Cortesia de ebicuba e beja
«Resta saber se na guerra que as autoridades fluminenses movem contra Adriano, não irá mais do que o luxo enfático de uma “pavorosa” política que já rendeu promoções e veneras, sobre distanciar o d’Orléans, cada vez mais, do sólido imperial. É natural que os “capoeiras” despeitados da preferência dada a um estrangeiro, em matéria de “serviço oficial”, busquem aziumar contra ele a obsessão dos magistrados, desforrando no inerme a desconsideração vibrada à classe daqueles aliás inimitáveis estripadores.
Esta tragédia brasílica me põe de queixos, meu senhor e rei de Portugal, a cogitar na forma por que V.M. tem compreendido até hoje o pesado encargo de reinar. Até ao dia 15 de Julho ainda havia no mundo dois monarcas imunes para as tentativas de assassinato, V.M. e seu tio Pedro. Para qualquer dos dois, a situação era deprimente, um poucochinho. Reis que não gramam chumbadas do povo são como as cigarreiras que não apanham cascudos dos amantes, umas lesmas a cuja existência se perdeu o interesse.
Entanto a desdita de VV. MM. lá ia tendo conforto no próprio seio familiar, consolando-se de lhe não furarem as costelas, na imunidade de seu tio o imperador; este, iludindo as suas bazófias de grande rei, com a integridade das costelas de V.M. uma tal miragem acaba porém, senhor, de evaporar-se. Pedro II já lá tem a sua ameixa para a História: por sinal que o caroço nunca apareceu! E aí está V.M. agora sozinho a carregar com a ignomínia de nunca haver despertado ódio a ninguém.
Desde Alexandre da Rússia até Kalakana de Sandwich, todos os monarcas contemporâneos hão bem merecido do povo, inequívocos testemunhos de respeito e de afecto, sob a forma de minas de dinamite e de balázio, só V.M., moita! É indecente». In Fialho de Almeida, Cartas a D. Luís sobre as Vantagens se ser Assassinado, Assírio & Alvim, Gato maltês, 2010, ISBN 978-972- 37-1441-8.
Cortesia de Assírio & Alvim/JDACT