sábado, 28 de julho de 2018

A Verdadeira História. Margaret George. «Meditando sobre um lagarto?, perguntou, sem conseguir evitar uma risada. Não é uma criação de Deus inferior a uma águia ou a um leão, disse ele»

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A Mulher que Amou Jesus
«(…) E daí, qual o interesse do lagarto? Na verdade, ela nunca achara lagartos interessantes, embora também nunca os tivesse olhado com atenção, mexiam-se muito rapidamente. Não acha os lagartos fascinantes?, perguntou ele. E parecia sério. A pele deles é tão esquisita, tão áspera. E a maneira como mexem as pernas, tão diferente da de outros animais de quatro patas. Eles mexem uma de cada vez, e não duas de cada vez. Quando Deus os criou, deveria estar querendo provar que há muitas formas de locomoção e muitas formas de se mover com rapidez. E as cobras?, perguntou ela. Não entendo nem como conseguem mover-se, e menos ainda com a rapidez que o fazem, sem pernas. É verdade, as cobras são um exemplo ainda melhor. Inteligentemente, Deus ensinou-as a moverem-se e viverem bem apesar do que não têm. E também não as podemos comer, disse Maria. Será que Deus queria protegê-las ou a nós? Agora estamos realmente observando o Sabá, disse Jesus, repentinamente. E isso é um prazer, exactamente como deveria ser. Ele dizia umas coisas estranhas. Mas ela gostava muito dele. Às vezes, as pessoas que diziam coisas estranhas assustavam, pareciam perigosas, ou meio malucas e imprevisíveis. Mas este rapaz parecia o contrário: extremamente sensível e digno de total confiança. Por isso, pareceu-lhe correcto confessar: não compreendi o que quis dizer. Ele deu um suspiro de prazer. É porque estamos pensando em Deus, no trabalho de suas mãos, meditando, digamos assim, sobre isso.
Meditando sobre um lagarto?, perguntou, sem conseguir evitar uma risada. Não é uma criação de Deus inferior a uma águia ou a um leão, disse ele. E talvez até seja mais reveladora do seu génio. Será que deveríamos passar o ano meditando, a cada dia sobre uma criatura diferente?, perguntou ela. A ideia parecia-lhe curiosa. Perfeitamente, disse ele. Lembre-se do Salmo que diz:

Louvai ao Senhor da terra,
monstros marinhos e abismos todos;
fogo e saraiva, neve e vapor
e ventos procelosos que lhe executam
a palavra;
montes e todos os outeiros,
árvores frutíferas e todos os cedros;
feras e gados,
répteis e voláteis...

Ela não se lembrava desse Salmo, mas agora não o esqueceria. Virando-se, séria, para o lagarto, ordenou-lhe: peça a bênção a Deus! Ele deu um pulo e sumiu para dentro da fenda da árvore. Jesus riu. Faltava pouco, muito pouco, parecia, para o sol tocar o horizonte, decretando o fim do Sabá. De pé, olharam o pôr-do-sol e ouviram a trombeta que anunciava o fim da pausa sagrada.

Apesar de Maria ter garantido que visitar outras famílias era uma maneira excelente de observar o Sabá, e de seu filho, Jesus, ter procurado a família da pequena Maria para lhes comunicar onde ela se encontrava, seus pais estavam aborrecidos quando ela voltou. O que tem na cabeça, para sair por aí desse jeito?, disse-lhe sua mãe, rispidamente. Acabou tendo de passar o Sabá com uma família de estranhos! E encarando Maria, acrescentou: aquele rapaz que nos veio procurar, não gostei dele. Jesus?, perguntou Maria. Percebe-se que não foi bem-educado. Nem sabe ser respeitoso. Não é o tipo de gente com quem deveria se meter. Mas então, porque me deixou ficar?, perguntou Maria, baixinho». In Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.

Cortesia de SdeEmergência/JDACT