terça-feira, 30 de junho de 2020

Os Pilares da Terra. Ken Follett. «Ele puxou uma das rédeas, mas Tom continuou segurando o freio. Solte meu cavalo, ordenou William ameaçadoramente. Tom engoliu em seco»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Tom teve ímpetos de dizer: se você tivesse ferido minha filhinha, eu o mataria, mas conteve a raiva. Foi como engolir um sapo. Aproximou-se do cavalo e segurou o freio. Eu sou o construtor, disse tenso. Meu nome é Tom. Esta casa não é mais necessária, disse William. Dispense seus homens. Era o que Tom receava. Mas agarrou-se à esperança de que William estava sendo impetuoso na sua raiva, e poderia ser persuadido a mudar de ideia, com esforço, fez a voz parecer cordial e razoável. Mas tanto trabalho já foi feito! Por que perder o que gastou? Vai precisar da casa um dia. Não me diga como cuidar dos meus negócios, Tom Construtor, disse William. Vocês todos estão dispensados. Ele puxou uma das rédeas, mas Tom continuou segurando o freio. Solte meu cavalo, ordenou William ameaçadoramente. Tom engoliu em seco. Mais um momento e William tentaria puxar a cabeça do cavalo para cima. O construtor enfiou a mão no bolso do avental e tirou o resto do pão que estava comendo. Mostrou-o para o animal, que mergulhou a cabeça e deu uma mordida.
Há mais para ser dito antes que se vá, milorde, retrucou conciliadoramente. Solte meu cavalo, senão cortarei sua cabeça, disse William. Tom olhou directamente para ele, procurando não demonstrar o medo que sentia. Era maior que William mas isso não faria diferença se o jovem lorde desembainhasse a espada. Faça o que o lorde diz, marido, murmurou Agnes, temerosa. Houve um silêncio de morte. Os outros trabalhadores ficaram imóveis como estátuas, observando. Ele sabia que a atitude prudente seria ceder. Mas por pouco o jovem não esmagara a filhinha de Tom, e isso o deixara furioso. Assim, foi com o coração disparado que ele disse: O senhor tem que nos pagar. William puxou as rédeas, mas o construtor segurou o freio com força. Além disso, o cavalo estava distraído, metendo o focinho no bolso do avental de Tom, querendo mais comida. Solicite a meu pai os seus salários!, disse William, furiosamente.
Tom ouviu a voz do carpinteiro, aterrorizada: Faremos isto, milorde, agradecendo-lhe muito. Covarde desgraçado, pensou Tom, mas ele próprio estava tremendo. Mesmo assim, obrigou-se a dizer: se quiser nos dispensar, terá de nos pagar, conforme o costume. A casa de seu pai fica a dois dias de marcha daqui, e quando chegarmos lá poderemos não encontrá-lo. Homens têm morrido por menos que isso, disse William. Seu rosto ficou vermelho de raiva. Com o canto do olho, Tom viu que o escudeiro empunhava a espada. Sabia que deveria desistir agora e humilhar-se, mas havia um obstinado nó de raiva no seu estômago, e assustado como estava não conseguiu obrigar-se a largar o freio do cavalo. Pague primeiro e depois me mate, disse imprudentemente. Pode vir a ser enforcado ou não; mas morrerá, mais cedo ou mais tarde, e aí estarei no céu quando for para o inferno. A expressão de escárnio congelou-se no rosto de William, que empalideceu. Tom ficou surpreso; o que havia assustado o rapaz? Não a referência ao enforcamento, certamente: na verdade não era nada provável que um lorde fosse enforcado pelo assassinato de um artesão. Teria se aterrorizado com o inferno?
Encararam-se por alguns momentos. Tom observou com assombro e alívio quando a expressão de raiva e desprezo de William se dissolveu, para ser substituída por uma ansiedade pânica. Por fim William pegou uma bolsa de couro no cinto e jogou-a para o seu escudeiro, dizendo: pague a eles.
Nesse ponto, Tom forçou a sorte. Quando William puxou as rédeas de novo e o cavalo levantou a cabeça forte e andou de lado, deslocou-se junto, agarrado no freio, e disse: uma semana de salário na dispensa, é este o costume. Ouviu Agnes respirar fundo, logo às suas costas, e não teve dúvida de que ela o achava maluco, por prolongar o confronto. Mas prosseguiu, obstinadamente: isso significa seis pence para o servente, doze para o carpinteiro e cada um dos pedreiros, e vinte e quatro para mim. Sessenta e seis ao todo. Ele era capaz de somar pennies mais depressa do que qualquer pessoa que conhecesse. O escudeiro estava olhando indagadoramente para o seu senhor. Muito bem, disse William, com raiva. Tom largou o freio e recuou. William virou o cavalo e o esporeou com força. O animal saltou em frente, pegando a trilha que cortava o trigal». In Ken Follett, Os Pilares da Terra, 1989, Editorial Presença, 2007, ISBN 978-972-233-788-5.

Cortesia de EPresença/JDACT