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e cortesia de wikipedia
«(…) Musculoso, excelente nadador, o rapaz tinha a intenção de
conquistar todas três. Visto que não tinham fugido, isso não equivalia a dar o
seu consentimento de forma implícita? No entanto, a rude região da quarta
catarata do Nilo não fazia sonhar com o amor. Correndo surpreendentemente de
nordeste para sudoeste, o rio exibia a sua força selvagem, abrindo com
dificuldade passagem por entre os blocos de granito ou de basalto e as ilhotas inóspitas que tentavam
travar o seu curso. Nas margens hostis, a areia e as pedras concediam apenas um
pequeno espaço para as fracas culturas; e os ueds (cursos de água
temporários das regiões desérticas) que penetravam no deserto ficavam secos
durante quase todo o ano. Vigorosas palmeiras-tamareiras agarravam-se a
encostas abruptas que, aqui e além, se transformavam em falésias escuras. Para
os viajantes que passavam na região da quarta catarata, esta revelava-se como
uma antecâmara do inferno. Mas Puarma vivera naquela solidão uma infância
maravilhosa e conhecia o menor recanto daquele labirinto rochoso. Com perfeito
controlo, atraiu os búfalos para uma espécie de canal onde poderiam
refrescar-se em perfeita segurança. Vinde, disse ele às três beldades. Já não
há perigo nenhum! Elas consultaram-se com o olhar, trocaram algumas frases
risonhas e depois saltaram com agilidade de rocha em rocha para se irem juntar ao rapaz.
A mais audaciosa saltou para o dorso de um búfalo e
estendeu os braços em direcção de Puarma. Quando ele tentou agarrá-la, recuou e
deixou-se cair para trás. Nadando por baixo de água, as duas companheiras agarraram o rapaz pelas pernas e puxaram-no
para si antes de voltarem à superfície. Encantado por tornar-se seu
prisioneiro, Puarma acariciou um seio admirável e beijou uns lábios ardentes.
Nunca agradeceria suficientemente aos búfalos do seu primo por terem tido a
ideia de fugir. Entregar-se aos jogos do amor com uma jovem núbia flexível como
uma liana era um momento de graça, mas tornar-se o brinquedo de três amantes
ávidas e inventivas assemelhava-se a um impossível paraíso... Na água, Puarma
fingiu lutar para conservar uma relativa autonomia mas, quando elas o
arrastaram para a margem, cessou qualquer resistência e abandonou-se aos seus
mais audaciosos beijos. De repente, a que se tinha estendido em cima dele
soltou um grito de susto e levantou-se. As duas companheiras imitaram-na e
todas três debandaram como gazelas. Mas o que é que vos deu?... Voltem!
Despeitado, Puarma levantou-se por sua vez e voltou-se.
Em pé sobre um rochedo que dominava o ninho de amor estava
um colosso de um metro e noventa, com a pele de um negro de ébano que brilhava
sob o sol ardente. Com os braços cruzados, usando um saiote de linho branco
imaculado, o pescoço adornado por um fino colar de ouro, o homem tinha um olhar
de rara intensidade. Puarma ajoelhou e tocou com a testa no solo. Vossa
Majestade... Ignorava que estáveis de regresso. Veste-te, capitão dos
archeiros. Puarma era um valente que não hesitava em bater-se a um contra dez,
mas suportar o olhar do faraó negro ultrapassava as suas forças. Tal como os
outros súbditos de Piankhi, sabia que uma força sobrenatural animava o soberano
e que só ela lhe permitia reinar. Majestade... Estará prestes a rebentar algum
conflito? Não, sossega. A caça foi excelente e decidi regressar mais cedo do
que estava previsto. Piankhi tinha o costume de meditar naquele caos rochoso de onde contemplava o seu isolado país que
tanto amava. Rude, hostil, secreta, aparentemente pobre, a Núbia profunda, tão
distante do Egipto, formava almas fortes e corpos vigorosos. Aqui se celebravam
todos os dias as núpcias do sol e da água, aqui soprava um vento violento, ora
glacial ora ardente, que modelava a vontade e tornava os seres capazes de
enfrentar as provações quotidianas.
Embora tivesse o título de rei do Alto e do Baixo Egipto, Piankhi
não saía da sua capital, Napata. Coroado aos vinte e cinco anos, o faraó negro
reinava há vinte anos, consciente das fracturas políticas e sociais que
tornavam o Egipto fraco como uma criança. No Norte, os ocupantes, os guerreiros
líbios, digladiavam-se constantemente para conseguirem mais poder; no Sul, a
cidade santa de Tebas, onde estavam instaladas as tropas núbias, encarregadas
de proteger o domínio do deus Amon contra qualquer agressão. Entre o Norte e o
Sul, o Médio Egipto, com dois fiéis aliados do faraó negro, os príncipes de
Heracleopólis e de Hermopólis. Bastava
a sua presença para dissuadir os nortistas de saírem da sua zona de influência. É verdade que esta situação não agradava a Piankhi. Mas
contentava-se com o bem-estar de Tebas e com o embelezamento da sua própria
capital onde mandara construir um soberbo templo em glória de Amon, verdadeira
réplica do seu santuário de Karnak. Ser um construtor, seguindo o exemplo dos
grandes monarcas do passado, era a única ambição de Piankhi. E os deuses
tinham-lhe oferecido uma terra mágica onde a voz de Maât, a deusa da justiça e
da verdade, continuava a fazer-se ouvir. Bater-se-ia até ao limite das suas
forças para preservar esse tesouro. Tens
treinado os teus homens ultimamente? Com
certeza, Majestade! Os meus archeiros estão sempre em pé de guerra. Caso
contrário, amolecem. Ordena e combateremos!» In Christian
Jacq, O Faraó Negro, 1997, Bertrand Editora, 1998, ISBN 978-972-251-049-3.
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