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de wikipedia e jdact
«Um
simples olhar, sobre um qualquer mapa que represente a península de Setúbal,
facilmente fixa a fractura definida pelo traçado do esteiro que conduz a
ribeira de Coina até ao Tejo. Com efeito, ficam assim compartimentados
distintos territórios, ainda que sejam tradicionalmente integrados na mesma
província. É na porção ocidental da península de Setúbal que descortinamos, de
forma mais evidente, os factores naturais comuns à Estremadura: contrastes
orográficos, mais amenos no caso de Almada, onde prevalecem terras baixas,
atravessadas por colinas suaves; contrastes mais tensos e violentos, na faixa
meridional, marcados por uma irrupção montanhosa excepcional, a Arrábida, que
sucede à depressão da zona central da península; depois, largas manchas
arenosas preenchidas por pinhais a perder de vista; finalmente, um clima
atlântico matizado por influências mediterrâneas.
À
componente geográfica sobrevinha o critério histórico: o espaço em causa
coincidia, sensivelmente com os medievos concelhos de Almada, que então
englobava o território hoje afecto ao município do Seixal, Sesimbra, que
compreendia o chamado país de Azeitão e, confrontando com estes, o
enclave de Coina, que contornava a confluência da ribeira homónima com um
profundo esteiro do Tejo. A definição destas unidades administrativas
estruturou-se, como ocorreu na generalidade do território português, no
contexto da conquista cristã. Embora não disponhamos de testemunhos escritos,
alguns vestígios arqueológicos, reforçados por uma toponímia relativamente
profusa, sugerem uma efectiva presença muçulmana em Sesimbra, em Azeitão, na
encosta meridional da serra da Arrábida, junto aos esteiros do Tejo e, mais
intensamente, nos arredores de Almada, com prolongamento até à Trafaria.
O
processo de colonização do território, na sequência da conquista cristã,
permanece nebuloso. A entrega de Almada a ingleses, como recompensa da sua
participação na tomada de Lisboa, em 1147, não passará de uma fantasia e a
doação de Sesimbra a flamengos não teve qualquer eficácia prática. O laconismo
das fontes escritas terá a sua explicação. Depressa este eixo de avanço cristão,
outro articulava Santarém e Évora, se orientou em direcção a Palmela e a
Alcácer do Sal, marginalizando a face ocidental da Península de Setúbal. Escassos
indícios apontam para uma apropriação do espaço por parte de membros das elites
urbanas lisboetas: magistrados municipais, membros do cabido, mercadores
abastados, oficiais régios. Contudo, uma parte significativa da terra terá
permanecido ou caído nas mãos de elementos populares menos prestigiados,
conforme se infere do peso da propriedade alodial.
As
gentes procuraram, naturalmente, as terras mais produtivas e acessíveis, mas
com diversas condicionantes e particularismos. Contudo, enquanto nos arredores
de Almada a fragmentação da propriedade e, até, alguma
irregularidade orográfica, se conjugaram com uma forte dispersão, no país de
Azeitão as diversas quintas remeteram os camponeses para pequenas
aldeias que se distribuíram pela estrada que percorria o sopé da Pré-Arrábida.
Já nos terrenos arenosos, que se estendiam da Azóia até Alfarim, então
aproveitados preferencialmente para o cereal, dominava um povoamento
intercalar, com pequenos núcleos, quase sempre coincidentes com as cabeças dos
casais que preenchiam a zona. Como centros urbanos, pese a sua modesta
dimensão, podemos classificar as vilas de Almada, Coina e Sesimbra, esta com
uma dupla existência. Na sua origem confinada ao recinto amuralhado do castelo,
foi literalmente substituída pelo povoado ribeirinho, em finais do século XV». In José Augusto
Oliveira, Na Península de Setúbal, em finais da Idade Média: organização do
espaço, aproveitamento dos recursos e exercício do poder, Dissertação de
Doutoramento em História Medieval, apresentada à Faculdade de Ciências Sociais
e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Centro de Estudos Históricos, FCSH-UNL, 2008, Revista Medievalista, Ano
5, Nº 6, Julho de 2009, ISSN 1646-740X.
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