domingo, 18 de março de 2012

Charles Ralph Boxer. Opera Minora I. Ramada Curto. «… o agora professor catedrático, intensificou a publicação de monografias ou obras de síntese, a começar pelas que diziam respeito a Macau e aos portugueses no Japão. Ao Estado da Índia, Boxer continuou a dedicar um conjunto de valiosas sínteses e monografias, escritas individualmente ou de parceria com outros autores portugueses…»


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Introdução
Erudição
«Em1937, a publicação da “Biblioteca Boxeriana”, em edição de autor na cidade de Macau, insere-se neste contexto em que as transformações políticas em curso na China e no Japão se cruzam com o fim anunciado do Império Britânico. O facto de no rosto desta obra figurar o nome do autor antecedido da sua patente de capitão revela até que ponto Boxer se identificava com uma ancestral tradição de serviço à coroa, onde a pena se associava à espada. Resta saber se essa imagem poderia ser reduzida a uma simples tradição britânica ou se, como sugerem os seus trabalhos sobre os portugueses e holandeses, seria possível integrá-la num legado mais amplo de servidores dos impérios, detentores de valores tais como o da "tenacidade", tão valorizado pelo autor como um dos principais factores explicativos da história.


A ter em conta o sentido da gravura em que Diogo do Couto empunha simultaneamente a pena e a espada, que Boxer reproduziu em fac-simile na sua “Bibliotheca”, será possível pensar no desejo do autor de participar numa tradição europeia mais vasta, a qual punha em causa o sentido de um qualquer excepcionalismo britânico.
Em Fevereiro de 1946, Boxer voltou ao Japão como membro da delegação britânica criada na sequência do desastre de Hiroshima. Mas esta foi, talvez, uma das suas últimas missões enquanto militar. Quando, em 1947, passou à reserva com a patente de major, fê-lo para assumir a já referida cátedra no King's College da Universidade de Londres. Aí permaneceu até 1967, com uma única interrupção de dois anos (entre 195l e 1953), quando aceitou ser o primeiro professor de História do Extremo Oriente na School of Oriental and African Studies, a qual faz igualmente parte da Universidade de Londres. Importante, para a compreensão desta segunda fase da sua carreira, é aqui registar que, em 1958, Boxer declinou o convite que lhe foi endereçado pelo University College de Londres para assumir uma cátedra de História da Holanda.

As condições criadas por esta integração na vida académica associadas a uma enorme capacidade de trabalho, já demonstrada em numerosas publicações, conduziram a importantes resultados. Por um lado, levaram o autor a uma maior sistematização dos trabalhos de erudição, publicados sob a forma de nota relativa a colecções específicas, o de inventário sobre fundos arquivísticos precisos, de levantamento da tipografia sino-europeia e indo-portuguesa, ou de seriação das fontes para o tratamento de uma área geográfica precisa, o Sueste Asiático. A esta mesma série de trabalhos de erudição poder-se-ão somar tanto as publicações de documentos, muito em especial de traduções para o inglês de livros, panfletos ou manuscritos, como os balanços bibliográficos, a começar pelo que apresentou no primeiro colóquio de estudos luso-brasileiros, realizado em Washington, D. C., em 1950. Por outro lado, o novo ambiente académico permitiu, ao agora professor catedrático, intensificar a publicação de monografias ou obras de síntese, a começar pelas que diziam respeito a Macau e aos portugueses no Japão.
Ao Estado da Índia, Boxer continuou a dedicar um conjunto de valiosas sínteses e monografias, escritas individualmente ou de parceria com outros autores portugueses, relativas a um espectro geográfico tão vasto quanto o oferecido por Mombaça, Índia, as viagens entre Macau e o Japão, e ainda o Sueste Asiático». In Charles Ralph Boxer, Opera Minora I, Erudição, Edição de Diogo Ramada Curto, Fundação Oriente, 2002, ISBN 972-785-039-1.

Cortesia de Fundação Oriente/JDACT