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«(…) Assume especial relevo o
aparecimento, em 1925, da nova série da Brotéria (Fé-Ciências-Letras, posteriormente com o
subtítulo Cultura e Informação), e da Revista
Portuguesa de Filosofia (1945 até à actualidade). Ambos os
títulos reflectem o esforço cultural e filosófico da Companhia de Jesus no
panorama português contemporâneo. Nelas se identifica a permanente abertura e
discussão das grandes questões do pensamento contemporâneo, à luz da orientação
fundamental de cada uma destas publicações: o personalismo cristão. Tanto a Brotéria como a R.P.F. nasceram a partir
de um comum projecto pedagógico, sustentado pela concepção Inaciana da
filosofia, a primeira como órgão dos jesuítas portugueses, a segunda a partir da
actividade docente do Instituto de Filosofia Beato Miguel Carvalho, embrião da
futura Faculdade Pontifícia (Braga 1947).
A Brotéria começou por protagonizar a luta de minorias
intelectuais católicas, com destaque para Domingos Gomes Santos, João Pereira
Gomes e António Banha Andrade, num esforço de valorização da actividade
histórico-cultural da Companhia e, por ela, de revisão da imagem da história
pátria, enegrecida pela tese da decadência veiculada pelos manifestos pombalinos
e, já neste século, por António Sérgio e Hernâni Cidade. Como suporte fundante
deste propósito encontrava-se a valorização da metafísica e mais propriamente
da designada Segunda Escolástica peninsular, protagonizada pelos Conimbricenses e
pelos mestres da Universidade de Évora. Mais tarde, já sob a direcção do padre
Manuel Antunes e até ao momento presente (1992), afirmou-se como tribuna de
discussão e crítica dos grandes temas do pensamento contemporâneo, à luz do
ideário permanente de um humanismo integral e do conceito global e cristão
de homem.
As mesmas directrizes assistem
à R.P.F., correspondendo,
desde a sua fundação em 1945, ao propósito de apreciação dos grandes problemas
humanos da vida presente, à luz da metafísica, que aponta ao espírito as razões
últimas dos seres em sua essência, finalidades e condicionalismo, anunciando
[...] a mensagem pacífica da Neo-Escolástica, ou seja, a escolástica renovada
nas suas grandes correntes, tomista, escotista e suareziana [...]. É esta a
linha de orientação permanente da R.P.F.
a que poderíamos juntar, o propósito de constante e permanente actualização
e a valorização do pensamento português como directrizes fundamentais.
Está fora dos nossos propósitos a inventariação da longa lista de colaboradores
e estudos de relevância para a filosofia em Portugal. Esse trabalho está feito,
para os anos de 1945 a 1974, com a publicação do volume de índices dos trinta
volumes então publicados, com índice alfabético de autores e índice
sistemático. Importa, no entanto, chamar a atenção para os números especiais
que constituem marcos dos estudos de filosofia, abarcando, entre outros, a obra
de Pedro Hispano, Francisco Sanches, Pedro Fonseca, Leonardo Coimbra, Teixeira
Pascoais, Inácio Monteiro, Platão, Santo Agostinho, Séneca, Escoto, Cusa,
Teilhard Chardin, Kant, Hegel e Leonardo Coimbra. Não devemos esquecer ainda a
publicação das actas do primeiro congresso nacional de Filosofia (1955), as
actas do primeiro congresso luso-brasileiro de Filosofia (1982), as actas do
colóquio luso-austríaco sobre Ludwig Wittgenstein (1982) e as actas do II
colóquio português de fenomenologia.
Na mesma linha de valorização da filosofia escolástica encontramos a
revista Filosofia (1954-1961),
publicação trimestral editada pelo Centro de Estudos Escolásticos. Nascida em
torno de um grupo de alunos da Faculdade de Letras de Lisboa, contou com a
direcção de António Banha Andrade e Maria Manuela Saraiva. Foi intenção dos
seus fundadores dar continuidade à tradição filosófica interrompida pela
reforma pombalina, conservando, por isso, um fundo escolástico, de feição
agostiniana e tomista. Nela colaboraram Diamantino Martins, A. Miranda Barbosa,
João Ferreira, Júlio Fragata, Alexandre Fradique Morujão e António Banha
Andrade.
A década de quarenta foi
particularmente fecunda na criação de revistas com relevo no panorama dos
nossos estudos filosóficos, pois é nesse período que se dá o aparecimento de
títulos como Atlântico
(Lisboa e Rio de Janeiro, 1942 e seguintes) dirigida por António Feiro e
Lourival Fontes e com colaboração filosófica de Álvaro Ribeiro, Eudoro Sousa,
Delfim Santos e Vieira Almeida; Litoral
(Lisboa, 1944-1945), dirigida por Carlos Queiroz, com colaboração filosófica
de Álvaro Ribeiro, José Marinho, Delfim Santos, Eudoro Sousa, António José
Brandão e Augusto Saraiva; Rumo
(Lisboa, 1946), dirigida por Mário Albuquerque, com colaboração filosófica
de Delfim Santos, Cabral Moncada, António José Brandão, Eudoro Sousa, Afonso
Botelho, Délio Nobre Santos e Luis Ribeiro Soares; Cidade Nova (Coimbra, 1947 e seguintes), dirigida por
Carlos Amado e com colaboração filosófica de Álvaro Ribeiro, Afonso Botelho,
António Dias Magalhães e António José Brandão.
Sublinhe-se finalmente que
ainda nos anos quarenta surge o Boletim
do Ministério da Justiça (Lisboa, 1947 e seguintes), o qual,
nos primeiros anos da sua existência, inclui preciosa colaboração filosófica,
com destaque para a filosofia do direito, em estudos de Luis Cabral Moncada,
António José Brandão, Carlos Cossio, Giorgio del Vecchio, António Truyol y
Serra, Delfim Santos, Luis Legaz y Lacambra, Miguel Reale, António Silva Leal e
António Braz Teixeira. Em 1951 surge a Revista Filosófica, editada
em Coimbra até 1959, com direcção de Joaquim Carvalho. O prestígio de Joaquim Carvalho
esteve ainda na base da publicação da Miscelânea
de Estudos a Joaquim Carvalho (Figueira da Foz, 1959-1963),
publicação de incidência estritamente filosófica, notando-se especial
incidência na análise da filosofia alemã». In Pedro Calafate, Estado da Questão, Revistas
Filosóficas em Portugal, Philosophia 2, Lisboa, 1993.
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