça para baixo,
como se suspensas no espaço. A água que saía da chaminé lá em baixo era rica em
sulfato de hidrogénio aquecido, uma substância tóxica e insalubre. Mas, mesmo
naquelas águas escuras e venenosas, a vida conseguia florescer em belas e
fantásticas formas. Grudados às paredes do desfiladeiro, estavam vermes
cilíndricos gigantes com quase 2 metros de comprimento, oscilando os seus adornos
de plumas escarlate. Viu aglomerados de mexilhões gigantes com cascas brancas e
línguas vermelhas e aveludadas esticadas para fora. Também viu caranguejos, assustadoramente
pálidos e fantasmagóricos, vagando entre as fendas. Mesmo com o ar-condicionado
a funcionar, ele começava a sentir o calor.
Seis
mil metros. Temperatura da água a 82 graus. No meio da chaminé, a temperatura devia
passar de 260 graus. O facto de haver vida em plena escuridão e em águas
venenosas e superaquecidas como aquelas parecia um milagre. Estou a 6.060,
disse ele. Não vejo o que procuramos. No auscultador de ouvido, a voz de Helen
soava fraca, repleta de interferências. Há uma saliência na parede. Vê-la-á por
volta dos 6.080 metros. Estou procurando». In Tess Gerritsen, Gravidade, 1999, tradução
de Alexandre Raposo, Editora Record, 2009 / 2012, ISBN 978-850-108-343-2.
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