«Desde os
primórdios da humanidade que o Homem desenha as suas memórias visuais. São
exemplo destas memórias as cenas de caça encontradas nas paredes das cavernas
onde o homem primitivo se abrigava. Antes do fabrico do papel, muitos povos
utilizaram formas curiosas de se expressarem através da escrita. Na Índia,
usavam-se folhas de palmeiras, os esquimós utilizavam ossos de baleia e dentes
de foca, na China os livros eram feitos com conchas e carapaças de tartaruga e
posteriormente em bambu e seda. Entre outros povos era comum o uso da pedra, do
barro e até mesmo da casca das árvores. Os Maias, por exemplo, guardavam
os seus conhecimentos em matemática, astronomia e medicina em cascas de
árvores, chamadas de tonalamatl. As matérias primas mais famosas e
próximas do papel foram o papiro e o pergaminho. O papiro foi inventado
pelos egípcios e os exemplares mais antigos datam de 3.500 a.C. Até hoje, as
técnicas de preparação do papiro permanecem pouco claras, sabendo-se, apenas,
que era preparado à base de tiras extraídas de uma planta abundante no rio
Nilo. Essas tiras eram colocadas em ângulos rectos, molhadas, marteladas e
coladas. Apesar da sua fragilidade, milhares de documentos em papiro chegaram
até nós. O pergaminho era muito mais resistente do que o papiro, pois era
produzido a partir de peles tratadas de animais, geralmente de ovelha, cabra ou
vaca.
Entretanto, foram
os chineses os primeiros a fabricar papel com as características que o actual
possui. Descobertas recentes de papéis em túmulos chineses muito antigos,
mostraram que na China ele foi fabricado desde os últimos séculos antes
de Cristo. Por volta do século VI a.C. sabe-se que os chineses
começaram a produzir um papel de seda branco, próprio para a pintura e para a
escrita. Em 105 d.C., o imperador chinês Chien-ch'u, irritado por escrever
sobre seda e bambu, ordena ao seu oficial da Corte T'sai Lun que inventasse um
novo material para a escrita. T'sai Lun produziu uma substância feita de
fibras da casca da amoreira, restos de roupas e cânhamo, humedecendo e batendo
a mistura até formar uma pasta. Usando
uma peneira e secando esta pasta ao sol, a fina camada depositada
transformava-se numa folha de papel. O princípio básico deste processo
é o mesmo usado até hoje. Esta técnica foi mantida em segredo pelos chineses
durante quase 600 anos.
O uso do papel
estendeu-se até aos confins do Império Chinês, acompanhando as rotas comerciais
das grandes caravanas. Tudo parece indicar que a partir do ano 751, os árabes, ao expandirem a sua
ocupação para o Oriente, tomaram contacto com a produção deste novo material e
começaram a instalar diversas fábricas de produção de papel. No entanto,
utilizavam quase exclusivamente trapos, pois era-lhes difícil obter outros
materiais fibrosos. A partir daquele momento a difusão do conhecimento sobre a
produção do papel acompanhou a expansão muçulmana ao longo da costa norte de
África até a Península Ibérica. Curiosamente, a ideia de fazer papel a partir
de fibras de madeira foi perdida algures neste percurso, pois o algodão e os
trapos de linho foram transformados na principal matéria prima utilizada. No
fim do século XVI, os holandeses inventaram uma máquina que permitia desfazer
trapos, desintegrando-os até ao estado de fibra.
Apenas em 1719, o francês Reamur sugeriu o
uso da madeira, em vez dos trapos, pois existia uma forte concorrência entre as
fábricas de papel e a indústria têxtil, o que dificultava a obtenção e
encarecia a principal matéria-prima usada na época: o algodão e o linho.
Ao observar que as vespas mastigavam madeira podre e empregavam a pasta
resultante para produzir uma substância semelhante ao papel na construção dos
seus ninhos, Reamur percebeu que a madeira seria uma matéria-prima
alternativa. Mas apenas em 1850 foi desenvolvida
uma máquina para moer madeira e transformá-la em fibras. As fibras eram
separadas e transformadas no que passou a ser conhecido como pasta mecânica de celulose. Em 1854 é descoberto na Inglaterra um
processo de produção de pasta celulósica através de tratamento com produtos
químicos, surgindo a primeira pasta
química. A partir daqui, a indústria do papel ganhou um grande impulso com
a invenção das máquinas de produção contínua e do uso de pastas de madeira. As
primeiras espécies de árvores usadas na fabricação de papel em escala
industrial foram o pinheiro e o abeto das florestas das zonas frias do norte
da Europa e América do Norte. Outras espécies, o vidoeiro, a faia e o
choupo preto nos Estados Unidos e Europa Central e Ocidental, o pinheiro
do Chile e Nova Zelândia, o eucalipto no Brasil, Espanha, Portugal,
Chile e África do Sul, são hoje utilizadas na indústria de papel e celulose.
A pasta de
celulose derivada do eucalipto surgiu pela primeira vez, em escala
industrial, no início dos anos 60,
e ainda era considerada uma novidade
até a década de 70. Entretanto, de entre todas as espécies de árvores
utilizadas no mundo para a produção de celulose, o eucalipto é a que tem o ciclo de crescimento mais rápido e
por isso tornou-se a principal fonte de fibras para a produção do papel. Graças
à madeira, o papel foi convertido de um artigo de luxo, de alta qualidade e
baixa produção, num bem produzido em grande escala, a preços acessíveis,
mantendo uma elevada qualidade». In Portal das Artes
Gráficas.