Cortesia da CMIdanha-a-Nova
Medelim, freguesia do município de Idanha-a-Nova, conhecida por muitos como a aldeia dos balcões é uma povoação muito antiga com vestígios de habitações pré-históricas. Foi uma das cinco «colónias» romanas em que foi dividida a antiga Lusitânia e muitos dos achados arqueológicos Romanos podem ser facilmente vistos em Medelim nas construções de casas mais recentes, bem como colunas romanas a servir de bancos nas soleiras das portas.
A partir da Romanização, Medelim surge como um povoado de certa importância. Até ao séc. XVI, viveu nesta freguesia, uma importante colónia judaica, com o seu lugar de culto, a Sinagoga. Desta comunidade, hoje em dia, resta o nome de rua da Judiaria com as bonitas casas típicas de balcão, muitas delas comunicando interiormente entre si. É um dos pontos obrigatórios e dignos de visita.
Muito em breve, Medelim abrirá ao público um museu com um rico espólio de antiguidades da freguesia e não só, que ficará situado numa casa brasonada doada à autarquia de Idanha-a-Nova por uma benemérita família local.
Outros pontos de interessante visita são:
- a rua do Espírito Santo, com a capela do mesmo nome;
- a conhecida casa da «Ti Paróquia» antigo local de residência dos párocos;
- a rua do Cavacal, assim conhecida por ter funcionado como depósito comunitário de lenha que cada habitante utilizava para cozinhar e aquecer a sua casa no Inverno.
- Como construções mais antigas destaco a Capela da Misericórdia;
- a Capela do Senhor do Calvário (situada num monte com o mesmo nome, de onde se desfruta uma paisagem belíssima);
- a Capela de S. Sebastião.
Na área da freguesia de Medelim houve um povoado pré-histórico, cuja existência é atestada, além de outros vestígios, pelos três «dolmenes» na «Anta», propriedade de onde terão sido retiradas as monumentais pedras para a nova ponte de Idanha-a-Velha. Sob o Império Romano o local integrou-se numa das cinco «coloniae» em que foi dividida a antiga Lusitânia, com os mesmos privilégios do antigo Lácio (séc. II d.C.). Instituída esta «colonia», a sua sede fixou-se como acantonamento do exército romano, enviado em missão de romanizar a irrequieta Lusitânia. Um dos comandantes desse exército foi Quintim Cecillium Metellum Pium, por cujo nome veio a obter topónimo o acantonamento militar, que passou a designar-se «Metellinum», de onde derivou o actual nome (Mettelum > Metelino > Metelin > Medelim), e que é a mesma toponímia da cidade estremenha (Estremadura Espanhola) de «Medellin» (a pouco mais de 100 Km a sul), onde o mesmo vice-consul teve a sua sede «Castrum Metellinensis». Conta a tradição que aqui foi martirizado Santo Eusébio, no tempo do Imperador Trajano (séc. II d.C.), e que aqui nasceu S. Teodoro.
Destruída ao tempo do início da nacionalidade, foi a terra repovoada por D. Sancho I, que lhe deu castelo, erigido sobre ruínas da antiga fortaleza, de que há ténues vestígios e de que subsistia uma torre até finais do séc. XIX (de que há ainda referência na Rua da Torre).
Medelim situa-se a pouco mais de uma légua da antiquíssima «vila» de Monsanto e a distância semelhante da histórica Idanha-a-Velha. Colocada num planalto de 400m de altitude, da aldeia divisam-se largos panoramas, emoldurados pelas serras da Gardunha e Estrela a poente e, a nascente, pelo majestosos pico de Monsanto e pela serra de Penha Garcia. Encontra-se na localização privilegiada de encruzilhada de quatro estradas, que encaminham o viandante para Monfortinho (via Penha Garcia - a nascente), Penamacor (a norte), Idanha-a-Nova (via Idanha-a-Velha, Alcafozes, barragem Marechal Carmona - a sul) e Castelo Branco ou Covilhã (via Proença-a-Velha - a poente).
