Introdução
«A comunicação em Cuidados Paliativos não é uma tarefa fácil. É um acto
que requer a aprendizagem e treino de várias habilidades e perícias
comunicacionais, entre as quais se encontram a empatia, a escuta activa, a
capacidade de fazer perguntas e a capacidade de transmitir informação / dar más
notícias. Apesar de muitos profissionais considerarem que sabem e entendem o
que os doentes querem, vários estudos demonstram que a sua compreensão das preferências
necessita de ser melhorada, mesmo após um diálogo cara-a-cara com o doente / família.
Os investigadores do SUPPORT (Study to Understand Prognoses and Preferences
for Outcomes and Risks of Treatments) concluíram que a capacidade para
dirigir uma discussão de alta qualidade sobre assuntos complexos relativos à
fase terminal da vida com os doentes e as suas famílias é uma capacidade que
deve ser aprendida e praticada, não se desenvolve por si própria. Este estudo
vem assim contradizer e desmistificar os vários mitos que existem sobre a
comunicação: A. Os profissionais
de saúde já nascem (ou não) com a capacidade de transmitir informação de forma
adequada. É uma capacidade natural que não pode ser ensinada. B. A maioria dos profissionais de
saúde tem uma boa capacidade de comunicação. C. Para dar informação de qualidade é necessário muito tempo.
D. O impacto da informação no doente
é sempre o mesmo, independentemente do modo como é transmitida.
A chave dos cuidados terminais de qualidade é a comunicação eficaz, o
que não diminui a importância do controlo adequado da dor ou o tratamento dos
outros sintomas na última fase da vida. A boa comunicação é fundamental, pois facilita
e melhora todos os outros aspectos dos cuidados. Se houver capacidade para
estabelecer e manter relações abertas, comunicativas e de confiança com os
doentes, os profissionais de saúde irão ter uma maior capacidade para
compreender e prever as necessidades e os desejos dos doentes. Para estes será então
mais fácil a expressão dos seus sentimentos e pensamentos, bem como a aceitação
dos conselhos e apoio dos profissionais de saúde.
Objectivos e benefícios da boa comunicação
Segundo Robert Twycross, os objectivos da boa comunicação são os
seguintes: reduzir a incerteza do doente e família; melhorar os relacionamentos
entre profissionais de saúde e doente / família, bem como dentro da própria
equipa de saúde; indicar ao doente e à sua família uma direcção. O
reconhecimento destes objectivos é de vital importância pois facilita a
mobilização e a escolha dos recursos mais adequados para a satisfação das
necessidades do doente. Ao estabelecer uma relação empática e de confiança com
o doente é possível atenuar o impacto psicológico da doença na sua vida e na
vida dos seus familiares. Este tipo de relação permite ao doente verbalizar as
suas angústias e os seus receios, o que contribui para diminuir a ansiedade e a
incerteza que tornam estes doentes tão vulneráveis. Ao tomar conhecimento sobre
o seu estado de saúde de uma forma gradual e adaptada às suas características
individuais, sociais e culturais, o doente pode retomar o controlo sobre a sua
vida e decidir quais as suas prioridades no tempo de vida que lhe resta (esclarecer
situações familiares / sociais; resolver conflitos; terminar projectos; ditar
vontades; fazer despedidas).
A informação obtida através
de uma boa comunicação é uma ferramenta de alta eficácia, dado que reduz o medo
e a incerteza, permite ao doente tomar decisões e fortalece a relação profissional de saúde / doente. Sem
informação não é possível participar na tomada de decisões, nem obter uma boa
adaptação à extraordinária mudança que ocorre quando se tem de conviver com uma
doença grave e enfrentar a própria morte. Resumindo, ao melhorar a comunicação
com o doente estamos a favorecer a adaptação do doente/família à situação; a aumentar
a sua adesão aos cuidados; a favorecer a relação terapêutica; a aumentar o grau
de satisfação do doente/família e a favorecer a aplicação do consentimento
informado.
Estratégias básicas de comunicação
Ao interagir com o doente / família o profissional de saúde tem como
objectivo ajudar a reconhecer as necessidades sentidas e os mecanismos
interiores para suprir essas necessidades. Para atingir este objectivo é
necessário comunicar de forma terapêutica. Existem vários factores que
influenciam o estabelecimento de uma comunicação eficaz: factores relacionados com o profissional (treino em comunicação,
personalidade, maturidade pessoal / profissional, diferença de prioridades em
relação ao doente); factores relacionados
com o ambiente de interacção (privacidade, conforto); e factores relacionados com o doente (personalidade,
nível social e cultural, capacidade de comunicação, experiências prévias,
presença de sintomas físicos e psicológicos, percepção da doença). Cada doente/família
vive o processo de doença de forma distinta, o que implica que os profissionais
de saúde atendam e suprimam as suas necessidades de forma personalizada.
Segundo Maria Pilar Albarroz, durante o processo de formação dos
profissionais de saúde dá-se muita enfâse à dimensão técnica do ensino,
revertendo-se os conhecimentos e habilidades necessárias e suficientes para o
estabelecimento de uma comunicação eficaz com os doentes e suas famílias, para
um plano secundário. Este facto contribui para o aparecimento de barreiras
comunicacionais entre o profissional de saúde e o doente (1). As
barreiras de comunicação podem ser evitadas se o profissional aprender e
treinar várias atitudes facilitadoras da comunicação, tais como: empatia,
escuta activa, fazer perguntas / dar respostas e transmitir informação / dar
más notícias». In José Carlos Pereira Luís, Transmissão de Más Notícias, Curso de
Mestrado em Gestão de Unidades de Saúde, IPP, ESSP, Portalegre, 2010.
A amizade de AM e JCL
Cortesia de IPP/ESSEP/JDACT
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