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de wikipedia e jdact
«(…) A Batalha de Toro foi ganha
pelas forças de Castela contra as de Afonso V, por uma dessas eventualidades da
guerra, que nem seus cabos explicam, muitas vezes, e a que as crenças
religiosas chamam: a influência do Deus das vitórias. Não nego que o mesmo se
possa dizer da de Aljubarrota; possível seria que São Jorge vencesse nela a Sant'Iago.
Mas a batalha de Toro foi ganha pelas forças do Príncipe João de Portugal e do
Bispo de Évora, Garcia Menezes, contra as seis alas do exército de Castela, que
fugiram acossadas e desfeitas.
Em Aljubarrota não ficara um
castelhano no campo, que não fosse ou morto, ou prisioneiro. Em Zamora ficou
senhor do campo em que se colocara depois da luta com os seus vencedores, o
Príncipe de Portugal, João. Será, pois, isto um desquite de
Aljubarrota?
Entendo que não.
Se escreverem que o fora por ter
posto fim à guerra desgraçada do ambicioso africano, entendo que sim. Mas, não basta esta síntese de
leitura feita, que tem ares dogmáticos:
preciso é o mostrar como tanto
portugueses, como castelhanos, como franceses, como alemães criticaram o
combate de Toro. Começarei pelos de casa, como é natural:
1 E porém o Príncipe despois do desbarato que
fez, ali onde acabou de recolher sua jente, esteve no campo em hum corpo
çarrado sem nunca mover atrás sua bandeira... (in Ruy de Pina: Crónica
de Afonso V)
2 El Principe
al tiempo del fracaso padecido de su Padre iva seguindo el alcance de las seis
alas ia rotas, pero quando entendió lo que pasava (a derrota do pae) aun que
non pudo revocar a todos de la corriente que levavam apiñose con los que pudo i
otros que de otra parte de su padre vencida se le acercaron, en una
elevacion...
3 Fué vencida esta parte; (a de Afonso)
confesamoslo; sin que lo doremos. Pero el huir una del campo i quedar otra
vitoriosa en el varrido de los contrarios, digan los doctos en los estudios
militares que nombre há de tener, mientras io que no los professo no sé como le
hé de lamar, pues halo quien no quiere que le lamemos vitoria... (Faria Sousa:
Europa Port. 2º)
4 ...a nosso Senhor aprouve que nos deixassem
o campo, adonde com gloriosa vitória permanecemos vencedores... (Carta
de João II fazendo mercê a Lourenço Faria, seu alferes. Torre do Tombo, L. 2º
da Extremadura)
Porém depois, tocado de ambição
E glória de mandar, amara e bela,
Vai cometer Fernando de Aragão,
Sobre o potente reino de Castela.
Ajunta-se a inimiga multidão
Das soberbas e várias gentes
dela,
Desde Cadix ao alto Pireneu,
Que tudo ao rei Fernando
obedeceu.
Não quis ficar nos reinos ocioso
O
mancebo Joanne; e logo ordena
De ir ajudar ao pai ambicioso,
Que então lhe foi ajuda não
pequena.
Saiu-se enfim do trance perigoso
Com fronte não turvada, mas
serena,
Desbaratado o pai sanguinolento;
Mas ficou duvidoso o vencimento;
Porque o filho sublime e
soberano,
Gentil, forte, animoso cavaleiro,
Nos contrários fazendo imenso
dano
Todo um dia ficou no campo
inteiro
(Camões:
Lusíadas C. IV est. 77-78 e
79).
...
em que cada um dos exércitos ficou meio vencedor, meio vencido...
O
Príncipe João depois de seguir & de perseguir por largo espaço aos que vencera,
& lhe fugião, voltando a soccorer seu pay, e achando-o vencido, se manteve
no campo, senhor d'elle, como vencedor... (F. de S. Maria: Ano Histórico, tom. 1º).
Derrotado
D. Affonso fugiu de noite para Castro Nuño. D. Fernando fugiu tambem para
Zamora. O Príncipe vencedor ficou no campo, onde esteve tres dias (Damião de Gões:
Crónica do Príncipe D. João).
[…]
Basta; mais citações de boas
autoridades poderia lembrar, se me não tornara fastidioso. Vê-se de
portugueses, castelhanos, de franceses e de outros que a afirmativa do Moguel
foi patriótica em demasia. Bem disse Fernão Álvares Oriente:
As coisas todas a aparência têm
Conforme os olhos são com que se vêm.
O Moguel viu a batalha de Toro
com olhos de castelhano (não de espanhol, como a todos nos considera os
habitantes da Península) eu vejo-a com os de português; porque força é dizê-lo
as duas nações existem autónomas, apesar da natureza ter formado para ambas dos
Pirinéus ao extremo ocidente da Europa este trato de terra fertílimo da
Península, que a política e a história retalharam, não direi para sempre; mas
para enquanto Portugal for cobiçado, e se poder equilibrar na balança dos
interesses europeus. Para muito escrever é o assunto, se aqui fora lugar para
isso. Em vista do que aí fica escrito e transcrito, para mim, nascido em Portugal,
sem animadversão nenhuma, a Batalha
do Toro não foi a desforra da de Aljubarrota. Não a tem mesmo na
história. Foi um combate indeciso. Rocio d'apar, S. Braz d'Évora, 24 de Dezembro
de 1895».
In
António F. Barata, (1836-1910), A Batalha de Toro, 1896, Projecto Livro Livre, Iba
Mendes, História, LD nº 661, 2019, www.poeteiro.com.
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