«Não eram meus os olhos que te olharam
nem este corpo exausto que despi
nem os lábios sedentos que poisaram
no mais secreto do que existe em ti.
Não eram meus os dedos que tocaram
tua falsa beleza, em que não vi
mais que os vícios que um dia me geraram
e me perseguem desde que nasci.
não fui eu que te quis. E não sou eu
que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
possesso desta raiva que me deu.
A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
e o esperma que te dou, o desespero».
nem este corpo exausto que despi
nem os lábios sedentos que poisaram
no mais secreto do que existe em ti.
Não eram meus os dedos que tocaram
tua falsa beleza, em que não vi
mais que os vícios que um dia me geraram
e me perseguem desde que nasci.
não fui eu que te quis. E não sou eu
que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
possesso desta raiva que me deu.
A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
e o esperma que te dou, o desespero».
«Caminharemos de olhos deslumbrados
e braços estendidos
e nos lábios incertos levaremos
o gosto a sol e a sangue dos sentidos.
Onde estivermos, há-de estar o vento
cortado de perfumes e gemidos.
Onde vivermos, há-de ser o templo
dos nossos jovens dentes devorando
os frutos proibidos.
No ritual do verão descobriremos
o segredo dos deuses interditos
e marcados na testa exaltaremos
estátuas de heróis castrados e malditos.
Ó deus do sangue! Deus de misericórdia!
Ó deus das virgens loucas
dos amantes com cio,
impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas,
unge os nossos cabelos com o teu desvario!
Desce-nos sobre o corpo como um falus irado,
fustiga-nos os membros como um látego doido,
numa chuva de fogo torna-nos sagrados,
imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.
Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos,
arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas,
atapeta de flores a estrada que seguimos
e carrega de aromas a brisa que nos toca.
Nus e ensanguentados dançaremos a glória
dos nossos esponsais eternos com o estio
e coroados de apupos teremos a vitória
de nos rirmos do mundo num leito vazio».
e braços estendidos
e nos lábios incertos levaremos
o gosto a sol e a sangue dos sentidos.
Onde estivermos, há-de estar o vento
cortado de perfumes e gemidos.
Onde vivermos, há-de ser o templo
dos nossos jovens dentes devorando
os frutos proibidos.
No ritual do verão descobriremos
o segredo dos deuses interditos
e marcados na testa exaltaremos
estátuas de heróis castrados e malditos.
Ó deus do sangue! Deus de misericórdia!
Ó deus das virgens loucas
dos amantes com cio,
impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas,
unge os nossos cabelos com o teu desvario!
Desce-nos sobre o corpo como um falus irado,
fustiga-nos os membros como um látego doido,
numa chuva de fogo torna-nos sagrados,
imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.
Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos,
arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas,
atapeta de flores a estrada que seguimos
e carrega de aromas a brisa que nos toca.
Nus e ensanguentados dançaremos a glória
dos nossos esponsais eternos com o estio
e coroados de apupos teremos a vitória
de nos rirmos do mundo num leito vazio».
Poemas de Ary dos Santos, in ‘Liturgia
do Sangue’
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