Cortesia de nocturnosa
«Compilações genealógicas, de que se conhecem três obras diferentes anteriores a 1500. Antes da data em que provavelmente foi redigida a primeira, no fim do século XIII, podem-se apontar como precedentes as genealogias de servos do fim do século IX ou princípio do seguinte, destinadas a provar a posse dos descendentes por parte dos seus senhores. Depois destes escritos, o primeiro vestígio textual da memória genealógica que conheço encontra-se numa sequência de sete gerações dos patronos da igreja de Borba de Godim (Felgueiras), registada numa inquirição régia de 1136 ou 1137; depois, sob a forma de escrito independente num apontamento do princípio do século XIII sobre os descendentes próximos de Mendo Moniz, irmão de Egas Moniz, acrescentado ao “Livro dos Testamentos” do Mosteiro de Paço de Sousa; e c. de 1325 numa memória redigida por Fr. Estêvão, monge de Salzedas, acerca da família de Gouviães. Os dois últimos, embora sejam importantes para testemunharem a existência de genealogias particulares, são contemporâneos da primeira das três obras já mencionadas, o “Livro Velho de Linhagens”, que, segundo as recentes investigações de Luís Krus, deve ter sido redigido para apoiar as reacções da nobreza senhorial contra as inquirições régias de Dinis de 1284 e contra a sua intervenção no julgamento acerca da herança dos Sousas, também em 1284. Como procurei demonstrar em 1977, é provável que tivesse sido composto por um monge ou clérigo do Mosteiro de Santo Tirso para ao mesmo tempo exaltar a ascendência do conde Martim Gil de Riba de Vizela, que era o representante por linha feminina da venerável família da Maia. De facto, é evidente que o livro concede uma atenção muito especial a esta família. O estabelecimento da data “a quo” baseia-se na menção de um acontecimento que se deu em 1286 e o da data “ante quem” no limite cronológico aproximado das personagens que menciona, que não pode ser muito posterior a 1290 (embora numa interpolação refira também o arcebispo Gonçalo Pereira). Este livro era primitivamente dividido em cinco partes consagradas respectivamente às famílias de Sousa, Maia, Riba Douro, Baião e Bragança, consideradas as mais nobres do reino. Todavia, conserva-se apenas, em cópias posteriores ao século XVII, o texto da primeira parte e do princípio da segunda. As genealogias apresentam-se, como nos outros livros de linhagens, segundo uma sequência descendente, tanto por via masculina como por via feminina.
Cortesia de descobertasliterarias
O “Livro de Linhagens do Deão” existe também em cópia do século XVII, mas está intacto, embora a análise interna do texto mostre que se trata de um resumo de outra obra mais extensa. Está dividido em 23 títulos e conserva um cólofon no qual se diz ter sido escrito por Martim Anes, por encomenda de um deão que não se diz quem é, em 1343. Tendo eu em 1980 proposto a hipótese de se tratar do resumo de uma primeira versão, perdida, do “Livro de Linhagens do conde D. Pedro”, que se examinará em seguida, foi a minha hipótese rejeitada por A. de Almeida Fernandes em 1990 com argumentos que considero inaceitáveis. Por outro lado penso que é de abandonar a minha proposta anterior de o deão referido no cólofon se identificar com Gonçalo Esteves, do cabido da Sé de Lamego, em favor da sua identificação com Martim Martins Zote feito deão da Sé de Braga pelo arcebispo Gonçalo Pereira em 1342, como descobriu Luís Krus. De qualquer maneira o “Livro” está certamente relacionado com as reivindicações da nobreza senhorial depois da guerra civil de 1319-1324, que, como se sabe, opôs o rei a uma larga facção da nobreza chefiada pelo príncipe herdeiro Afonso, futuro Afonso IV». In José Mattoso, Livro de Linhagens, Dicionário da Literatura Medieval Galega e Portuguesa, organização e coordenação de Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani, Editorial Caminho, Lisboa, 1993, A Prosa Medieval Portuguesa, Fundação C. Gulbenkian, 1997.
Cortesia da FC Gulbenkian/JDACT