segunda-feira, 19 de março de 2012

A Bela Poesia. Almeida Garrett. Dona Branca. «São provavelmente de 1823 os primeiros versos do longo poema, publicado em 1826, em Paris, com sete cantos e, como ele dirá, 'poucos centos de versos mais'»


Ilustração de Alfredo Keil
Cortesia de biblioviso

Dona Branca
[...]

Em hora boa saía a nova esposa
por caminho de flores! Saía a bela,
a casta filha de Sião sagrada
para os paços magníficos do esposo!
Choremos nós, que ela se vai, choremos,
que nos deixa e se vai.

Gentil religião, teu culto abjuro,
tuas aras profanas renuncio:
Professei outra fé, sigo outro rito,
e para novo altar meus hinos canto.

Vivam as fadas, seus encantos vivam!
Nossas lindas ficções, nossa engenhosa
mitologia nacional e própria
tome enfim o lugar que lhe usurparam
na lusitana antiga poesia
de suas vivas feições, de sua ingénua
natural formosura despojada
por gregos deuses, por espectros druídicos,
e com postiças, emprestadas galas
arreada sem primor, rica sem arte.
[...]

Poema de Almeida Garrett, in 'Dona Branca ou A Conquista do Algarve'

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