terça-feira, 23 de abril de 2019

A Cidade Perdida. James Rollins. «Sentiu os joelhos a fraquejarem. A ala norte..., a sua ala. Ela sabia que o buraco fumegante conduzia à galeria no final. Todo o seu trabalho, uma vida de pesquisa, a colecção…»

Cortesia de wikipedia e jdact

The British Museum. Londres. 14 de Novembro
«(…) Lá em baixo, a habitualmente calma e digna rua de candeeiros de ferro e amplos passeios tinha-se transformado num campo de batalha surrealista. Carros de bombeiros e da polícia entupiam a avenida. Fumo ondeava apesar da chuva, mas pelo menos a terrível tempestade abrandara para o habitual lacrimejar londrino. Com os candeeiros da rua apagados, a única iluminação vinha das luzes de sinalização no cimo dos veículos de emergência. Contudo, no fundo do quarteirão, um brilho carmesim mais intenso cintilava por entre o fumo e a escuridão.
Fogo.
O coração de Safia bateu com mais força, a respiração estrangulou-se, não por antigos terrores, mas por novos receios pelo presente. O museu! Deu um sacão aos cordões dos estores, esventrando-os, e atrapalhou-se com o fecho da janela. Abriu de rompante a vidraça e inclinou-se para fora de encontro à chuva. Mal notou os pingos gelados. O British Museum ficava a poucos metros do apartamento. Ficou assombrada com a visão. A parte nordeste do museu ficara reduzida a uma ruína a arder. Chamas tremulavam através das janelas superiores, enquanto o fumo se precipitava para fora em manchas espessas. Homens, cobertos com máscaras de oxigênio arrastavam mangueiras. Jactos de água atingiam grande altura. Escadas erguiam-se no ar a partir dos carros dos bombeiros. Mas, pior que tudo, um buraco escancarado fumegava no segundo piso da parte nordeste. Fragmentos e blocos enegrecidos de cimento jaziam espalhados pela rua. Ela não devia ter ouvido a explosão ou simplesmente atribuíra-a ao ribombar da trovoada. Mas não se tratava da queda de um raio. Mais provavelmente a explosão de uma bomba..., um ataque terrorista. Outra vez não...
Sentiu os joelhos a fraquejarem. A ala norte..., a sua ala. Ela sabia que o buraco fumegante conduzia à galeria no final. Todo o seu trabalho, uma vida de pesquisa, a colecção, uma infinidade de antiguidades da sua terra natal. Era impossível de imaginar. A descrença tornou a visão ainda mais irreal, um pesadelo do qual acordaria a qualquer momento. Recuou para a segurança e sanidade do seu quarto. Voltou as costas aos gritos e às luzes relampejantes. Na escuridão, libelinhas de vitral ganharam vida. Abriu os olhos, incapaz de compreender a visão por um instante, depois fez-se luz. A energia voltara. Nesse momento, o telefone tocou no seu suporte nocturno, assustando-a. Billie levantou a cabeça da colcha, as orelhas espetadas face ao chocalhar. Safia apressou-se para o telefone e levantou o auscultador. Estou? A voz era austera, profissional. Doutora al-Maaz? S-sim? Daqui fala o comandante Hogan. Houve um acidente no museu. Acidente? O que quer que tivesse acontecido era mais do que um simples acidente.
 Sim, o director do museu solicita a sua presença na reunião de avaliação da situação. Pode juntar-se a nós na próxima hora? Sim, comandante. Irei imediatamente. Óptimo. O seu nome será indicado ao comando de segurança. O telefone produziu um estalido enquanto o comandante desligava. Safia olhou em volta do quarto. Billie martelava a cauda em clara irritação felina pelas constantes interrupções nocturnas. Não vou demorar, murmurou ela, sem saber se era verdade. As sirenes continuavam a gemer do   outro lado da janela. O pânico que a despertara recusava-se a desaparecer por completo. A sua visão do mundo, a segurança da sua posição dentro das paredes serenas de um museu, tinham sido abaladas. Há quatro anos atrás, ela fugira de um mundo onde as mulheres atavam explosivos ao peito. Fugira para a segurança e normalidade da vida académica, abandonando o trabalho de campo pelo trabalho de gabinete, largando picaretas e pás por computadores e folhas de cálculo. Escavara um pequeno nicho para si no interior do museu, onde se sentia segura. Fizera ali o seu lar. Contudo, o desastre encontrara-a». In James Rollins, A Cidade Perdida, Bertrand Editora, 2015, ISBN 978-972-252-930-3.

Cortesia de BertrandE/JDACT