quinta-feira, 18 de junho de 2020

Barbara Wood. Solo Sagrado. «Érica não sabia o que isso significava. Sua mente estava voltada para uma única coisa: a descoberta espantosa que fora feita»

Cortesia de wikipedia e jdact

«Érica agarrou o volante enquanto o veículo de tracção nas quatro rodas subia a estrada de terra, desviando de grandes pedras e passando por buracos. Sentado ao seu lado, pálido e ansioso, estava seu assistente Luke, um estudante graduado pela UCSB que trabalhava na tese de seu doutorado. Na casa dos vinte anos, cabelos louros e compridos presos num rabo-de-cavalo, Luke usava uma camiseta que dizia Arqueólogos Escavam Mulheres Antigas.

Ouvi dizer que está uma confusão, dra. Tyler, disse ele, enquanto Érica manobrava o carro, subindo a estrada que serpenteava perigosamente. Parece que a piscina desapareceu dentro do chão. Assim, sem mais nem menos, prosseguiu, estalando os dedos. Disseram no noticiário que o buraco do afundamento se estendeu por todo o comprimento da mesa, e sob as casas dos astros de cinema, e daquele cantor de rock que esteve no noticiário, e daquele jogador de basebol que fez todas aquelas jogadas no ano passado, e de um famoso cirurgião plástico. Sob as casas deles. Então você sabe o que isso significa. Érica não sabia o que isso significava. Sua mente estava voltada para uma única coisa: a descoberta espantosa que fora feita. Na hora do desastre ela estava na região norte trabalhando num projecto para o estado. O terremoto, ocorrido há dois dias e medindo 7.4, fora sentido tão ao norte quanto San Luis Obispo, tão ao sul quanto San Diego e tão a leste quanto Phoenix, sobressaltando milhões de habitantes do sul da Califórnia. Fora o maior tremor de que se tem lembrança e o que pode ter provocado, um dia depois, o desaparecimento súbito e espantoso de uma piscina de trinta metros, trampolim, tobogã e tudo o mais.
Um segundo evento espantoso se seguira quase imediatamente: quando a piscina afundou, a terra a recobriu, expondo ossos humanos e a abertura de uma caverna que não se conhecia. Esta pode ser a descoberta do século!, declarou Luke, tirando os olhos da estrada por um instante para olhar para a chefe. Ainda estava escuro e não havia luz ao longo do caminho montanhoso. Érica acendeu a luz interior do carro, iluminando os cabelos castanhos e brilhantes, levemente ondulados, que roçavam seus ombros, e uma tez bronzeada pelos anos de trabalho sob o sol. A dra. Érica Tyler, com quem Luke trabalhara nos últimos seis meses, estava na casa dos trinta, e, embora não a achasse linda, Luke a achava atraente de um modo que era sentido mais nas entranhas de um homem do que nos olhos. Uma descoberta e tanto para algum arqueólogo sortudo, acrescentou ele. Porque você acha que nós violamos todas as normas de trânsito para chegar até aqui?, disse ela com um sorriso, depois de olhá-lo de relance, e voltou sua atenção para a estrada a tempo de se desviar de uma lebre assustada.
Eles chegaram ao topo da mesa de onde as luzes de Malibu podiam ser vistas à distância. O resto da vista, Los Angeles a leste e o oceano Pacífico ao sul, estava bloqueado por árvores, picos mais altos e mansões de milionários. Érica manobrou o carro pelo congestionamento de carros de bombeiro, carros de polícia, caminhões municipais, vans de reportagens e a fileira de carros estacionados ao longo da fita amarela que cercava o sítio. Curiosos se sentavam nos capôs e capotas dos veículos para observar, beber cerveja e falar sobre desastres e seus significados, ou talvez apenas para ser entretidos por algum tempo, apesar dos avisos, transmitidos aos gritos pelos megafones, de que a área era perigosa. Ouvi dizer que toda essa mesa era um tipo de retiro comandado por uma espírita maluca na década de 20, disse Luke quando o carro parou. As pessoas costumavam subir até aqui para falar com os fantasmas.
Érica lembrou ter visto cine-jornais mudos de irmã Sarah, uma das personalidades mais pitorescas de Los Angeles, que costumava fazer sessões espíritas para a realeza de Hollywood, como Rodolfo Valentino e Charlie Chaplin. Sarah fizera sessões para multidões em teatros e auditórios e, quando os seus seguidores totalizaram centenas de milhares, veio para estas montanhas e construiu um retiro chamado de A Igreja dos Espíritos. Sabe como este lugar era chamado originalmente?, prosseguiu Luke, enquanto desafivelavam os cintos de segurança. Quer dizer, antes que ele fosse da médium? Antigamente, disse ele, a palavra antigamente evocando pergaminhos com lacres de cera e homens duelando ao amanhecer. Cahon de Fantasmas, entoou ele, provando as palavras empoeiradas em sua língua. Cánion mal-assombrado. Parece assustador!, concluiu, estremecendo.
Luke, disse Érica, rindo, se quiser ser um arqueólogo quando crescer, não vai poder ter medo de fantasmas. Ela mesma vivia diariamente com fantasmas e assombrações, espíritos e duendes. Eles povoavam seus sonhos e as suas escavações arqueológicas, e, embora os fantasmas pudessem iludi-la, confundi-la, provocá-la e frustrá-la, nunca a assustaram». In Barbara Wood, Solo Sagrado, Editora Record, 2002, ISBN 978-850-106-119-5.

Cortesia de ERecord/JDACT