Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) Tom teve ímpetos de dizer: se
você tivesse ferido minha filhinha, eu o mataria, mas conteve a raiva. Foi como
engolir um sapo. Aproximou-se do cavalo e segurou o freio. Eu sou o construtor,
disse tenso. Meu nome é Tom. Esta casa não é mais necessária, disse William. Dispense
seus homens. Era o que Tom receava. Mas agarrou-se à esperança de que William estava
sendo impetuoso na sua raiva, e poderia ser persuadido a mudar de ideia, com
esforço, fez a voz parecer cordial e razoável. Mas tanto trabalho já foi feito!
Por que perder o que gastou? Vai precisar da casa um dia. Não me diga como
cuidar dos meus negócios, Tom Construtor, disse William. Vocês todos estão
dispensados. Ele puxou uma das rédeas, mas Tom continuou segurando o freio. Solte
meu cavalo, ordenou William ameaçadoramente. Tom engoliu em seco. Mais um
momento e William tentaria puxar a cabeça do cavalo para cima. O construtor
enfiou a mão no bolso do avental e tirou o resto do pão que estava comendo.
Mostrou-o para o animal, que mergulhou a cabeça e deu uma mordida.
Há mais para ser dito antes que
se vá, milorde, retrucou conciliadoramente. Solte meu cavalo, senão cortarei
sua cabeça, disse William. Tom olhou directamente para ele, procurando não
demonstrar o medo que sentia. Era maior que William mas isso não faria
diferença se o jovem lorde desembainhasse a espada. Faça o que o lorde diz,
marido, murmurou Agnes, temerosa. Houve um silêncio de morte. Os outros
trabalhadores ficaram imóveis como estátuas, observando. Ele sabia que a
atitude prudente seria ceder. Mas por pouco o jovem não esmagara a filhinha de
Tom, e isso o deixara furioso. Assim, foi com o coração disparado que ele
disse: O senhor tem que nos pagar. William puxou as rédeas, mas o construtor
segurou o freio com força. Além disso, o cavalo estava distraído, metendo o
focinho no bolso do avental de Tom, querendo mais comida. Solicite a meu pai os
seus salários!, disse William, furiosamente.
Tom ouviu a voz do carpinteiro,
aterrorizada: Faremos isto, milorde, agradecendo-lhe muito. Covarde desgraçado,
pensou Tom, mas ele próprio estava tremendo. Mesmo assim, obrigou-se a dizer: se
quiser nos dispensar, terá de nos pagar, conforme o costume. A casa de seu pai
fica a dois dias de marcha daqui, e quando chegarmos lá poderemos não encontrá-lo.
Homens têm morrido por menos que isso, disse William. Seu rosto ficou vermelho
de raiva. Com o canto do olho, Tom viu que o escudeiro empunhava a espada.
Sabia que deveria desistir agora e humilhar-se, mas havia um obstinado nó de
raiva no seu estômago, e assustado como estava não conseguiu obrigar-se a
largar o freio do cavalo. Pague primeiro e depois me mate, disse
imprudentemente. Pode vir a ser enforcado ou não; mas morrerá, mais cedo ou
mais tarde, e aí estarei no céu quando for para o inferno. A expressão de escárnio
congelou-se no rosto de William, que empalideceu. Tom ficou surpreso; o que
havia assustado o rapaz? Não a referência ao enforcamento, certamente: na
verdade não era nada provável que um lorde fosse enforcado pelo assassinato de
um artesão. Teria se aterrorizado com o inferno?
Encararam-se por alguns momentos.
Tom observou com assombro e alívio quando a expressão de raiva e desprezo de
William se dissolveu, para ser substituída por uma ansiedade pânica. Por fim
William pegou uma bolsa de couro no cinto e jogou-a para o seu escudeiro,
dizendo: pague a eles.
Nesse ponto, Tom forçou a sorte.
Quando William puxou as rédeas de novo e o cavalo levantou a cabeça forte e
andou de lado, deslocou-se junto, agarrado no freio, e disse: uma semana de salário
na dispensa, é este o costume. Ouviu Agnes respirar fundo, logo às suas costas,
e não teve dúvida de que ela o achava maluco, por prolongar o confronto. Mas
prosseguiu, obstinadamente: isso significa seis pence para o servente, doze para o carpinteiro e cada
um dos pedreiros, e vinte e quatro para mim. Sessenta e seis ao todo. Ele era
capaz de somar pennies
mais depressa do que qualquer pessoa que conhecesse. O escudeiro estava
olhando indagadoramente para o seu senhor. Muito bem, disse William, com raiva.
Tom largou o freio e recuou. William virou o cavalo e o esporeou com força. O
animal saltou em frente, pegando a trilha que cortava o trigal». In
Ken Follett, Os Pilares da Terra, 1989, Editorial Presença, 2007, ISBN
978-972-233-788-5.
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