segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

O Símbolo Perdido. Dan Brown. «O recinto parecia um santuário sagrado do mundo antigo. A verdade, porém, era ainda mais estranha. Estou a poucos quarteirões da Casa Branca»

jdact

Casa do Templo. 20h 33m
«O segredo é saber como morrer.
Desde o início dos tempos, o segredo sempre foi saber como morrer. O iniciado de 34 anos baixou os olhos para o crânio humano que segurava com as duas mãos. O crânio era oco feito uma tigela e estava cheio de vinho cor de sangue. Beba, disse ele a si mesmo. Você não tem nada a temer. Como rezava a tradição, ele havia começado aquela jornada vestido com os trajes ritualísticos de um herege medieval a caminho da forca, com a camisa frouxa deixando entrever o peito pálido, a perna esquerda da calça arregaçada até ao joelho e a manga direita enrolada até ao cotovelo. Do seu pescoço pendia um pesado nó feito de corda, uma atadura, como diziam os irmãos. Nessa noite, porém, assim como os companheiros que assistiam à cerimónia, ele estava vestido de mestre. O grupo que o rodeava estava todo paramentado com aventais de pele de cordeiro, faixas na cintura e luvas brancas. Em volta do pescoço usavam joias cerimoniais que cintilavam à luz mortiça como olhos espectrais. Muitos daqueles homens ocupavam cargos de poder lá fora, mas o iniciado sabia que as suas posições mundanas nada significavam entre aquelas paredes. Ali todos eram iguais, irmãos unidos pelo juramento compartilhando um elo místico. Correndo os olhos pelo impressionante grupo, o iniciado se perguntou quem, no mundo exterior, seria capaz de acreditar que todos aqueles homens pudessem se reunir num mesmo lugar…, principalmente naquele lugar. O recinto parecia um santuário sagrado do mundo antigo. A verdade, porém, era ainda mais estranha.
Estou a poucos quarteirões da Casa Branca. Aquele edifício colossal, situado no número 1.733 da Rua 16 Noroeste, em Washington, D.C., era a réplica de um templo pré-cristão, o Templo do Rei Mausolo, o primeiro mausoléu..., um lugar para onde se era levado após a morte. Diante da entrada principal, duas esfinges de 17 toneladas montavam guarda ao lado das portas de bronze. O interior era um labirinto de câmaras ritualísticas, corredores, alcovas secretas, bibliotecas e até mesmo um compartimento contendo os restos mortais de dois corpos humanos. O iniciado havia aprendido que cada cómodo daquele edifício guardava um segredo, mas sabia que nenhum deles ocultava mistérios mais profundos do que a câmara colossal na qual se encontrava agora, ajoelhado, segurando um crânio nas mãos. A Sala do Templo. A sua forma era a de um quadrado perfeito. E o ambiente era sombrio e grandioso. O tecto altíssimo se erguia a surpreendentes 30 metros, sustentado por colunas monolíticas de granito verde. Ao redor da sala, fileiras de cadeiras russas de nogueira escura, estofadas com couro de porco trabalhado à mão, estavam dispostas em níveis. Um trono de 10 metros de altura dominava a parede oeste, e um órgão escondido ocupava o lado oposto. As paredes eram um caleidoscópio de símbolos antigos..., egípcios, hebraicos, astronómicos, alquímicos e outros ainda desconhecidos.
Nessa noite, a Sala do Templo estava iluminada por uma série de velas minuciosamente posicionadas. O seu brilho fraco era complementado apenas por um facho de luar que entrava pela ampla clarabóia do tecto jogando luz sobre o elemento mais surpreendente da sala, um imenso altar feito de um bloco maciço de mármore belga preto polido, situado bem no meio do recinto quadrado. O segredo é saber como morrer, lembrou o iniciado a si mesmo. Chegou a hora, sussurrou uma voz. O iniciado deixou o seu olhar subir até ao rosto do distinto personagem vestido de branco à sua frente. O Venerável Mestre Supremo. O homem, de quase 60 anos, era um ícone norte-americano, estimado, robusto e dono de uma fortuna incalculável. Seus cabelos outrora escuros estavam ficando grisalhos, e o semblante conhecido reflectia uma vida inteira de poder e um vigoroso intelecto. Preste o juramento, disse o Venerável Mestre, com uma voz suave feito a frio. Complete a sua jornada. A jornada do iniciado, assim como todas as daquele tipo, havia começado no grau 1. Naquela noite, num ritual parecido com este de agora, o Venerável Mestre o vendara com uma faixa de veludo e pressionara uma adaga cerimonial contra seu peito nu, indagando: você declara seriamente, pela sua honra, sem influência de motivações mercenárias ou quaisquer outras considerações indignas, candidatar-se de forma livre e espontânea aos mistérios e privilégios desta irmandade? Sim, havia mentido o iniciado. Então que isso seja um estímulo à sua consciência, alertara o mestre, bem como a morte instantânea caso algum dia você venha a trair os segredos que lhe serão revelados». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT