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e cortesia de wikipedia
«(…) Tefnakhte sentiu desejos de estrangular o cobarde, mas
conseguiu conter a sua fúria. Ainda não dispunha de forças armadas suficientes
para agir sozinho e tinha que transigir com aquele bando de bárbaros de vistas
curtas. Compreendo a tua prudência, Akanosh. Até hoje, mantínhamo-nos no norte
do país e deixávamos o Sul para Piankhi, considerando o Médio Egipto como uma
zona neutra. Para gozar de felicidade e prosperidade, o Egipto deve estar unido
e governado por um autêntico faraó. Pensar que possamos continuar a viver
divididos é um erro fatal. Perderemos o que possuímos! Não existe outra solução
a não ser a conquista do Sul e a eliminação das tropas do faraó negro. É essa a
tua opinião e respeito-a, Tefnakhte. mas tens perante ti diversos soberanos
independentes que dirigem os seus principados como muito bem entendem. Por que
hão-de contestar a minha a autoridade, quando estamos no caminho de uma grande
vitória? Uniste-nos numa federação admitiu Akanosh mas não te foi concedido o
poder supremo. Queríamos tentar uma experiência, sair do Delta, apoderarmo-nos
de Mênfis que caiu nas nossas mãos como um fruto maduro e conquistar algumas
províncias do Médio Egipto.
Tendo conseguido o resultado esperado, não deveremos
contentar-nos com ele? Tefnakhte ordenou ao seu escanção que servisse cerveja
forte aos príncipes líbios. A maior parte deles apreciaram essa diversão, mas
Akanosh recusou-se a beber. Vencemos sem combater lembrou. As aldeias que
atravessámos não podiam opor-nos a menor resistência. Heracleopólis é uma
cidade fortificada que será defendida por uma guarnição formada por soldados
experientes. A quantos homens se elevarão as nossas perdas e estaremos todos de
acordo para consentir em semelhante sacrifício? É esse o preço de uma conquista
declarou Tefnakhte. Negá-lo seria mentir, mas recuar seria uma derrota. Desejamos
reflectir e discutir o assunto. Tefnakhte ocultou a sua decepção. As reuniões
dos chefes líbios perdiam-se sempre em palavreados intermináveis que não
conduziam a nenhuma decisão concreta. Nesse caso, respondam claramente à minha
pergunta: concedeis-me ou não plenos
poderes para empreender a conquista de todo o Egipto? Akanosh ergueu-se e
retirou-se para a sua tenda, seguido pelos outros chefes líbios. Iniciava-se
para Tefnakhte uma longa espera. Enraivecido, quebrou o ramo baixo de uma
tamargueira cujos pedaços atirou para longe. Depois, seguiu em passo apressado
até à sua própria tenda onde o esperavam os seus dois inseparáveis
conselheiros, Yegeb e Nartreb, dois semitas que formavam um estranho par. Yegeb
era grande, tinha braços intermináveis, um rosto todo em comprimento e
tornozelos inchados; Nartreb era pequeno, gorducho, tinha os dedos das mãos e
dos pés gordinhos como os de um bebé, um rosto redondo e pescoço forte.
Astuto e calculista, mais velho do que Nartreb, Yegeb
dava-lhe os conselhos de que necessitava para agir, visto que o seu cúmplice
dispunha de uma energia inesgotável e não hesitava em utilizar fosse que meio
fosse para enriquecer. Embora tão corrupto como Nartreb, Yegeb afirmava
constantemente a sua perfeita honestidade; vestia-se com roupas velhas, comia
pouco e pretendia ser muito desligado das coisas materiais. Uma única paixão o
dominava: o gosto pela manipulação e pelo poder oculto. Com o apoio de Nartreb,
incitava Tefnakhte a tornar-se o soberano incontestado das Duas Terras,
convencido que os recompensaria se tal acontecesse. Corre tudo bem?, perguntou
Nartreb, ocupado a mastigar uma haste de papiro. Aqueles imbecis decidiram discutir
revelou Tefnakhte. Não podia acontecer nada pior reconheceu Yegeb, coçando o
nariz. O resultado das deliberações não oferece qualquer dúvida: a ofensiva
será interrompida e regressaremos ao norte. Qual é a vossa proposta? Há muitos
anos que aprendemos a conhecer esses medíocres déspotas líbios e não nos faltam
meios de acção. Utilizem-nos ordenou Tefnakhte.
O jovem núbio mergulhou no Nilo em perseguição dos búfalos que
brincavam na corrente e corriam o perigo de se afogar. Era pelo menos o que
Puarma tinha declarado, com convicção, para as deslumbrar, a três lindíssimas
raparigas, de pele acobreada. Nuas, preparavam-se para se deliciarem numa bacia
natural, entre dois rochedos, quando os búfalos cheios de calor galoparam para
o rio. Pertenciam a um primo de Puarma, decidido a apanhar os fugitivos sob o
olhar das raparigas fascinadas». In Christian
Jacq, O Faraó Negro, 1997, Bertrand Editora, 1998, ISBN 978-972-251-049-3.
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