terça-feira, 23 de abril de 2019

A Cidade Perdida. James Rollins. «Pela ausência de desenvolvimento adicional, Thomas soube quem trataria do assunto. Desenhou um símbolo grego na margem do jornal. O caminho será preparado…»

Cortesia de wikipedia e jdact

The British Museum. Londres. 14 de Novembro
«(…) As mãos tremiam-lhe. Teve de agarrar uma com a outra para afastar um novo ataque. Só queria rastejar para dentro da cama e puxar a colcha sobre a cabeça. Billie fitava-a, os olhos a reflectir a luz do candeeiro. Eu fico bem. Está tudo bem, disse Safia em voz baixa, mais para si própria do que para o gato. Nenhum dos dois se convenceu.

02h13, GMT (21h13, EST)
Fort Meade, Maryland
Thomas Hardey detestava ser incomodado quando estava compenetrado na resolução das palavras cruzadas do New York Times. Era o seu ritual de domingo à noite, que incluía igualmente um agradável copo de scotch de quarenta anos e um bom charuto. O fogo crepitava na lareira. Recostou-se na sua poltrona de couro e fitou o puzzle meio preenchido, forçando a ponta da sua esferográfica Montblanc. Franziu uma sobrancelha face ao 19 vertical, uma palavra de cinco letras. Dezanove. A soma de todos os homens. Enquanto ponderava sobre a resposta, o telefone soou na sua secretária. Suspirou e subiu os óculos de leitura da ponta do nariz até a testa. Provavelmente era apenas um dos amigos da filha a contar como correra o encontro do fim-de-semana. Quando se inclinou para diante, viu que a linha número cinco estava a piscar, a sua linha pessoal. Apenas três pessoas tinham esse número: o presidente, o director da Joint Chiefs e o segundo-comandante na hierarquia da National Security Agency.
Pousou o jornal dobrado no colo e premiu o botão vermelho da linha. Com esse simples toque, um código algorítmico variável tornava ininteligível qualquer comunicação. Levantou o auscultador. Aqui, Hardey. Senhor director. Endireitou-se, cauteloso. Não reconhecia a voz do outro. E ele conhecia a voz das três pessoas que tinham o seu número privado tão bem como a sua própria família. Quem fala? Tony Rector. Peço desculpa por incomodá-lo a estas horas. Thomas percorreu a sua Rolodex mental. Vice-almirante Anthony Rector. Ele ligou o nome a cinco letras: DARPA (Defense Advanced Research Projets Agency). O departamento fiscalizava o braço de investigação e desenvolvimento do Departamento de Defesa. Tinha um lema: ser o primeiro. No que tocava aos avanços tecnológicos, os Estados Unidos não podiam chegar em segundo lugar. Nunca. Uma formigante sensação de temor começou a desenhar-se. Em que posso ajudá-lo, senhor almirante? Deu-se uma explosão no British Museum em Londres. E procedeu à explicação da situação em grande pormenor. Thomas verificou o relógio. Tinham-se passado menos de trinta minutos desde a explosão. Ele estava impressionado com a capacidade da organização de Rector em reunir tanta informação em tão pouco tempo.
Quando o almirante terminou, Thomas colocou-lhe a questão mais óbvia: e qual é o interesse da DARPA na explosão? Rector respondeu-lhe. Thomas sentiu a divisão arrefecer uns dez graus. Tem certeza? Já temos uma equipe organizada para aprofundar o assunto. Mas vou necessitar da cooperação do MI5 britânico..., ou melhor ainda... A alternativa ficou em suspenso, não proferida mesmo numa linha codificada. Thomas compreendia agora a chamada clandestina. O MI5 era o equivalente britânico da sua própria organização. Rector queria que ele lançasse uma cortina de fumo para que a equipe da DARPA pudesse entrar e sair rapidamente do local, antes que alguém suspeitasse da descoberta. E tal incluía a agência secreta britânica. Compreendo, disse finalmente Thomas. Ser o primeiro. Rezou para que estivessem à altura da missão. A equipe está pronta? Estará pronta pela manhã. Pela ausência de desenvolvimento adicional, Thomas soube quem trataria do assunto. Desenhou um símbolo grego na margem do jornal. O caminho será preparado, disse para o aparelho.
Muito bem. A comunicação morreu. Thomas pousou o auscultador no gancho, já a planear o que tinha de ser feito. Teria de actuar rapidamente. Fitou as palavras cruzadas por completar: 19 vertical. Uma palavra de cinco letras para a soma de todos os homens. Que apropriado. Pegou numa caneta e preencheu a resposta nas quadrículas. SIGMA». In James Rollins, A Cidade Perdida, Bertrand Editora, 2015, ISBN 978-972-252-930-3.

Cortesia de BertrandE/JDACT