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Cambridge.
Inglaterra
«(…) Os senhores receberam meu
bilhete. Eu não tinha a certeza de que estariam aqui em tão curto prazo. Tudo
aconteceu muito rápido. Quando nos comunicámos da última vez, cerca de três
semanas atrás... Shhh!, ordenou o homem do meio. Eu esperava ver o rosto dos
senhores desta vez, continuou calmamente o pastor, pois já fizemos negócios
antes. Senhor. O homem levantou-se. Por favor, chame-me de Samuel. Este é Isaiah,
e pode chamar aquele de Daniel. O recém-chegado permitiu-se um sorriso, que mal
indicava uma decisão. Os homens mesquinhos exultam na espionagem, pensou, falsos
nomes que talvez julguem ser espertos, cm ridículos encontros como este. Talvez
esses anglicanos sejam mais risíveis por ansiar imitar os católicos. E por qual
nome do Velho Testamento o senhor me chamaria?, perguntou em voz baixa Marbury.
Sente-se. Isaiah indicou uma cadeira. Só concordamos em ajudá-lo porque a obra
do nosso grande rei corre perigo. A cadeira arranhou o duro chão como uma pá em
uma cova.
E devemos ser breves. Samuel
tinha uma voz de corvo. Descobrimos um homem perfeito para as suas
necessidades. Falamos-lhe da morte do tradutor, Harrison. Ele concordou em
ajudá-lo. O homem, na verdade, é um ex-católico. Pela graça de Deus,
converteu-se à Igreja da Inglaterra cerca de vinte anos atrás, continuou, com
uma voz de chocalho. Marbury pegou a cadeira e nada disse. Num antro de
ladrões, o silêncio era um aliado. Mas deslizou devagar a mão direita manga
acima e tocou o cabo da lâmina. Há vinte anos, disse, no dia da rainha
Elizabeth, um homem escolheu entre a conversão e a morte. Um convertido por
medo sempre seria suspeito.
Naqueles anos, continuou Samuel,
ignorando-o, esse homem ajudou Philip Sidney com seu opus magnum, Arcádia. A propriedade de sir Philip o
recomenda. Naquela época, porém, por motivos que é melhor guardar em segredo em
relação ao senhor, ele trabalhava sob outro nome. Esse nome desapareceu de
todos os registos. Como podemos ter certeza, então, perguntou o pastor,
recostando-se na cadeira, de que esse homem... Desapareceu de todos os registos,
completou Samuel, sem piscar por trás da máscara, e o outro ficou com os lábios
tensos. Entendo. O ministro protestante balançou uma vez a cabeça. Espero que
entenda, disse Samuel com voz áspera. Agora, concluindo a história, levamos
nosso homem à família Sidney, em busca de uma referência. Um antigo criado
chamado Jacob, cuja memória para rostos sobreviveu à capacidade de lembrar
nomes, o conhecia. A família descobriu, em alguns registos de pagamento, que o
tal sujeito fora empregado de sir Philip, relacionado apenas como monge. É o
homem de que o senhor precisa. Podemos apresentar determinados registos; ele
tem certas qualidades... Quer dizer que esse homem possui credenciais que eu
poderia mostrar aos outros, perguntou Marbury sem alterar a voz, mas que, em
essência, são falsificadas? De certa forma autênticas, mas sem que se possa
localizá-las de modo algum. E suponho que não me vão dizer o verdadeiro nome
desse monge, nem nada sobre ele. Não, confirmou o outro. A não ser que ficou preso
algum tempo na Itália, mas não é criminoso. O senhor é um homem inteligente.
Isso deve dizer-lhe tudo. A Inquisição (maldita).
O
pastor cruzou as mãos e pensou que o sujeito a quem contrataria sofrerá a persuasão
de Elizabeth e as torturas da Inquisição (maldita). Seria um homem de ferro. Como o
senhor disse, insistiu Samuel, os papéis necessários foram forjados, documentos
foram assinados e homens fracos foram subornados. O nosso homem vai infiltrar-se
entre os tradutores e descobrir o assassino, como o senhor deseja. É possível,
mas preciso de um motivo oficial para a presença dele. Também eu, o senhor deve
entender, tenho documentos que precisam ser protegidos, pequenos funcionários a
aplacar». In Phillip Depoy, A Conspiração do rei James, Prumo, 2009, ISBN
978-857-927-022-2.
Cortesia de Prumo/JDACT