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de wikipedia e jdact
«Em 480, durante a segunda guerra médica, aconteceu a
batalha naval de Salamina. A frota ateniense infligiu uma derrota decisiva aos
invasores persas, apesar da sua inferioridade numérica. Uma tradição liga a
essa grande façanha guerreira os três principais poetas trágicos gregos:
Ésquilo, com 45 anos de idade, participou do combate; o jovem Sófocles dirigiu
o coro dos efebos que celebrou a vitória; Eurípides, dizem, nasceu nessa ilha
no mesmo dia da batalha. Essa tradição, certamente um pouco bela demais para
ser verdadeira no que se refere a Eurípides, realça, porém, dois factos
importantes: ela mostra que todo esse teatro grego foi colocado sob o signo da
guerra (primeiro contra os persas, depois dos gregos entre si na Guerra do
Peloponeso) e estabelece bem a relação cronológica entre os três autores
trágicos, considerados desde a Antiguidade como os três maiores e os únicos de
quem temos peças completas. De facto, como explicar que, dentre centenas de
tragédias compostas no século V por dezenas de poetas, somente cerca de trinta
tenham chegado até nós e apenas desses três autores? Trata-se certamente do
resultado de uma selecção feita pelo estabelecimento de compilações de peças
escolhidas inicialmente por eruditos alexandrinos, segundo critérios estéticos
ou escolares: peças da maturidade dos poetas que tinham entre si ligações
temáticas ou que permitiam comparações entre os três grandes tragediógrafos. O número
das peças escolhidas de Ésquilo e Sófocles era sete para cada um (um número
simbólico) e dez para Eurípides, mais lido e mais imitado nessa época (tanto na
tragédia quanto na comédia novas). Todas as peças contidas nessas diversas
compilações são acompanhadas de escólios
(notas à margem dos textos), o que mostra claramente uma intenção
pedagógica. No caso de Eurípides, além das dez peças da compilação (Alceste, Medeia, Hipólito,
Andrómaca, Hécuba, As Troianas , As
Fenícias, Orestes, As Bacantes, Resos), nos chegou por acaso um fragmento de uma edição completa,
na qual as tragédias eram classificadas por ordem alfabética. Este volume
(desprovido de escólios) compreende os títulos que vão de épsilon (E) a capa
(K): Helena, Electra, Os Heraclidas, Héracles
furioso, As Suplicantes,
Ifigênia em Áulis, Ifigénia em Táurida, Íon, O Ciclope. Na tradição medieval, as duas colecções estão misturadas.
Por volta de metade
do século VI, um poeta ateniense, Téspis, teria acrescentado a fala ao canto do
ditirambo (espécie de balé, de poema cíclico cantado e dançado por um coro em
honra de um herói ou de um deus), encarregando um actor de recitar um prólogo e
uma narração. Assim, Téspis é geralmente considerado como o inventor da
tragédia (o próprio nome tragoidía,
literalmente o canto do bode, deu ensejo a numerosas interpretações). Os
concursos dramáticos (tragédias e comédias) se desenrolavam por ocasião de duas
festas religiosas consagradas a Dioníso, deus do vinho e do teatro: as
Leneanas, no fim de Janeiro e começo de Fevereiro, e as Grandes Dionísias (ou
Dionísias urbanas), celebradas no fim de Março e começo de Abril. O primeiro
concurso trágico foi realizado em 534. Temos raros fragmentos dos predecessores
de Ésquilo, mas deve ser citado Frinico, cujos cantos harmoniosos foram por
muito tempo populares em Atenas e que obteve sua primeira vitória entre 511 e
508. Dele conhecemos uma dezena de títulos. Frinico é tido como o primeiro a
introduzir personagens femininos e a compor tragédias sobre assuntos da actualidade:
A tomada de Mileto (492)
e As Fenícias (476).
A tomada de Mileto lembrava
a revolta desta cidade grega da Jónia contra os persas em 494, portanto dois
anos antes, e a repressão que se seguiu. A peça comoveu tanto o público que foi
interditada. Quatro anos após a vitória grega em Salamina, em 480, Frinico
obteve o primeiro prémio com As
Fenícias, em que o coro de mulheres de Sídon [actual Líbano], cidade
aliada dos persas, lamentava-se sobre a derrota de Xerxes. As Fenícias anunciam,
assim, Os Persas de
Ésquilo, representado quatro anos mais tarde.
Essas três tentativas de pôr em cena assuntos históricos parecem
ter sido uma experiência abandonada, pois não conhecemos nenhum outro exemplo de
tragédia histórica no século V. Nas Leneanas, menos prestigiosas, participavam
apenas dois dramaturgos, com duas peças cada um; já nas Grandes Dionísias cada
um dos três autores trágicos apresentava uma tetralogia, composta de uma trilogia
trágica (três tragédias) mais um drama satírico. A trilogia podia ilustrar um
único mito (como A Oresteia de
Ésquilo), e neste caso se falava de trilogia
ligada, ou ser formada de elementos independentes, o que ocorria na
maioria das vezes. O drama satírico não parece ter sido uma obrigação, pois
temos o exemplo de Eurípides que apresentou seu Alceste como quarta peça, e foi o que aconteceu também
com outras de suas tragédias que tinham um final feliz e comportavam cenas cómicas.
Uma tragédia grega é composta em versos, a variedade deles sendo determinada
por um arranjo de combinações possíveis de sílabas curtas e longas. Não há actos,
mas uma alternância de partes faladas pelos actores ou pelo corifeu, e de
partes líricas cantadas pelo coro. As partes faladas, chamadas episódios, consistem em diálogos
escritos geralmente em trímetros iâmbicos; seu número pode variar de dois a
cinco. Os cantos do coro são chamados stasima
(stasimon, canto sem
movimento)». In Pascal Thiercy, Tragédias Gregas, L&PM,
2009, ISBN 978-852-541-945-3.
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