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A
paixão e a demanda de Ísis
Esposa
perfeita, mãe exemplar, Ísis tornou-se também no garante da transmissão do
poder régio, aliás, o seu nome significa o trono. Percebe-se que, segundo
o pensamento simbólico egípcio, é o trono, ou, por outras palavras, a Grande Mãe, a rainha Ísis,
que gera o faraó.
Ísis, maga e
sábia
Ísis é a mulher-serpente que se
transforma em uraeus,
a naja fêmea que se ergue na fronte do rei para destruir os inimigos da
Luz; uma desastrosa evolução e o desconhecimento do símbolo primitivo tornaram
a boa deusa-serpente no réptil tentador do Génesis que causa a perdição do primeiro casal, Ísis e
Osíris, pelo contrário, afirmam a vivência de um conhecimento luminoso graças
ao amor e ao que está para além da morte. Sob a forma da estrela Sótis, Ísis
anuncia e desencadeia as cheias do Nilo; debruçada em choro sobre o corpo de
Osíris, faz subir as águas benfazejas que depositam a vaza nas margens e
asseguram a prosperidade do país, aliás, a cabeleira de Ísis não forma os tufos
de papiros emergindo do rio? Esta magia cósmica de Ísis nasce da sua capacidade
para conhecer os mistérios do universo e, entre eles, o nome secreto de Ra,
encarnação da Luz divina. É certo que o coração de Ísis era mais hábil do que o
dos bem-aventurados e que era conhecida dos céus e da Terra, ignorando apenas o
famoso nome secreto de Ra, que este não confiara a ninguém, nem mesmo às outras
divindades, Ísis lançou-se ao assalto do bastião: apanhou um escarro de Ra,
amassou-o com terra e formou uma serpente. Escondeu o réptil sagrado num
arbusto que ficava no caminho do deus e, quando este passou, o réptil mordeu-o.
O coração de Ra ardeu e, depois de tremer, os seus membros arrefeceram. Embora
fora do alcance da morte, o veneno causou-lhe grande sofrimento e ninguém
conseguiu curá- lo. Ísis decidiu intervir e restituir- lhe a saúde, contanto
que Ra lhe confiasse o seu nome secreto. O divino Sol tentou enganá-la confiando-
lhe vários nomes mas nunca mencionando o nome correcto. Intuitiva, Ísis não se deixou
enganar e Ra, exausto, foi obrigado a revelar-lhe o seu verdadeiro nome. Ísis curou-o
e guardou o segredo para sempre.
Os lugares de Ísis
Cada
uma das partes do corpo de Osíris deu origem a uma província, e assim todo o
Egipto foi assimilado ao seu ressuscitado esposo, animando a totalidade do
país. Ísis sentia-se, pois, em toda a parte como na sua própria casa. No
entanto, quando percorremos o Egipto, descobrimos três lugares particularmente
ligados a Ísis, de Norte para Sul: Behbeit el-Hagar, Dendera e Filas. Behbeit
el-Hagar, no Delta, é um local desconhecido dos turistas. Uma vez saídos de um dédalo
de ruelas, sofremos uma viva decepção quando chegamos lá: o que resta do grande
templo de Ísis, além de um monte de enormes blocos de granito ornados de cenas
rituais? Ísis foi venerada aqui, mas o seu templo foi destruído e utilizado
como pedreira, sem nenhum respeito pelo seu carácter sagrado. É impossível
deixar de pensar na época em que ali se erguia um santuário colossal dedicado à
senhora dos céus. O nascimento de Ísis é situado simbolicamente em Dendera, no
Alto Egipto. O santuário da deusa Hator está parcialmente conservado, mas o
templo coberto e o mammisi
(templo do nascimento de Hórus) existem ainda, bem como um pequeno santuário
onde, segundo os textos, a bela Ísis veio ao mundo com uma pele rosada e uma
cabeleira negra. Foi a deusa dos céus que lhe deu vida, enquanto Amon, o
princípio oculto, e Chu, o ar luminoso, lhe concediam o sopro vital. Na
fronteira meridional do Antigo Egipto reina Filas, a ilha-templo de Ísis; aqui
viveu a derradeira comunidade iniciática egípcia, aniquilada por cristãos
fanáticos. Ameaçados de destruição pela inundação do alto dique, a
grande barragem de Assuão, os templos de Filas foram desmontados pedra por
pedra e reconstruídos numa pequena ilha vizinha. A pérola do Egipto foi
assim salva das águas. A visão deste lugar constitui uma experiência inesquecível».
In
Christian Jacq, As Egípcias, Edições ASA, 2002, ISBN-978-972-413-062-0.
Cortesia de EASA/JDACT