Com
a devida vénia à Doutora Adriana M. Guimarães.
Introdução
«(…) O homem moderno tem
confiança nos seus recursos, no seu destino e na ciência para a resolução de problemas.
A convicção de que a educação poderia ser um catalisador das mudanças sociais
foi igualada pela confiança na integridade dos indivíduos. Os sistemas
políticos também foram questionados, o que levou a exigências de uma
representação política mais abrangente. Vários autores, como Edgar Morin,
Berman ou Giddens, também associam a modernidade ao desenvolvimento da
sociedade capitalista-industrial, altura em que são desprezadas as concepções
religiosas e místicas, para basear a regulação do comportamento na
racionalidade. Ou seja, a ideia de racionalidade é fulcral. Neste sentido, contudo,
Alain Touraine questiona: a modernidade reduzir-se-á à racionalização?
(1994, p. 2) e procura introduzir na discussão o tema do sujeito pessoal e da
subjectivação.
A par disso, o sociólogo Giddens,
em Modernidade e identidade,
traça um quadro e explica-nos que na sociedade tradicional a identidade social
dos indivíduos é limitada pela própria tradição, pela localidade. Com a
modernidade, há um romper com as práticas e preceitos pré-estabelecidos, o que
enfatiza o cultivo das potencialidades individuais, e consagra ao indivíduo uma
identidade móvel, mutável: os indivíduos são forçados a escolher um estilo de vida
a partir de uma multiplicidade de opções. É nesse sentido que, na modernidade,
o eu torna-se, cada vez mais, um
projecto reflexivo, pois, onde não existe mais a referência da tradição, descortina-se,
para o indivíduo, um mundo de diversidade, de possibilidades, de escolhas. Para
Giddens (2000), uma característica marcante da modernidade é o seu dinamismo.
Já Max Weber considera a modernidade como processo de desencantamento do mundo,
de perda das referências mítico-religiosas. Repare-se, ainda, que, por outro
lado, Morin compara a modernidade a uma nova religião e até circunscreve o seu
fim:
nascida em fins do século XV, a
modernidade agoniza neste final do século XX. A modernidade não era apenas um
fenómeno histórico, não era apenas uma ideia-força, era uma crença e, de facto,
erigira-se no século XIX numa religião que se ignorava enquanto tal porque se
baseava naquilo que se impusera contra a Religião revelada: a Ciência materialista,
a Razão laica, o Progresso histórico. (Morin, 1996, p. 9)
Interessante
é constatar que, na sua obra O
discurso filosófico da modernidade, Habermas discute o problema como
um projecto inacabado, mas localizado no tempo, sendo o início da época moderna
marcado por três eventos históricos: a Reforma Protestante, o Iluminismo e a Revolução
Francesa. Tal discussão sobre a modernidade nos conduz à caracterização do horizonte
do nosso tempo, em face do que se concebe como sendo o pós-moderno (Lyotard, faz
uma análise da condição do saber na actual situação da cultura ocidental.
Zygmunt Bauman propõe o conceito de modernidade líquida para definir o
presente, em vez do termo pós-modernidade. Os tempos são líquidos porque tudo
muda rapidamente: o espaço e o tempo estão separados. Calabrese emprega o termo
neobarroco para falar do gosto da totalidade das manifestações estéticas predominante
deste nosso tempo. O autor considera que o termo pós-moderno confunde os campos
de acção da literatura, do cinema e da filosofia. Já para Gilles Lipovetsky,
vivemos uma segunda revolução moderna, a hipermodernidade)». In
Adriana Mello Guimarães, A Modernização, Problema Cultural Luso - Brasileiro,
Um Estudo em Torno da Revista Portuguesa (1889-1892), Tese de Doutoramento em
Literatura, Évora, Instituto de Investigação e Formação Avançada, Setembro de
2014.
Cortesia de UdeÉvora/IIFA/JDACT