quarta-feira, 21 de março de 2012

A Bela Poesia. Florbela Espanca. Sonetos. «Mulher e bem mulher, portuguesa e bem portuguesa, com suas virtudes e defeitos, poetisa de coturno, artista de soneto, uma alma aberta e sincera»

Cortesia de triplov

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,
eu sou a que na vida não tem norte,
sou a irmã do Sonho, e desta sorte
sou a crucificada... A dolorida...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
e que o destino amargo, triste e forte,
impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
alguém que veio ao mundo pra me ver
e que nunca na vida me encontrou!

Soneto de Florbela Espanca, in 'Sonetos, Livro de Mágoas, 1919'

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