quinta-feira, 4 de junho de 2020

Alterações urbanísticas em Faro e Olivença na 2.a metade do seculo XV. Amândio Barros. «O Rei indefere, pois essa parte das rendas concelhias estava reservada para as obras que, na época mais o preocupavam: a conservação das muralhas»

Cortesia de wikipedia e jdact

Nota: Comunicação apresentada às III Jornadas de História Medieval do Algarve e Andaluzia, realizadas em Loulé, entre 25 e 27 de Novembro de 1987

«(…) O quinto capitulo e sumariamente deferido pelo Rei. Faro pedia que para coudel não fosse nomeado uma pessoa poderosa. Responde o monarca: a nos praz della e assy o tern agora. Por último, alegando dificuldades de abastecimento, pediam a autorização régia para fazer contratos com os mercadores que entendessem. O Rei delega a resolução deste problema no seu vedor da Fazenda Lopo d’Almeida. O primeiro capítulo relativo às obras a empreender em Faro visa obter do Rei os terrenos que este há algum tempo lhe tinha outorgado, e que Rui Valente, provedor da Fazenda régia no Algarve, embargara.
Tratava-se de uns chaaos (   ) pera fazerem açouguajeens, o que o Rei defere com a condição de que·a obra seja feita em três anos. O segundo capítulo relativo a ordenamento do espaço urbano em Faro, é de algum modo semelhante ao anterior. A vereação obtém do Rei o terreno de uma das suas terrenas, para nele construir uma praça para vendedeiras. Neste caso, a função comercial do espaço a organizar e ainda mais evidente que no anterior. Para além de se falar na praça para as vendedeiras, prevê-se expressamente a construção de um alpendre (que eles possam madeirar da derradeira parede da parte de fora a outra acerqua pera fazerem alpender). Explicita-se ainda que a praça irá atee aa barreira.
O tema do último capítulo apresentado ao Rei em Elvas relaciona-se com a necessidade de se fazerem obras na igreja de Santa Maria da vila algarvia, para as quais a vereação pede a cedência da terça das rendas do concelho. O Rei indefere, pois essa parte das rendas concelhias estava reservada para as obras que, na época mais o preocupavam: a conservação das muralhas.
Na verdade, nessa altura as fortificações militares algarvias estavam a degradar-se. Várias localidades tinham as suas muralhas derrubadas. Entre elas, encontravam-se, para além de Faro, Alcoutim, Tavira e Castro Marim. E Afonso V respondia habilmente: Quanto à obra da igreja de Santa Maria, a vereação podia afectar-lhe por algum tempo a terça das rendas do concelho logo que os trabalhos nas muralhas estivessem concluídos. No entanto, tal nunca deve ter acontecido porque ainda nas cortes de Évora de 1475 se referia que as muralhas de Faro necessitavam de grandes corregimentos.

Conclusão
Ao traçar de modo bastante geral a evolução dos centros urbanos durante os dois últimos séculos medievais verificamos o crescimento dos centros costeiros, provocado pelo surto comercial, que fez emergir praticamente do nada localidades como Faro. Por outro lado. graças a sua posição estratégica junto à raia alentejana, localizada na fronteira de Portugal com Castela representando um ponto de passagem de gados
e mercadorias entre os dais países. Olivença manteve-se como um centro urbana de certa grandeza a nível nacional.
No aspecto demográfico e através das poucas noticias que possuímos somos levados a concluir que as duas povoações se mantiveram a um nível significativo, e, no caso de Faro, assistimos mesmo ao começo de uma forte expansão.
Por último surpreendemos alterações ao traçado urbano de ambas, em que a autorização real e uma condição sine qua non para a respectiva efectivação. Se estas alterações não nos garantem um crescimento efectivo dos respectivos centros, representam, pelo menos, o desejo de reorganização do espaço urbano, o que denota, por parte dos portugueses do século XV, uma preocupação real com a melhoria das condições de vida municipais.
Pelo que os pergaminhos da chancelaria nos contaram, pela parte que dependeu d'O Africano, a casa de Pedro albardeiro e de sua esposa Catarina Lopes, terá inaugurado uma nova e prometedora artéria em Olivença; e os farenses terão conseguido novas açougagens, uma praça mais airosa para as suas vendedeiras e uma renovada e luzidia igreja de Santa Maria (se é que alguma vez terminaram as obras das muralhas)». In Amândio Barros, Alterações urbanísticas em Faro e Olivença na 2.a metade do seculo XV, mestrado de História Medieval, FLUP, Comunicação apresentada às III Jornadas de História Medieval do Algarve e Andaluzia, realizadas em Loulé, entre 25 e 27 de Novembro de 1987.
                                   
Cortesia de FLUP/JDACT