quinta-feira, 5 de julho de 2018

Um Estudo em Torno da Revista Portuguesa (1889-1892). Adriana Mello Guimarães. «… manifestada em Portugal desde o século XVIII, pela atitude dos estrangeirados, que buscavam no exterior o contacto com a efervescente criação humana»

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Com a devida vénia à Doutora Adriana M. Guimarães.

Introdução
«(…) Para uma resposta satisfatória a estas questões no seu conjunto, acreditamos que, além da língua nacional como pressuposto na formação tanto do espírito português quanto do espírito brasileiro, devemos assumir como premissa de nossa investigação a consciência da necessidade de modernização da própria cultura, vivenciada em muitos momentos na obra de Eça de Queirós, como um problema de política pública nacional; na verdade, não é difícil verificar um certo consenso entre os autores portugueses e brasileiros, no final do século XIX, quanto ao facto de que não se considerava um prejuízo, antes equivalia a uma vantagem, que a fonte para nutrir as próprias ideias fosse extranacional. Embora seja complexa a ideia de modernização cultural como um problema de política pública, estamos convencidos de que a nossa investigação não sofrerá prejuízo de rigor quanto aos nossos interesses literários, pois a nossa investigação gira em torno da Revista de Portugal, famoso periódico concebido e dirigido por Eça de Queirós. A Revista de Portugal tem despertado longamente um variado interesse de estudiosos em Portugal e no Brasil, mas, em nosso entendimento, ainda não foi estudada segundo a sua concepção literária então inovadora, e poderíamos dizer heurística, do espírito luso-brasileiro na perspectiva do futuro, e não do passado, como ainda hoje geralmente se concebe.
São poucos os estudos publicados sobre o significado da Revista de Portugal neste domínio da relação literária luso-brasileira, e por isso mesmo cabe aqui registar Eça de Queirós e a Revista de Portugal (Lisboa, 1953) de Miranda de Andrade. Contudo, a verdade é que está por fazer uma investigação global das condições de difusão e recepção da Revista de Portugal, especialmente depois de ter surgido, no âmbito da reedição das obras de Eça de Queirós coordenada por Carlos Reis, a publicação dos Textos de imprensa VI (da Revista de Portugal), em edição crítica, com um estudo introdutório de Maria Helena Santana. O nosso pressuposto é o de que parece evidente a sintonia de Eça de Queirós com a elite literária brasileira de sua época, constituída por aqueles escritores que, como Eduardo Prado, Domício da Gama e Oliveira Lima, podemos considerar aliados pela vivência internacional, e com os quais o director da Revista de Portugal partilhou uma mesma consciência da necessidade de modernização da cultura de língua portuguesa. O indicativo mais próximo dessa evidência se encontra no programa de lançamento da Revista de Portugal, onde, além de afirmar que sendo portuguesa, é também implicitamente brasileira (Queirós, 1995, p. 114), Eça de Queirós reconhece ser necessário manter viva a comunicação com a Ciência e o Pensamento das nações estrangeiras, tão importante para quem, como nós, é deles profundamente tributário (Queirós, 1995, p. 111).
Trata-se, portanto, de um periódico que deixou uma marca na história da cultura de língua portuguesa, não só pelo seu manifesto carácter luso-brasileiro, como também pela sua preocupação com o progresso científico e literário, a exemplo de, pelo menos, dois periódicos anteriores: O Patriota, Jornal Literário, Político, Mercantil, &c. (Rio de Janeiro, 1813-1814), cujo editor era o brasileiro Manuel Ferreira de Araújo Guimarães, coordenador de um grupo de letrados luso-brasileiros no qual destacamos o nome de Silvestre Pinheiro Ferreira; e a Revista Contemporânea de Portugal e Brasil (Lisboa, 1859-1865), a qual, além de publicar um Machado de Assis, também manifestou-se em prol do ensino da moderna ciência. Esta maneira de situar o aparecimento da Revista de Portugal nos parece válida porque hoje tornou-se evidente a preocupação com a necessidade de modernização no âmbito da cultura de língua portuguesa, manifestada em Portugal desde o século XVIII, pela atitude dos estrangeirados, que buscavam no exterior o contacto com a efervescente criação humana». In Adriana Mello Guimarães, A Modernização, Problema Cultural Luso - Brasileiro, Um Estudo em Torno da Revista Portuguesa (1889-1892), Tese de Doutoramento em Literatura, Évora, Instituto de Investigação e Formação Avançada, Setembro de 2014.

Cortesia de UdeÉvora/IIFA/JDACT