jdact
Viagens e descobertas de ilhas no Sul do
Pacífico a mando da Coroa Espanhola, em tempos da decadência do seu Império
«(…) Criava-se assim a história do
oceano Pacífico, que muitíssimo mais tarde viria a ser apelidado de grande Lago
espanhol por Oskar Spate no seu livro de 1972. Ele teve a sua plenitude
quando Espanha e Portugal estiveram unidas sob a mesma coroa, a partir de
Felipe II em 1580 até Filipe IV em 1640, podendo-se dizer que o primeiro
período de exploração ibérica do sul do Pacífico começou com a viagem de Fernão
Magalhães-Sebastian El Cano, atingiu o auge com a colonização das Filipinas e o
estabelecimento das viagens regulares dos galeões de Manila, e chegou a um fim
simbólico em 1606 com a segunda viagem de Pedro Fernandes Queirós. Depois disso
a presença imperial espanhola no Pacífico quase se reduziu a manter a
viabilidade da rota Acapulco-Manila-Acapulco e das rotas costeiras entre os
vice-reinos da Nova Espanha e do Peru. A primeira era muito importante porque
as mercadorias, sobretudo as de maior valor, eram transportadas por terra de
Acapulco até Vera Cruz no litoral continental leste e daqui por carreiras do Atlântico
até à Metrópole espanhola.
Pedro Fernandes Queirós na sua
primeira viagem esteve nas quatro ilhas mais meridionais do arquipélago das
Marquesas e na de Santa Cruz, a maior do arquipélago do mesmo nome a sul-sueste
das ilhas Salomão e a norte das ilhas Vanuatu, numa frota de quatro navios, comandada
por Álvaro Mendaña y Neyra, com a categoria de Adelantado, que
transportavam cerca de 350 pessoas, das quais muitos eram soldados ou homens que
podian pelear, e as restantes futuros colonos, incluindo 107 mulheres, crianças
e artífices diversos, para a fundação de uma colónia nas ilhas Salomão. Saída
de Payta a 17 de Junho de 1595, depois de escalas em diversos portos do Peru
para completar provisões e tripulações, a 21 de Julho a frota chegou ao grupo
meridional das ilhas Marquesas, situadas a cerca de 10 graus sul, onde fez
escala durante duas semanas.
Antes de prosseguir abro um espaço
para recordar que a missão foi decidida depois da derrota de Richard Hawkins,
um dos corsários ingleses que perturbavam a presença espanhola no Pacífico,
assaltando e destruindo cidades e barcos no litoral ocidental da América do
Sul. Richard Hawkins foi derrotado e aprisionado em 1
de Julho de 1594 na Baía de São Mateus, na foz do rio das Esmeraldas. Em 1595
já estava em Lima, quando Álvaro Mendaña iniciou a sua viagem, em 1596 no
Panamá, a caminho de Espanha onde continuou aprisionado, primeiramente em Sevilha
e depois em Madrid. Em 1602 foi libertado, podendo então regressar ao seu país
onde recebeu o grau de cavaleiro e viria a desempenhar cargos importantes.
Entretanto, Filipe II, numa carta
datada de 21 de Janeiro de 1594 dirigida ao Vice-Rei do Peru, García Hurtado
Mendoza y Manrique, marquês de Cañete, já lhe recomendara que fossem feitas
novas descobertas e fundadas colónias que assegurassem a posse das terras pela Coroa.
Assim no ano seguinte o Vice-Rei preparou a expedição comandada por Álvaro de
Mendaña com o objectivo de fundar uma colónia na ilha de São Cristóvão, no
arquipélago de Salomão, que ele descobrira 28 anos antes. A 8 de Setembro foi a
vez de paragem numa baía baptizada como Graciosa na ilha Nendo, a maior do
arquipélago que recebeu o nome de Santa Cruz, e Mendaña decidiu criar aí a colónia,
uma vez reconhecida a dificuldade de reencontrar as ilhas Salomão onde ele
estivera em 1568. O projecto fracassou inteiramente. No curto período de cerca
de dois meses de tentativas de instalação dos colonos houve desavenças e
crimes, motins, mortes por doença e por ataques dos ilhéus, e o próprio
comandante faleceu a 18 de Outubro de 1596, supostamente de malária cerebral». ».
In
Ilídio Amaral, Pedro Fernandes de Queirós ou Pedro Fernández de Quirós
(1565-615), o Descobridor de ilhas, o Visionário de um continente cheio de
riquezas […]), Edições Colibri, Lisboa, 2014, ISBN 978-989-689-446-7.
Cortesia de EColibri/JDACT