segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Abade de Jazente. Paulino A. Cabral. Um poeta amarantino do século XVIII. «É fogo, que consome ocultamente; é dor, que mortifica a Criatura; é ânsia a mais cruel, e a mais impura; é frágoa, que devora o fogo ardente. É suspiros lançar de quando, em quando; é quem me causa eternos sentimentos: é quem me mata, e vida me está dando»

Cortesia de wikipedia

«Paulino António Cabral, Abade de Jazente, nasceu em Amarante a 6 de Maio de 1719 e faleceu na mesma cidade a 20 de Novembro de 1789. Foi abade da freguesia de Jazente, advindo-lhe daí o nome por que é mais conhecido. Pertenceu à Arcádia Portuense, juntamente com Xavier Matos, seu colega de Coimbra, cidade onde ambos estudaram. Embora clérigo, escreveu poesias onde se canta o amor epicurista e horaciano. As suas obras foram publicadas em dois volumes: Poesias de Paulino Cabral de Vasconcelos, Abade de Jazente, vol. I (Porto, 1786) e Poesias de Paulino António Cabral, vol. II (Porto, 1787)».

Alguns sonetos
(Imitando Camões)
Amor é um arder, que se não sente;
é ferida, que dói, e não tem cura;
é febre, que no peito faz secura;
é mal, que as forças tira de repente.

É fogo, que consome ocultamente;
é dor, que mortifica a Criatura;
é ânsia a mais cruel, e a mais impura;
é frágoa, que devora o fogo ardente.

É um triste penar entre lamentos,
é um não acabar sempre penando;
é um andar metido em mil tormentos.

É suspiros lançar de quando, em quando;
é quem me causa eternos sentimentos:
é quem me mata, e vida me está dando.

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Brutos penhascos, rústicas montanhas,
medonhos bosques, hórrida maleza,
que me vedes, coberto de tristeza,
saudoso habitador destas campanhas.

Para me suavizar mágoas tamanhas,
alteremos um pouco a Natureza;
civilize meu mal vossa dureza,
barbarizai-me vós estas entranhas.

Meu pranto vos comova algum afecto
de branda compaixão; pois da impiedade
encontra sempre em vós um duro objecto.

Pode ser, que com esta variedade,
seja mais agradável vosso aspecto,
sinta eu menos cruel minha saudade.
Sonetos de Paulino António Cabral, in ‘Projecto Vercial’

JDACT