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O
primeiro casamento régio
Afonso
Henriques casou com a rainha dona Mafalda, filha de Amadeu III de Maurienne e
de Sabóia, em 1146. Era neta de Humberto I de Maurienne e de Gisela, uma das
irmãs do conde Raimundo da Borgonha, e bisneta de Berta, imperatriz da Alemanha,
casada com o imperador Henrique IV. Sua tia, Adelaide, era rainha de França por
casamento com Luís VII. Assim, podemos constatar, sublinhando as palavras do
historiador José Mattoso, que Afonso Henriques casou com a sobrinha de um dos
reis mais poderosos da Cristandade e filha de um vassalo do imperador
romano-germânico. De facto, a legitimação aos olhos da Santa Sé poderia
tornar-se mais fácil graças a estes laços familiares que se constituíam. Por
outro lado, este casamento significava também uma reaproximação às redes
familiares da família do conde Henrique da Borgonha. O casamento realizou-se quando
Afonso Henriques já contava 37 anos, ao passo que a sua noiva tinha cerca de 20
anos. Do tálamo real nasceu Henrique, a 5 de Março de 1147, o presumível herdeiro
que morreu aos 8 anos. Seguiram-se três meninas: Urraca em 1148, Teresa em 1151,
e Mafalda em 1153. Ao que parece, dona Teresa terá sido a filha predilecta de Afonso
Henriques, pois era-lhe muito próxima. Mulher independente que fazia a gestão
dos seus próprios bens e Casa, casou em 1184 com Filipe de Alsácia, conde da
Flandres.
A 11
de Novembro de 1154 nascia Martinho, o quinto filho do casal e que, porque não estava
destinado a governar, recebeu o nome do santo do dia em que nasceu. Seria, mais
tarde, por força das circunstâncias, baptizado de Sancho e futuro varão da família
a ser nomeado rei de Portugal. Nasceram ainda João, em 1156, e Sancha a 24 de Novembro
de 1157, que morreu com 10 anos. Da relação dos reis pouco ou nada se sabe. Alguns
textos sugerem que não seria muito pacífica e que a presença da rainha no reino
não estivera isenta de conflitos. Certo dia, pretendeu por todos os modos ver o
claustro interior do Mosteiro de Santa Cruz. Ao ver a sua intenção ser
veementemente recusada, por não ser costume introduzir uma mulher num local em
que habitavam os que haviam fugido do mundo, a rainha manifestou o seu absoluto
desagrado. O prior de Santa Cruz não recuou, contudo, na sua decisão, preferindo
sucumbir ao ódio da fúria dela. Acrescenta Fonseca Benevides, que muitas foram as
desavenças entre a rainha e o prior, a quem perseguiu com o seu ódio e muitas vexações.
Dona
Mafalda faleceu no ano de 1158, provavelmente de complicações surgidas no último
parto. Consolidara a descendência da Casa Real.
Châmoa
Gomes: a primeira amante real
O
rei teve uma amante conhecida chamada Châmoa Gomes. No entanto, não podemos supor
que outras mulheres não tivessem antes existido na vida do monarca. De facto, há
um episódio relatado em que o rei surge a tentar seduzir, sem qualquer recato, a
mulher de Gonçalo Sousa, seu mordomo-mor. Châmoa Gomes, filha de Gomes Nunes Pombeiro,
antigo conde de Toroño, casou com Paio Soares Maia, com quem teve três filhos. O
mais velho, Pedro Pais, foi alferes-mor de Afonso Henriques, entre 1147 e 1169.
Dona Châmoa Gomes descendia de familiares que desde cedo se encontraram ligados
à família régia. Pelo lado da sua mãe, era sobrinha de Fernão Peres Trava e neta
de Pedro Froilaz, tutor de Afonso Raimundes, o herdeiro castelhano. Após
enviuvar de Paio Soares Maia, dizem as fontes que Châmoa Gomes entrou para o Mosteiro
de Vairão, iniciando depois uma relação ilegítima com Mem Rodrigues de Tougues,
de quem teve Soeiro Mendes Facha. Dona Châmoa foi mais tarde barregã do rei Afonso
Henriques, com quem teve Fernando Afonso, provavelmente nascido em 1140. Desempenhou,
tal como o seu meio-irmão Pedro Pais, o cargo de alferes-mor do monarca. Fernando
Afonso parece ter alcançado particular destaque na corte, ocupando um lugar de relevo
nos documentos oficiais do reino. Alguns autores referem que é provável que Afonso
Henriques tenha ponderado casar ou mesmo chegado a casar, com dona Châmoa Gomes,
mas não há documentos que sustentem esta hipótese, o que, aliás, colocaria o
futuro da monarquia portuguesa numa situação extremamente delicada. Depois do desastre
de Badajoz em 1169, que incapacitou o monarca durante algum tempo, Pedro Pais, alferes-mor
do rei, abandonou a corte e foi servir Fernando II de Leão. Três anos mais tarde,
também Fernando Afonso, filho bastardo de Afonso Henriques, seguiria o exemplo
do seu meio-irmão. Junto da corte leonesa, professou na Ordem Militar do
Templo, passando depois para a de S. João do Hospital, da qual foi mestre e grão-mestre».
In
Paula Lourenço (coord), Ana Cristina Pereira, Joana Troni, Amantes dos Reis de
Portugal, 2008, Esfera dos Livros, Lisboa, 2011, ISBN 978-989-626-136-8.
Cortesia
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