Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…)
Pássaros
Ao universo,
Voando, a explica,
Enquanto indica
Somente o que eu padeço um rude
verso.
Eu vejo suspender-se a natureza
Aos ais que lá no centro do
retiro
Exala Filomela; um só suspiro
Da voz não lhe interrompe a
fortaleza.
Nem por ventura
Ressoa a gruta;
Atento a escuta
O bosque todo envolto em noite
escura.
O quieto silêncio, a obscuridade,
Que geram mil saudosos
pensamentos,
Parece que das aves aos tormentos
Por estímulo servem, de piedade.
Queixo-me em vão,
Pois meus gemidos
Ficam perdidos
Nesta insensível, negra solidão.
Basta, triste Canção, que a noite
escura
Já manda recolher aos caros
ninhos
Os suspirantes, ternos
passarinhos,
E em vão lhes conto a minha
desventura.
Quando nascer
A madrugada,
Eu, magoada,
Tornarei
o silêncio a interromper.
Águas
Claras
águas, de que ouço o murmúrio,
Calado
bosque, ermo, que sombrio
Abrigas em
teu centro o escuro medo;
O mais
terno segredo
Vem Alcipe
fiar-vos no seu canto.
Doei-vos,
selvas tristes,
Das mágoas
que me ouvistes,
Desde
que a voz queixosa aos Céus levanto.
Não são as
minhas mágoas, não, vulgares:
Inventou
para mim novos pesares,
No seu
furor, a sorte mais adversa.
Águas!
Quanto diversa
Junto das
vossas margens estive um dia
Um dia só
contente,
Que o fado
cruelmente
Alonga
a dor e encurta uma alegria!
Ali na
fresca areia destas praias,
Repousando-me
à sombra de altas faias,
Via passar
a plácida corrente;
Versos
alegremente
Ditava
Amor ao brando som da lira;
Os Génios
namorados
Me
contavam cuidados,
Que
escutam de Citera a quem suspira.
Nas verduras
meus olhos alongando,
Passava o
tempo leda; um gesto brando
Enleava
meus ternos pensamentos;
Jamais os
sonolentos
Filhos do
Érebo, males desumanos,
O seu
negro vapor Espalharam ao redor
Do
asilo em que passei meus tenros anos.
[…]
Poemas de Leonor Almeida Portugal Lorena Lencastre, (1750 – 1839), in ‘Poemas de Alcipe’
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