quarta-feira, 24 de junho de 2020

O Mundo é Matemático. Do Ábaco à Revolução Digital. Torra Vicenç. «O segundo exemplar de grande relevo é mais recente; trata-se do chamado osso de Ishango…»

Cortesia de national geographic e jdact

Os primeiros séculos da computação a numeração posicional
«Calcular e computar são sinónimos, embora, por influência do inglês a língua dominante na área da tecnologia, a palavra computação, na sua acepção actual, tenha acabado por se associar exclusivamente à informática. No entanto, desde há milhares de anos que o homem tem vindo a inventar métodos de computação, ou seja, de cálculo. O processo desenrolou-se lentamente a partir de um passo inicial: o desenvolvimento da numeração. Como tantas outras manifestações culturais, a numeração e o cálculo apareceram em lugares distantes, sem qualquer ligação, expandindo-se depois em força numa rede de influências mútuas. A sua história percorre a Mesopotâmia, o Egipto, a Grécia, Roma, a Índia e outras regiões com métodos de cálculo próprios, e prolonga-se  até ao aparecimento da numeração posicional, isto é, a numeração árabe, que constituiu uma verdadeira revolução coperniana.

As origens da numeração
Embora muito antiga, a numeração não é universal nem uniforme; nem todos os povos a desenvolveram do mesmo modo, e há tribos, como os pirahãs da Amazónia, que a desconhecem. As provas mais remotas do uso dos números são os ossos com marcas encontrados em escavações arqueológicas. O mais antigo que foi descoberto até à data tem 35.000 anos de idade; trata-se de um osso de Papio (primata vulgarmente designado por babuíno) encontrado na cordilheira de Lebombo, na Suazilândia (África), no decurso de uma escavação realizada em 1973. Possui 29 marcas, e pensa-se que deverá ter sido utilizado como contador das fases lunares, embora também talvez possa ter sido usado para seguir o ciclo menstrual. O seu aspecto é semelhante ao dos bastões que os bosquímanos da Namíbia ainda hoje utilizam. Outro achado importante é um osso de lobo descoberto em 1937 em Dolní Vestonice, na regiào checa da Morávia, que apresenta 55 marcas agrupadas de 5 em 5 e uma marca adicional depois da marca 25; pertence à época aurignacense e tem cerca de 30.000 anos de idade. Nas suas proximidades foi ainda encontrada a cabeça de uma Vénus de marfim. O segundo exemplar de grande relevo é mais recente; trata-se do chamado osso de Ishango, que foi encontrado no Congo em 1960 e tem cerca de 20.000 anos de idade.
Existem duas teorias sobre a origem da numeração, ambas relacionadas com a questão da precedência do aparecimento dos cardinais (1,2,3...) em relação aos ordinais (primeiro, segundo, terceiro...). A teoria que goza de maior consenso baseia-se no argumento da necessidade. Tudo teria começado devido à necessidade de contar objectos; por isso, teriam sido criados primeiro os números cardinais e só mais tarde os ordinais». In Torra Vicenç, O Mundo é Matemático, Do Ábaco à Revolução Digital, 2010, RBA, National Geographic & Yellow Border, 2019, ISBN 978-841-329-200-7.

Cortesia de NGeographic & YBorder/JDACT