Cortesia
de wikipedia e jdact
A enigmática Meresanq
Meresanq, guardiã das escrituras sagradas
(…)
Entre os personagens presentes no túmulo figuram escribas. Ora, Meresanq possui
um título notável: sacerdotisa do deus Tot, criador da linguagem sagrada e
senhor das palavras de deus, os hieróglifos. Está, pois, directamente
relacionada com o deus do conhecimento. É, aliás, o caso de várias rainhas
egípcias, como Bentanta, que vemos ser conduzida por Tot para o outro mundo
numa cena da sua sepultura do Vale das Rainhas. O pormenor é importante, pois
prova que Meresanq tinha acesso à ciência sagrada e aos arquivos dos templos,
denominados a manifestação da Luz divina (baú Ra). É também
uma deusa, Sechat, que rege a Casa da Vida onde se compunham os rituais e onde
os faraós eram iniciados nos segredos da sua função. Guardiã das bibliotecas e
dos textos fundamentais, ela maneja perfeitamente o pincel, que utiliza tanto
para escrever as palavras da vida como para praticar a requintada arte da
maquilhagem. Vestida com uma pele de pantera, a cabeça coroada por uma estrela
de sete pontas (por vezes cinco ou nove), é Sechat quem redige os Anais Régios
e inscreve os nomes do faraó nas folhas da árvore sagrada de Heliópolis. Desta
deusa detentora dos segredos de construção do templo, que partilha com o rei,
depende o secretariado do palácio. No templo de Séti I em Abidos, Sechat, encarregada
dos arquivos aos rolos divinos, escreve o destino do faraó e diz: a minha
mão escreve o seu longo tempo de vida, a saber, do que sai da boca da Luz
divina (Ra), o meu pincel traça a eternidade; a minha tinta, o tempo; o meu
tinteiro, as inúmeras festas de regeneração. Meresanq, iniciada nos
mistérios de Tot e no conhecimento das escrituras rituais, foi instruída em
toda a ciência sagrada do Antigo Egipto; mais de três mil anos após o seu desaparecimento,
podemos encontrá-la na companhia da sua mãe e das suas irmãs, numa das mais
surpreendentes sepulturas de Gize. Esta misteriosa e fascinante Meresanq permitiu-nos
descobrir que o universo do conhecimento estava inteiramente aberto à mulher
egípcia.
A rainha Quenet-Kaus, um faraó
esquecido?
Um gigantesco sarcófago
No Inverno de 1931-1932, o
egiptólogo egípcio Selim Hassan explorou uma parte da imensa estação de Gize, a
cerca de 400 m a sueste da pirâmide de Quéfren. Neste planalto criado pelo
homem havia um impressionante número de obras-primas: as três pirâmides, por
certo, mas também numerosas sepulturas decoradas. São necessárias longas
jornadas para percorrer estas ruas de sepulturas que nada têm de fúnebre; pelo
contrário, esta cidade de eternidade, de tranquilizadoras pedras, é um lugar de
paz e serenidade. Selim Hassan descobriu um extraordinário monumento, um imenso
sarcófago cuja base tinha 40 m de lado. Espantado, teve de render-se à
evidência: tratava-se de um sarcófago rectangular de tecto abobadado, assente
sobre uma base quadrada, cujo interior maciço era em parte constituído pela
rocha. Desconcertado e deslumbrado, o egiptólogo pensou num monumento
comparável: o túmulo do rei Chepseskaf (cerca de 2504-2500 a.C.), sucessor de
Miquerinos e último rei da quarta dinastia. A sua morada eterna, em forma de gigantesco
sarcófago, foi edificada a sul de Sacara, longe da actual zona turística.
Infelizmente, nada sabemos acerca deste faraó cujo reinado foi breve.
Quem era Quenet-Kaus?
No ângulo sueste do
túmulo-sarcófago de Gize, nos alizares em granito de uma capela exterior e de
uma falsa porta que estabelece a comunicação entre o visível e o invisível,
Selim Hassan decifrou o nome e os títulos da proprietária: Quenet-Kaus, Aquela que preside aos seus poderes criadores, mãe do rei do Alto e Baixo Egipto, filha
do deus. para o qual se realizam todas as boas coisas que ela formula. E
uma grande hesitação: será que a inscrição nos permite pensar que esta mãe de
um rei não designado era também faraó?
Desde
a descoberta do seu túmulo, poucas informações conseguimos acerca desta rainha,
mas podemos concluir que teve um papel importante. Filha, por certo, de
Miquerinos, o construtor da mais pequena das três pirâmides de Gize, foi criada
e instruída na escola do palácio. A sua mãe seria a sublime Qamerer-Nebti, a
esposa de Miquerinos, cujo rosto admirável conhecemos graças a uma estátua
conservada no Museu de Boston? Esta obra magnífica, colocada no templo do vale
no conjunto funerário de Miquerinos, mostra-nos a sua esposa caminhando a seu
lado, passando o braço direito pela cintura do monarca e pousando a mão
esquerda no braço esquerdo do esposo, numa atitude protectora». In
Christian Jacq, As Egípcias, Edições ASA, 2002, ISBN-978-972-413-062-0.
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