sexta-feira, 2 de março de 2012

Serzedelo. Igreja de S. Cristina. Guimarães. «Não são muitos os elementos, antes pelo contrário, que essas duas fontes fornecem acerca da história do magnífico templo do século XIII, muito justificadamente classificado como “Monumento Nacional”»


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Notícia histórica
«A igreja de S. Cristina de Serzedelo, no concelho de Guimarães, embora tenha um passado que deve exceder sete séculos, não possui história; por outras palavras, não ficou registado em livros impressos e conhecidos qualquer facto que diga respeito à história desse interessantíssimo exemplar da arte românica em Portugal.
Os autores que vagamente têm aludido à história deste templo dizem apenas que ele foi fundado, com o respectivo mosteiro, pela Ordem de S. Bento, segundo uns, ou pelos Cónegos Regulares de S. Agostinho, segundo outros. Esta última parece ser a opinião mais próxima da verdade.
Alguns autores informam ainda que passou no século XV a abadia secular e por fim a reitoria.
Nada mais dizem da história da igreja de Serzedelo. Tivemos, porém, a oportunidade de consultar, através de fotocopias, as breves páginas que o abade de Tagilde escreveu num volume de apontamentos, por ele conscienciosa e diligentemente coligidos, em que há notas relativas a essa igreja; devemos essa possibilidade à gentileza da Direcção da Sociedade Martins Sarmento, de Guimarães. Igualmente o Rev. do Reitor da freguesia de Serzedelo teve a bondade de nos confiar um raro livro do cartório, anterior ao século XIX, existente naquela igreja.

Não são muitos os elementos, antes pelo contrário, que essas duas fontes fornecem acerca da história do magnífico templo do século XIII, muito justificadamente classificado como “Monumento Nacional”; Esses dados, todavia, oferecem pelo menos motivo, para considerações de ordem vária e, falando-nos do perigo em que esteve o templo no século XVIII, explicam em parte a razão porque, apesar de tantas investidas dos homens nesse século, a igreja de Serzedelo a todas resistiu. A este propósito, pode concluir-se que as visitações tiveram bons e nulos resultados; os que poderiam vir a ser maus, circunstâncias supervenientes impediram que se verificassem...


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O leitor, depois de ler o punhado de ‘Notas’ que se seguem extraídas do “Livro de Visitações” acima aludido, poderá formular o seu juízo.

Visitação de 2 de Setembro de 1717:
‘O fabriqueiro não tem dado satisfação às obras mandadas fazer na “Visita” passada, como é telhar a Capela Maior da Igreja, consertar a vidraça’.

Visitação de 18 de Agosto de 1718:
‘Os fregueses têm dado satisfação ao que se lhes mandou pelo que toca às redes das frestas: só falta tapar o buraco da porta travessa da “galilea”.

Visitação de 2 de Dezembro de 1720:
‘O fabricante não tem dado satisfação ao conserto da vidraria da capela Maior, obra tão precisa e recomendada já em visitas passadas (...) e de presente é preciso também retelhar a Capela Maior por estar indecente’.

Visitação de 26 de Novembro de 1723:
‘Acho o corpo desta Igreja tão escuro e falto de luz que se não escusa abrir-se nela uma fresta de bom tamanho, que tenha cinco palmos de alto e quatro de largo com sua grade de ferro, vidraça e rede de arame para seu resguardo, a qual os fregueses mandarão abrir da parte da pia baptismal na forma que determino em termo de três meses sob pena de 3.000 rs. que o juiz da Igreja pagará da sua bolsa quando no dito termo se não satisfaça. Também a porta travessa da parte da dita pia está muito baixa e incapaz para por ela sair o pálio, Cruzes e mais paramentos das procissões, pelo que mando aos fregueses ou a levantem ou façam uma de novo mais abaixo da que está, que fique larga e capaz na altura para as funções sobreditas...’ (prazo seis meses, pena 4.000 pagos pelo juiz).

Visitação .de 25 de Outubro de 1724:
‘As obras mandadas fazer na “Visita” passada tanto as do corpo da Igreja como da Capela Mór não acho de todo satisfeitas…’ (releva, todavia, as penas até à “Visita” futura).

In Boletim Monumentos nº 96, Igreja de Serzedelo, Guimarães, Junho de 1959.

Cortesia do B. Monumentos/JDACT