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de wikipedia e jdact
O assento
perigoso. Galaaz acaba a aventura da pedra. Torneio em Camalote
«(…)
O cavaleiro de quem Merlim e todos
os profetas falaram. O rei, assim que viu no assento perigoso
o cavaleiro de quem Merlim e todos os profetas falaram na Grã-Bretanha, então
bem soube que aquele era o cavaleiro por quem seriam acabadas as aventuras do
reino de Logres, e ficou com ele tão alegre e tão feliz, que bendisse a Deus: Deus,
bendito sejas tu que te aprouve de tanto viver eu que, em minha casa, visse
aquele de quem todos os profetas desta terra e das outras profetizaram, tão
longo tempo há já. Agora falta, disse ele, da távola redonda, dom Tristão, e
nenhum outro. Mas maldita seja a beleza de Isolda, porque o assim temos perdido,
porque se ela não fosse, não deixaria ele, de modo algum, de vir a esta festa
tão grande.
Como um donzel deu novas à rainha de Galaaz. Assim falava o
rei de Tristão, com muito grande pesar de que não vinha à corte; mas os outros
não tinham disso pesar, antes estavam muito alegres, porque o assento perigoso
estava acabado, e honravam e serviam Galaaz quanto podiam, que não podiam mais,
porque bem sabiam que este havia de dar cabo às maravilhosas aventuras do reino
de Logres; mas sobre todos estava Lancelote mais alegre, porque bem via que, se
Galaaz vivesse, passaria em bondade e em cavalaria todos os do reino de Logres.
Estas novas foram de uma parte e da outra, de modo que chegaram à rainha,
porque um donzel lhe disse: Senhora, maravilha grande aconteceu agora no paço. E
que maravilhas são?, disse a rainha, dizei-no-las. Senhora, disse ele, o
assento perigoso está ocupado. Um cavaleiro senta nele. Sim?, disse ela. Por
Deus, formosa aventura Deus deu. Porque de muitos que já sentaram, nunca um houve
que não morresse. E de que idade pode ser?, disse a rainha. Senhora, disse ele,
de dezoito anos. E ela maravilhou-se das maravilhas que a respeito ouviu;
depois disse: maravilha pode daí advir e nada eu nunca soube. E sabes de qual
linhagem é? E o donzel disse que não, apenas que dizem todos que parece ser da
linhagem de rei Bam, mais que de outra. E ela começou a pensar e logo cuidou em
seu coração que era filho de Lancelote, porque lhe dissera Heitor que era já
Galaaz moço feito e logo seria cavaleiro; e disse a rainha ao cavaleiro: donzel,
sabes como tem nome? Senhora, disse ele, tem nome Galaaz. E ela, quando ouviu o
nome, logo soube com certeza que era filho de Lancelote, porque tempo havia que
ela sabia como tinha nome. Então disse para as mulheres que com ela estavam: estai
certas, se ele é o bom cavaleiro, não me maravilho muito, porque de todas as
partes vêm bons cavaleiros, que não pode errar que não seja melhor do que outro
cavaleiro. Senhora, disseram elas, quem é bom sobre todos? Vós o sabereis,
disse ela, mas não por mim.
Como Galaaz acabou a aventura da pedra. Aquele dia foi
grande a alegria entre eles. E o rei mandou que lhes dessem de comer. Tão logo
comeram, perguntou o rei a quantos estavam no paço: que vos parece do que nos
aconteceu? Porque a mim tal hora foi, antes que chegasse Galaaz, que não pude
falar. E todos disseram que bem assim acontecera a eles. Por Deus!, disse o
rei, grande maravilha foi esta. E podeis entender por que foi? Não, disseram
eles. Por Deus, disse ele, muito me pesa. Grande foi a alegria e o prazer que
todos tiveram. E o rei se ergueu da mesa e foi à mesa onde sentava Galaaz, e
viu lá seu nome escrito, e ficou muito alegre e disse a Galvão: sobrinho, agora
podeis ver Galaaz, o muito bom cavaleiro sobejo, que tanto esperamos e tanto desejamos
ver. E os da távola redonda falavam mais amiúde do que todos os outros. E
diziam: pois no-lo Deus trouxe, sirvamo-lo e honremo-lo enquanto estiver entre
nós, porque não viverá muito connosco por causa da demanda do santo Graal que
começará logo. Assim Deus me ajude, disse Galvão, bem o devemos servir, porque
Deus no-lo enviou por nos livrar a terra das grandes maravilhas e das estranhas
aventuras que tão amiúde acontecem e desde tão longo tempo. Então veio o rei a
Galaaz e disse-lhe: Senhor, sede bem-vindo, porque muito tempo há que vos
desejei ver; e graças a Deus e a vós, quisestes aqui vir. Senhor, disse ele,
vim aqui, porque me convinha, porque daqui hão-de partir agora todos aqueles
que à demanda do santo Graal queiram ir e bem sei que logo será começada. Senhor,
disse o rei, vossa vinda nos é mui mister por muitas aventuras maravilhosas a
que não podemos dar cabo. E vo-lo digo por uma que nos hoje aconteceu; ide-a
ver, se vos aprouver. E Galaaz disse que iria de muito bom grado. Então o pegou
o rei pela mão e levou-o à margem do rio, onde a pedra estava. E os do paço
foram todos com ele, para verem o que poderia ser. E quando a rainha viu que o
rei levava Galaaz pela mão à pedra, saiu ela com grande companhia de donas e
donzelas. E o rei disse a Galaaz: quereis sacar esta espada desta pedra? Pois a
não quer ninguém provar de quantos aqui estão, porque dizem que a aventura não
é deles. Provai-a, se vos aprouver, porque se o não provais, não acharemos cavaleiro
que o prove. Então pegou Galaaz a espada pelo punho e puxou-a tão facilmente,
como se não estivesse presa a nada. E depois, pegou a bainha e meteu-a dentro e
cingiu-a logo, e disse ao rei: Senhor, agora tenho já a espada, mas o escudo
não tenho. Amigo, disse o rei, pois Deus e a ventura vos a espada deu, não
tardará muito o escudo». In Manuscrito do Século XII, Heitor Magale,
A Demanda do Santo Graal, TA Queiroz, Editora da Universidade de S. Paulo,
1988, CDD 398 46, 1989, ISBN 858-500-874-1.
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