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A
Mulher que Amou Jesus
«(…) Bem-vindas sejam nossas
convidadas, disse José, acenando com a cabeça para Maria, suas primas e
Quezia. Embora não moremos assim tão longe, há muitos vizinhos nas cidades
próximas que nunca encontramos. É uma felicidade que tenham vindo até nós. Sim,
disse Jesus. Obrigado por virem até nós. E sorriu. Agora vamos comer e
agradecer por este lindo Sabá. José partiu um pão e foi passando em redor. Sentados,
com as pernas cruzadas, foram pegando o pão que recebiam. Depois, havia o
feijão, as fatias finas de cebola, os figos, as amêndoas, o queijo e o peixe em
conserva, de Magdala. Jesus olhou, surpreendido, e disse: devíamos ter sabido que teríamos visitas
de Magdala. Pegou um pouco de peixe e passou-o em volta. Maria vibrou,
orgulhosa. Talvez aqueles peixes viessem do armazém de seu pai! Escolheu um,
colocando-o, cuidadosamente, sobre o pão. O peixe de Magdala viaja para bem
longe, disse José, levando à boca, despreocupadamente, um pedaço de pão
com peixe. Vocês divulgaram o nosso nome até Roma, e mesmo mais longe. E
engoliu o seu pedaço. É, nós, galileus, somos respeitados no exterior, mas bem
pouco em Jerusalém, disse Jesus. Ele também colocou um pedaço de peixe com pão na
boca e sorriu de satisfação. O que quer dizer?, perguntou Tiago, curioso. Sabe
o que quero dizer, respondeu Jesus. Como chamam a Galileia? O círculo
dos hereges. Isso porque foram tantas as vezes que estivemos dentro e fora das
divisas de Israel, quando regiões do país iam sendo conquistadas... Tomou um
gole de vinho. Há uma pergunta interessante: quem são e o que são os
verdadeiros filhos de Israel? Riu e inclinou a cabeça na direcção das mulheres.
E as filhas, naturalmente. Quem são os judeus?, perguntou Tiago, de
repente, com a cara bem séria. Talvez só..., o céu..., possa responder. Fez uma
pausa. Existem meio judeus, com antepassados suspeitos; existem falsos
judeus, como Herodes Antipas; e existem gentios que são atraídos pelos nossos conhecimentos,
e quem não seria?, com aquelas religiões repugnantes à sua volta. Mas
não aceitam até o fim, pois não fazem a circuncisão. Será que todos esses tipos
de judeus nos ajudam ou atrapalham? Depende de Deus. Não sabemos se lhe agrada
que as pessoas se aproximem de si, ainda que a uma certa distância, ou se se
sente insultado por isso.
Eu não sei, reconheceu
Jesus. Nem eu, disse José pondo fim à discussão. Além do mais, estamos profanando
o Sabá com essa conversa vazia. E somos os responsáveis por essa conversa
vazia. Devemos explicar-nos para com Deus. O que é conversa vazia?, perguntou
Quezia. Maria espantou-se que ela falasse assim com José. Alguma coisa que não é
sagrada? Mas eu acho que há uma porção de coisas de que se pode falar que não
parecem sagradas. Fez uma pausa. Por exemplo..., decidir que roupa vestir. Mas
existem normas com relação a tudo isso, disse Tiago. Moisés criou essas
normas, e depois, quando os rabinos... Mas eu me refiro a usar roupas agradáveis
ou roupas velhas, mofadas, roupas coloridas ou sóbrias e escuras, roupas caras
ou baratas! Olhou em volta, triunfante. Está vendo? Não há normas com relação a
isso... Bom, nesse caso deve ser usado um critério genérico, disse José.
E será que irá agradar a Deus? Será que ele se sentirá glorificado? Compreende?
Não é assim tão simples como uma norma. Será que Deus se importa com a aparência
externa das pessoas? Ou será que só os homens, que não podem enxergar o que está
no coração, é que dão importância a isso?
É muito complicado, queixou-se
Quezia. Como é que se pode saber o que passa na cabeça de Deus? Nessa hora,
Rute deu uma dentada numa tâmara seca e fez uma careta. Meu dente, disse,
mais pelo susto que pela dor. A raiz de alfavaca, disse sua mãe. Está no
saco de couro... E a sua voz foi-se sumindo. Que está dentro daquela saca
grande... Todos haviam compreendido. A sacola grande estava amarrada com nós e
era proibido desatá-los até o pôr do sol do dia seguinte. E, mesmo que fosse
mais fácil, era proibido usar remédios durante o Sabá. Mas..., lembrou
Maria, o vinagre pode ser usado como tempero, e se ajudar na dor de
dentes, é permitido. Por sorte, o frasquinho de vinagre estava do lado de fora.
Foi passado de mão em mão e todos temperaram a comida. Rute tomou uma dose
grande». In Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de
Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.
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