jdact
«O
caso de estudo consiste essencialmente na análise de uma situação sinóptica,
ocorrida em Portugal Continental no início da noite do dia 6 de Dezembro e
que se prolongou pelo dia 7. Foram registadas quantidades de precipitação
elevadas a norte do rio Tejo e o vento soprou forte a muito forte, com rajadas
que atingiram em alguns locais valores superiores a 110 km/h. Neste estudo
iremos recorrer essencialmente a imagens de satélite, nomeadamente, do vapor de
água e infravermelho, a campos meteorológicos do modelo European Centre for
Medium-Range Weather Forecasts (ECMWF) e campos derivados. Após
análise exaustiva e segundo autores que direccionaram as suas investigações
para a fenomenologia meteorológica da ciclogénese, podemos afirmar que se
tratou de um caso de ciclogénese explosiva. Estes fenómenos de ciclogénese
explosiva manifestam impactos de vária ordem, quer nos meios governativos quer
na sociedade em geral, impondo significativa importância na salvaguarda de
vidas humanas e bens materiais, já que são acompanhados por ventos fortes à
superfície e por chuva que ultrapassa os limites de alerta previamente
estabelecidos. Assim, há que analisar e documentar os motivos que levaram ao
cavamento da depressão, no seu percurso de sudoeste para nordeste, vindo a
afectar o estado do tempo em Portugal Continental.
Teorias sobre Ciclogénese. Definição de
ciclogénese explosiva
Define-se,
em primeira aproximação, como um processo em que a pressão diminui rapidamente
levando a gradientes isobáricos elevados. A consequência imediata destas
situações, que começou por suscitar grande interesse para as questões de
navegação marítima e para as regiões costeiras e ilhas, uma vez que a
climatologia de ocorrência desta fenomenologia aponta para uma incidência
destes casos em regiões oceânicas, dando origem a ventos excepcionalmente
fortes e ao desenvolvimento de células convectivas muito activas. Quando a
queda de pressão excede os 10 hPa em 3 horas, são referidas na bibliografia
como bombas. Este termo
meteorológico foi definido por Sanders & Gyakum (1980)
num estudo onde afirmam ter sido Bergeron o primeiro investigador a
caracterizar a taxa de cavamento referindo-a em aproximação à latitude de 60º N,
sendo esta taxa de cavamento obtida, para uma latitude arbitrária Φ, multiplicando essa taxa por (senΦ/sen60º)
obtendo o valor de uma unidade (a qual posteriormente apelidaram de 1
Bergeron), variando dos 28 hPa em 24 horas nos pólos até 12 hPa/24 h à latitude de
25º N, limite sul do fenómeno no estudo de Sanders e Gyakum. Este
critério também foi utilizado por INM no Estudo da Ciclogénese Atlântica de
5-6 de Novembro de 1997, para caracterizarem as ciclogéneses explosivas, ao
qual deram a seguinte formulação:
Onde Φ
é e latitude aproximada do centro da depressão no período em estudo. Daqui se infere que, como a latitude do
presente caso em estudo, oscila entre os 36/39º N, a queda de pressão
obtida para considerar o acontecimento como ciclogénese explosiva é de 17 hPa.
Teorias
de ciclogénese e Modelos conceptuais de ciclogénese rápida
Uma
primeira abordagem da meteorologia dinâmica é interpretar a estrutura observada
dos movimentos de larga escala que ocorrem na atmosfera através das leis físicas
que governam esses movimentos. Essas leis, que expressam a conservação de
massa, energia e momento, determinam por completo as relações que existem entre
os campos da pressão, da temperatura e da velocidade. Estas leis são bastante
complexas mesmo considerando a aproximação hidrostática, que é válida para os
sistemas meteorológicos de larga escala. Para os movimentos de escala sinóptica
extratropicais a velocidade horizontal é aproximadamente geostrófica, esses
movimentos são então referidos como sendo quase-geostróficos e torna-se, assim,
muito mais simples de analisar constituindo um bom ponto de partida para a
análise dinâmica da grande maioria dos sistemas com interesse na tradicional
previsão do tempo a curto prazo.
Segundo Holton (1992), as ciclogéneses
nas latitudes médias podem ser interpretadas tendo como base a equação da
tendência do geopotencial (desenvolvida sob a hipótese quase-geostrófica),
relembra-se aqui muito sumariamente, que esta equação avalia a importância de
dois termos para a tendência do geopotencial: o termo de advecção de vorticidade absoluta pelo vento geostrófico e
o termo da advecção diferencial da temperatura. Assim, e por intermédio
da interpretação deste último termo permite-nos afirmar que advecções de ar
frio sob o vale aos 500 hPa tem como consequência o cavamento do vale, enquanto
que as advecções de ar quente sob a crista aos 500 hPa tem como consequência a
intensificação da crista. Deste modo, e de acordo com esta teoria, as
advecções de temperatura são um factor preponderante nos níveis baixos.
Nos níveis altos, a equação tem como factor preponderante a advecção de
vorticidade absoluta pelo vento geostrófico. Para compreender melhor os
processos meteorológicos que ocorrem na troposfera e também na estratosfera
baixa nas latitudes médias, de entre as quais a ciclogénese, é utilizado o conceito de vorticidade
potencial (VP).
A vorticidade
é uma grandeza que está intimamente ligada às partículas de ar, mais
concretamente ao seu próprio movimento. Constitui uma propriedade que se
propaga de uns níveis para outros por uma simples mistura turbulenta,
apresentando uma especial facilidade em se propagar de cima para baixo e
vice-versa, o que tem uma notável importância na propagação ciclogenética de
uns níveis para outros, sobretudo de cima para baixo». In Isabel
Cristina Soares e JDACT, Caso de Estudo, 7 de Dezembro de 2000, Instituto de
Meteorologia, Lisboa, 2001.
Cortesia
de IM/JDACT