sábado, 8 de abril de 2017

Novas Cartas Portuguesas. Maria Barreno, Maria Horta, Maria Costa, (As Três Marias). «E nós, e nós, de quem, a quem o rumo, os dizeres que nem assina assinados vão, o trio de mãos que mais de três não seja e anónimo o coro?»

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Novas Cartas Portuguesas. Ou de como Maina Mendes pôs ambas as mãos sobre o corpo e deu um pontapé no cu dos outros legítimos superiores
Número Três
«(…)
Considerai, irmãs minhas, cá hoje e ensoalhada a febra por este brando sol se repartindo e bem rendido, turista o dar e o brotar para esta novidade literária que há-de vender-se, eu vos asseguro, ó seis patinhas sonsas de nós três caminheiras, considerai cá hoje e abri-vos, nós para nós e eles. Considerai a cláusula proposta, a desclausura, a exposição de meninas na roda, paridas a esconsas da matriz de três. Moças só meio meninas bem largadas da casa de seus pais e arrematados já seus dotes em leilão de país. Nem vai ser isto, pois não é? Que vai ser de nós e Mariana depois desta partida, choro de ausência, de alguma falta, falha de Mariana ou quem, ou dela querer sabê-la?
Só que Beja ou Lisboa, de cal ou de calçada, há sempre uma clausura pronta a quem levanta a cabeça contra os usos:
freira não copula
mulher parida e laureada
escreve mas não pula
(e muito menos se o fizer a três)
com a Literatura,
Literatura, não se faz
rodinhas
porém, ledores, haveis comprado
Mariana e nós, tendo ela
montado o cavaleiro e bem
no usado para desmontar
suas / doutras razões de conventual.
E nós, e nós, de quem, a quem o rumo, os dizeres que nem assina assinados vão, o trio de mãos que mais de três não seja e anónimo o coro? Oh quanta problemática prevejo, manas, existiremos três numa só causa e nem bem lhe sabemos disto a causa de nada e por isso as mãos nos damos e lhes damos, nos damos o redondo da mão o som agudo, a escrita, roda de saias-folhas, viração de quê? Garantia porém a quem folheia, o tema é de passagem, de passionar, passar paixão e o tom é compaixão, é compartido com paixão». In 3 de Março de 1971

Teresa
De rosas tu teresa e a voz de vidro
prestes e libelinha do quebrar-se e nunca
de leve astuciando os ditos gastos esgotas
e travo tenro trevo fica; um silvo (tu de silves),
plácido um sulco gravemente meneado
sobre alguma cal, um equilíbrio manso
o fácil contornado pela ponta da boca
dado de anca leda barca e pétala
polpa de embalo ao eixo aceso, não corrupto
estame em luz
único de um fio e de um metal de ti teresa. In 6 de Março de 1971

Isabel
Ouve Isabel as pedras são antigas
desmerecido temos o seu trato
de basalto macio ou irisado quartzo.
Revéns do que as sustenta até areias peso.
Não do granito digo ou não apenas
de todas trazes signo e majestade
mesmo de areias.

Ouve de areias digo e risco
reduto mineral cristal de rocha branca saibas
que o som tem o metal e ar também
e entre gotas de ar se afia a música palavra.
[…]
In Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho Costa, Novas Cartas Portuguesas, 1972, edição anotada, Publicações dom Quixote, 1998, 2010, ISBN 978-972-204-011-2.

Cortesia PdQuixote/JDACT