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A
Ideia ao Infinito
SONETOS
«Ao
estrídulo solene dos bravos!, das plateias,
prossegues
altaneira, oh!, ídolo da arte!...O sol pára o curso p'ra bem de admirar-te,
o sol, o grande sol, o misto das ideias!...
A velha
natureza escreve-te odisseias...
A
estrela, a nívea concha, o arbusto..., em toda a parteretumba a doce orquestra que ousa proclamar-te
assombro do ideal, em duplas melopeias!
Perpassam
vagos sons na harpa do mistério
lá,
quando no proscénio te ergues imperandooh! Íbis magistral do mundo azul, sidéreo!
Então
da imensidade, audaz vem reboando
de
palmas o tufão, veloz, febril, aéreoque cai dentro das almas e as vai arrebatando!...»
«Dizem
que a arte é a clamide de ideia
a
peregrina irradiação celeste,e d’isso a prova singular já deste
sorvendo d’ela a divinal sabeia!
Da
Georgeta na feliz estreia,
asseverar-nos
ainda mais viesteque és um génio, que te vais de preste
tornando o assombro de qualquer plateia!...
Sinto
uns transportes fervorosos, ledos
quando
nas cenas de subtis enredosfulgem-te os olhos co’a expressão dos astros!...
E as
turbas mudas, impassíveis, calmas
sentem
mil mundos lhes crescer nas almas...Vão-te seguindo os luminosos rastros!...»
«Um
dia Guttemberg c'o a alma aos céus suspensa,
pegou
do escopro ingente e pôs-se a trabalhar!E fez do velho mundo um rútilo alcançar
ao mágico clangor de sua ideia imensa!
Rolou
por todo o globo a luz da sacra imprensa!
Ruiu
o despotismo no pó, a esbravejar...Uniram-se n'um lago, o céu, a terra, o mar...
Rasgou-se o manto atroz da horrível treva densa!...
Ergueram-se
mil povos ao som das melopeias,
das
grandes cavatinas olímpicas da arte!Raiou o novo sol das fúlgidas ideias!...
Porém,
quem lança luz maior por toda a parte
és
tu, sublime actriz, ó misto de epopeiasque sabes no tablado subir, endeusar-te!...»
In A
Poesia Interminável de Cruz Sousa
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