jdact
e wikipedia
«Portugal,
o mais precoce dos estados europeus, nasceu da mutação de um feudo em reino no
processo da reconquista ibérica. A preocupação desta obra é demonstrar não só a
participação dos viri religiosi
na formação de Portugal, já que este elemento tem sido ignorado pela
historiografia, como também identificar as relações entre a Igreja e o nascente
Estado Português. Lembramos que a tarefa do historiador não se restringe apenas
à revelação de factos inéditos à luz de novas descobertas documentais.
Compete-lhe, também, revelar relações ainda desconhecidas entre acontecimentos
sobejamente provados, mas não relacionados entre si. Destarte, historiadores contemporâneos
portugueses não têm manifestado o menor interesse em esclarecer as raízes da
nacionalidade lusitana. No dizer de Armando Castro inexiste, também, uma
leitura teórico-sistemática do processo histórico português e uma correcta compreensão
do passado colectivo. Contudo, alguns trabalhos têm procurado anunciar algumas posições
históricas a respeito da nacionalidade portuguesa.
Alexandre
Herculano,
afirma que o reino de Portugal decorreu de mudanças na região da Galiza e no arrebatamento
aos sarracenos de domínios desprovidos de unidade racial, linguística e
geográfica, a nação constitui uma realidade histórica sem elementos de coesão
(económica, cultural e ideológica). Oliveira Martins, diz que Portugal é
uma nação mas não uma nacionalidade, já que a sua formação não obedece às
ordens da geografia, inexiste unidade racial e o alargamento dos domínios
decorre da ação dos Barões ignorantes de teorias e sistemas. Jaime Cortesão,
ressalta a influência dos factores geográficos na formação da nação portuguesa
como estimulantes do comércio marítimo. António Sérgio, destaca o papel
dos não espanhóis (comerciantes dos portos e cruzados) na luta pela autonomia
da região portuguesa contra a incorporação política com Castela, onde o
comércio do Norte da Europa se podia encontrar com o mediterrâneo. Damião
Peres, vê a formação de Portugal ligada à acção dos príncipes, alto clero e
barões. Joel Serrão, busca no desenvolvimento da geografia e na
integração dos aspectos naturais e histórico-sociais os elementos
esclarecedores da formação de Portugal
Ao
retomarmos algumas destas posições, visualizamos nesta primeira fase da
formação de Portugal, compreender as condições históricas que proporcionaram a
participação dos viri religiosi
na modulagem simultânea da nacionalidade e do estado, onde a organização
política existente permitiu a duradoura luta contra os muçulmanos e contra as
forças centrípetas de Leão e de Castela. Não está em definição, neste momento,
o estado português como instrumento de domínio da classe privilegiada sobre as
demais no processo de diferenciação social.
A
cristianização da Península Ibérica foi conduzida pelos viri religiosi em pleno
drama da reconquista.
O forte sentimento religioso dominante na sociedade europeia actua no
equacionamento das relações de poder, na medida em que se desenvolvem novas
forças sociais e um antagonismo crescente. Portugal se destaca por uma rápida
evolução, já que os grupos monásticos exercem importante papel na formação e
definição do estado lusitano. Durante o período belicoso de Afonso VI,
Portugal, originário da tenência do conde Henrique e fruto da acção humana,
firmou a sua unidade político-económica ao conquistar a autonomia política juntamente
com a Sé de Braga, que buscava a autonomia religiosa. A conversão dos não
cristãos da Península Ibérica e a acção contra o infiel mouro competem aos viri religiosi que, ao
estabelecerem seus quartéis de conversão, recebem doações e privilégios dos
soberanos ocidentais.
Em
meados do século X observa-se, no norte de Portugal, o reagrupamento das
comunidades em torno de uma igreja e com certa hierarquia, onde ao lado de um
chefe destaca-se a figura do padre. A comunidade organizada, agora centro de
vida religiosa, em que os leigos definem-se por filii ecclesiae, tem nas actividades agrárias quotidianas as
suas práticas solidárias e dotações de bens necessários à igreja e aos
clérigos. Um aspecto interessante deste processo de reorganização comunitária é
que ao lado da fixação dos leigos surge a vila dos mortos (cemitérios). Pierre
David, trouxe um importante dado ao comentar o povoamento da região entre o Tejo
e Minho, o culto de santos, anterior à invasão muçulmana». In Sidinei Galli, A Cruz, a
Espada e a Sociedade Medieval Portuguesa, edição do Autor, História, volume 28,
Universidade Aberta, Editora Arte e Ciência, Biblioteca da FCL, 1997.
Cortesia da
UAberta/JDACT