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À entrada da rua do Espírito Santo, uma bela casa tradicional, conhecida por casa da «Ti Parróquia», nome que lhe advém por, em passado já distante ter sido residência paroquial e propriedade da Paróquia e, talvez, sede do Município. Com o seu balcão mais erudito e amplo, seguido dos de outros vizinhos, desenha um conjunto de referência, a que as flores sempre coloridas sardinheiras, conferem graça. Na rua do Cavacal, por aqui ter havido um recinto comunitário, onde os moradores depositavam as suas lenhas. Depois com os fumos a pairarem junto às telhas e a saírem sem chaminé pelos seus interstícios, gastavam os cavacos nas lareiras com o aquecimento das casas, a confecção das refeições e a cozedura do pão para a família.
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A rua da Judiaria mantém este nome pela sua origem ancestral de bairro exclusivamente habitado por famílias judias, que aqui viviam, conviviam e tinham o seu lugar de culto ou sinagoga, respeitada sem reservas ... até que uma desastrada intervenção urbanística a demoliu (anos 70 séc. XX)! A profusão de balcões mantém o ex-libris da terra, mas o que mais marca as casas é a sua ligação interior e secreta de umas para as outras (em parte ainda existente), para os habitantes, sem passarem pela rua, se encontrarem ou até fugirem. Consta que nas «costas» desta rua havia ligação com outro arruamento, que seria a «mouraria». Ao contrário de tantas outras terras curioso é que a Rua da Judiaria se tenha mantido até aos nossos dias, a que não será estranho o espírito de sã convivência aqui vivido.
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Na confluência da Rua Direita (cuja toponímia vem de ligar a aldeia de uma ponta à outra) e a Rua da Tulha (lugar do antigo celeiro comunitário, composto de várias tulhas), fica a casa redonda, que pela sua raridade importa preservar tal qual, com seu beiral sem cimalha e sua sacada invulgar nestas construções. Possui belíssimo balcão na Rua da Tulha. Ainda lhe chamam a casa da «Ti Plainas», corruptela de polainas, pois que uma antiga proprietária fabricava com suas mãos estas peças de agasalho às pernas e pés feitas de tecido espesso ou de pele de animais.
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Medelim é seguramente uma das povoações beirãs que ostenta maior número de típicos balcões que o arquitecto espontâneo e de centenar tradição espalhou pelas Beiras, e aqui aliando a quantidade a uma das melhores qualidade e variedade. Contam-se 116, sem incluir alguns de mais erudita arquitectura que se contêm nas casas senhoriais (além de 23 interiores).
O balcão é constituído normalmente por uma escada em granito de grandes lajes, que termina num patamar de acesso, também lajeado a granito, e rodeado ou não de grandes guardas inteiriças do mesmo material, normalmente duas. Nas paredes de sustentação a pequena pedra granítica muitas vezes casa admiravelmente com o xisto, a «piçarra» ou «pcerra», de filão geológico paralelo ao dos belos granitos amarelados da região. Raramente esta típica construção exterior da casa rústica beirã, que dá acesso à entrada do lar, é ainda encimada por colunas graníticas ou em madeira que definem o conjunto com alpendre abrigado. Destinada ao acesso ao piso da habitação sem lhe ocupar espaço interior, outra das características desta arquitectura provém do uso também dado ao balcão: aproveitamento em túnel do espaço por debaixo das escadas e das lajes para gado, a cabra, o porco, as ovelhas, os galináceos, prolongando-se às vezes para debaixo do piso de habitação para a aquecer.
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Medelim possui grande número de balcões em perfeito estado, mesmo quando a economia de subsistência já não mantém o gado doméstico em casa. Trabalho persistente será o de obter a recuperação para a sua bela estética inicial de todos aqueles que o tempo e a incúria degradaram.
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A antiquíssima capela do Espírito Santo, tradicional culto da Beira Baixa, situa-se à saída sul da terra, pelo que, pela tradição da guarda da peste, passou a ter também a devoção a S. Sebastião, nome por que é igualmente conhecida. O seu altar rico e policromado contrasta com a austeridade do exterior, tudo do dealbar do séc. XVII.
Medelim necessita de outra visita!
Cortesia da CMIdanha-a-Nova/JDACT