segunda-feira, 16 de julho de 2018

A Verdadeira História. Margaret George. « Mas..., lembrou Maria, o vinagre pode ser usado como tempero, e se ajudar na dor de dentes, é permitido»

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A Mulher que Amou Jesus
«(…) Bem-vindas sejam nossas convidadas, disse José, acenando com a cabeça para Maria, suas primas e Quezia. Embora não moremos assim tão longe, há muitos vizinhos nas cidades próximas que nunca encontramos. É uma felicidade que tenham vindo até nós. Sim, disse Jesus. Obrigado por virem até nós. E sorriu. Agora vamos comer e agradecer por este lindo Sabá. José partiu um pão e foi passando em redor. Sentados, com as pernas cruzadas, foram pegando o pão que recebiam. Depois, havia o feijão, as fatias finas de cebola, os figos, as amêndoas, o queijo e o peixe em conserva, de Magdala. Jesus olhou, surpreendido, e disse: devíamos ter sabido que teríamos visitas de Magdala. Pegou um pouco de peixe e passou-o em volta. Maria vibrou, orgulhosa. Talvez aqueles peixes viessem do armazém de seu pai! Escolheu um, colocando-o, cuidadosamente, sobre o pão. O peixe de Magdala viaja para bem longe, disse José, levando à boca, despreocupadamente, um pedaço de pão com peixe. Vocês divulgaram o nosso nome até Roma, e mesmo mais longe. E engoliu o seu pedaço. É, nós, galileus, somos respeitados no exterior, mas bem pouco em Jerusalém, disse Jesus. Ele também colocou um pedaço de peixe com pão na boca e sorriu de satisfação. O que quer dizer?, perguntou Tiago, curioso. Sabe o que quero dizer, respondeu Jesus. Como chamam a Galileia? O círculo dos hereges. Isso porque foram tantas as vezes que estivemos dentro e fora das divisas de Israel, quando regiões do país iam sendo conquistadas... Tomou um gole de vinho. Há uma pergunta interessante: quem são e o que são os verdadeiros filhos de Israel? Riu e inclinou a cabeça na direcção das mulheres. E as filhas, naturalmente. Quem são os judeus?, perguntou Tiago, de repente, com a cara bem séria. Talvez só..., o céu..., possa responder. Fez uma pausa. Existem meio judeus, com antepassados suspeitos; existem falsos judeus, como Herodes Antipas; e existem gentios que são atraídos pelos nossos conhecimentos, e quem não seria?, com aquelas religiões repugnantes à sua volta. Mas não aceitam até o fim, pois não fazem a circuncisão. Será que todos esses tipos de judeus nos ajudam ou atrapalham? Depende de Deus. Não sabemos se lhe agrada que as pessoas se aproximem de si, ainda que a uma certa distância, ou se se sente insultado por isso.
Eu não sei, reconheceu Jesus. Nem eu, disse José pondo fim à discussão. Além do mais, estamos profanando o Sabá com essa conversa vazia. E somos os responsáveis por essa conversa vazia. Devemos explicar-nos para com Deus. O que é conversa vazia?, perguntou Quezia. Maria espantou-se que ela falasse assim com José. Alguma coisa que não é sagrada? Mas eu acho que há uma porção de coisas de que se pode falar que não parecem sagradas. Fez uma pausa. Por exemplo..., decidir que roupa vestir. Mas existem normas com relação a tudo isso, disse Tiago. Moisés criou essas normas, e depois, quando os rabinos... Mas eu me refiro a usar roupas agradáveis ou roupas velhas, mofadas, roupas coloridas ou sóbrias e escuras, roupas caras ou baratas! Olhou em volta, triunfante. Está vendo? Não há normas com relação a isso... Bom, nesse caso deve ser usado um critério genérico, disse José. E será que irá agradar a Deus? Será que ele se sentirá glorificado? Compreende? Não é assim tão simples como uma norma. Será que Deus se importa com a aparência externa das pessoas? Ou será que só os homens, que não podem enxergar o que está no coração, é que dão importância a isso?
É muito complicado, queixou-se Quezia. Como é que se pode saber o que passa na cabeça de Deus? Nessa hora, Rute deu uma dentada numa tâmara seca e fez uma careta. Meu dente, disse, mais pelo susto que pela dor. A raiz de alfavaca, disse sua mãe. Está no saco de couro... E a sua voz foi-se sumindo. Que está dentro daquela saca grande... Todos haviam compreendido. A sacola grande estava amarrada com nós e era proibido desatá-los até o pôr do sol do dia seguinte. E, mesmo que fosse mais fácil, era proibido usar remédios durante o Sabá. Mas..., lembrou Maria, o vinagre pode ser usado como tempero, e se ajudar na dor de dentes, é permitido. Por sorte, o frasquinho de vinagre estava do lado de fora. Foi passado de mão em mão e todos temperaram a comida. Rute tomou uma dose grande». In Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.

Cortesia de SdeEmergência/JDACT