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As
ordens militares e as instituiçoes religiosas
«(…)
No início do século XIII, os freires de Évora-Avis são proprietários de várias
herdades na Azoia (na proximidade do Gualdim) que lhes foram doadas e vendidas
pela família de Pero Sangalho. Nessa época, uma bula do papa Inocêncio II. datada
de 1214, confirmava os bens da ordem de Calatrava-Avis, mencionando
expressamente a posse das casas de Santarénr, bem como da herdade régia
charnada Horta da Lagoa, junto de Monte de Trigo, nos campos da margem direita
do Tejo. A ordem de Santiago ou de Uclés foi, tanto quanto sabemos, a terceira
instituiçào religioso-militar a dar entrada em Santarém. Data de 1193 este
facto, consoante se viu pela doação que lhe fez o rei Sancho I de casas e torre
na Alcáçova, de uma herdade na Lagoa Negra, uma almuinha na Assacaia, vinhas à
Ponte de Alcoça, de um forno e de um moinho. Em 1241, em composição realizada
com o mestre de Avis, o comendador de Santiago recebeu a granja de Horta Lagoa
que pertencera aos freires de Avis. Há notícias de que os de Santiago possuíam,
no século XIII. herdades além do Tejo, junto de Alpiarça. Parece
relativamente tardia a entrada da ordem do Hospital, embora o texto do foral de
1179 preveja a presença de Hospitalários na vila e um documento de 1180 registe
o nome de uma testemunha com o determinativo do Hospital.
Já
vai adiantado o século XIII quando nos apercebemos da presença desta ordem em
Santarém. associada à igreja de S. João de Alpram (Alporão, na designação
moderna). A instalação da nova ordem em Santarém suscitou rivalidades com a igreja-mãe
do Alpram: S. Martinho de Alpram. Ocorre um diferendo entre o reitor e clérigos
desta igreja, por um lado, e os Hospitalários, por outro. S. Martinho exigia o
pagamento das dízimas de todas as propriedades que os freires de S. João
tivessem no terrno. Em 1260, chegaram a um acordo amigável, sob o arbítrio do
bispo de Coimbra, don Egas. O reitor de S. Martinho renunciava às dízimas de
todos os banhos, tendas, alcaçarias, lagares de vinho e azelte. e às dízimas
que pagavam os mancebos do gado do Hospital. Receberia metade das dízimas das
herdades que S. João tinha no Bairro Novo e Assentiz e nas granjas de Tremês,
da Rorneira e Ventosa. Todavia, se estas últimas fossem exploradas directamente
pelos Hospitalários, não pagariam dízima, mas pagariam dízimas inteiras pelas
propriedades que adquirissem depois.
A
igreja de S. João do Hospital de Santarém recebe em 1269 uma courela de herdade
em Trava (Alpiarça) e uma vinha na Ómnia que lhe deixou em testamento Maria Mendes,
filha de Mendo Gonçalves e Maior Joanes, para sustento de uma capela na igreja
de S. João, o'nde havia de ser sepultada. A aliança entre a classe militar e
religiosa no comando das operações de conquista redundou, como é óbvio, numa
dupla vantagem para ambas, possibilitando a capitalização em terras por parte
dos institutos religiosos. Em Santarém, o instituto que ventagens mais directas
tirou a Reconquista parece ter sido a colegiada de Santa Maria da Alcáçova que,
desde a fundação, foi acumulando bens de raiz situados no termo da vila e que,
em 1190. no tempo do prior Pedro Joanes, foram divididos entre os clérigos e o
prior. Ao prior coube a Azoia toda livre (Azoyam totam liberam) e Rio
Maior. Aos clérigos, a herdade de Alcoentre, o Calhariz e vinhas em Alvisquer.
Algumas destas propriedades tinham sido deixadas à Igreja por legados pios, mas
outras foram obtidas por um processo sui generis que podemos considerar
típico desta época. Esse processo foi a presúria, forma secular usada na
reconquista cristã, destinada a integrar regiões, se não totalmente
despovoadas, pelo menos abandonadas pelos chefes e com uma população rarefeita
pela devastação dos fossados e algaras». In Maria Ângela V. Rocha Beirante, Santarém
Medieval, Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
(35813), 1ª edição em Português, Dezembro de 1980.
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