sexta-feira, 20 de julho de 2018

Um Estudo em Torno da Revista Portuguesa (1889-1892). Adriana Mello Guimarães. «Interessante é constatar que, na sua obra O discurso filosófico da modernidade, Habermas discute o problema como um projecto inacabado, mas localizado no tempo»

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Com a devida vénia à Doutora Adriana M. Guimarães.

Introdução
«(…) O homem moderno tem confiança nos seus recursos, no seu destino e na ciência para a resolução de problemas. A convicção de que a educação poderia ser um catalisador das mudanças sociais foi igualada pela confiança na integridade dos indivíduos. Os sistemas políticos também foram questionados, o que levou a exigências de uma representação política mais abrangente. Vários autores, como Edgar Morin, Berman ou Giddens, também associam a modernidade ao desenvolvimento da sociedade capitalista-industrial, altura em que são desprezadas as concepções religiosas e místicas, para basear a regulação do comportamento na racionalidade. Ou seja, a ideia de racionalidade é fulcral. Neste sentido, contudo, Alain Touraine questiona: a modernidade reduzir-se-á à racionalização? (1994, p. 2) e procura introduzir na discussão o tema do sujeito pessoal e da subjectivação.
A par disso, o sociólogo Giddens, em Modernidade e identidade, traça um quadro e explica-nos que na sociedade tradicional a identidade social dos indivíduos é limitada pela própria tradição, pela localidade. Com a modernidade, há um romper com as práticas e preceitos pré-estabelecidos, o que enfatiza o cultivo das potencialidades individuais, e consagra ao indivíduo uma identidade móvel, mutável: os indivíduos são forçados a escolher um estilo de vida a partir de uma multiplicidade de opções. É nesse sentido que, na modernidade, o eu torna-se, cada vez mais, um projecto reflexivo, pois, onde não existe mais a referência da tradição, descortina-se, para o indivíduo, um mundo de diversidade, de possibilidades, de escolhas. Para Giddens (2000), uma característica marcante da modernidade é o seu dinamismo. Já Max Weber considera a modernidade como processo de desencantamento do mundo, de perda das referências mítico-religiosas. Repare-se, ainda, que, por outro lado, Morin compara a modernidade a uma nova religião e até circunscreve o seu fim:

nascida em fins do século XV, a modernidade agoniza neste final do século XX. A modernidade não era apenas um fenómeno histórico, não era apenas uma ideia-força, era uma crença e, de facto, erigira-se no século XIX numa religião que se ignorava enquanto tal porque se baseava naquilo que se impusera contra a Religião revelada: a Ciência materialista, a Razão laica, o Progresso histórico. (Morin, 1996, p. 9)

Interessante é constatar que, na sua obra O discurso filosófico da modernidade, Habermas discute o problema como um projecto inacabado, mas localizado no tempo, sendo o início da época moderna marcado por três eventos históricos: a Reforma Protestante, o Iluminismo e a Revolução Francesa. Tal discussão sobre a modernidade nos conduz à caracterização do horizonte do nosso tempo, em face do que se concebe como sendo o pós-moderno (Lyotard, faz uma análise da condição do saber na actual situação da cultura ocidental. Zygmunt Bauman propõe o conceito de modernidade líquida para definir o presente, em vez do termo pós-modernidade. Os tempos são líquidos porque tudo muda rapidamente: o espaço e o tempo estão separados. Calabrese emprega o termo neobarroco para falar do gosto da totalidade das manifestações estéticas predominante deste nosso tempo. O autor considera que o termo pós-moderno confunde os campos de acção da literatura, do cinema e da filosofia. Já para Gilles Lipovetsky, vivemos uma segunda revolução moderna, a hipermodernidade)». In Adriana Mello Guimarães, A Modernização, Problema Cultural Luso - Brasileiro, Um Estudo em Torno da Revista Portuguesa (1889-1892), Tese de Doutoramento em Literatura, Évora, Instituto de Investigação e Formação Avançada, Setembro de 2014.

Cortesia de UdeÉvora/IIFA/JDACT