sexta-feira, 1 de junho de 2012

História e Mistérios dos Templários. Pedro Silva. «Eles desprezavam o amor à justiça que era pertinente a seu papel, e não faziam o que deveriam. Em vez de defender os pobres, as viúvas, os órfãos e a Igreja, competiam para estuprar e matar…»


Cortesia de ediouro

Nascimento da Ordem
«Dois anos depois, em 1120, o rei de Jerusalém elaborou nova forma de combater a ameaça muçulmana; ou seja, pela primeira vez a cidade de Jerusalém seria protegida pela construção, de uma enorme muralha para fortalecer a sua defesa. Medidas tarifárias em relação aos alimentos também foram tomadas, isentando-os de qualquer taxa com o objectivo de povoá-la pelos cristãos. Torná-la mais atraente era o objectivo, e a presença da Ordem do Templo era o meio de alcançá-lo. Não se obteve, contudo, sucesso nessas medidas, pois tanto a presença dos cavaleiros Templários quanto as políticas revelaram-se ineficazes.
Diante disso, e vendo os anos se passarem sem qualquer alteração no rumo dos acontecimentos, o mestre da Ordem, Hugo de Payns, decidiu deslocar-se para o Ocidente, em 1126, a fim de recrutar cavaleiros europeus. Numa série de viagens e servindo-se de diversos contactos estabelecidos através da personalidade de São Bernardo, Hugo obteve resultados animadores. Os cronistas, com certo exagero, divulgaram que ele conseguira mais adeptos do que o papa Urbano II para a Primeira Cruzada. Documentos público comprovavam que muitos nobres ou venderam seus bens ou levantaram empréstimos a fim de participarem de uma cruzada.
Numa carta de encorajamento dirigida aos cavaleiros Templários em Jerusalém, Hugo tentou incutir neles a ideia de uma espécie de renascimento da Ordem, através da repetição da mensagem principal, ou seja, a de serem monges-guerreiros, inspirados pelas Escrituras Sagradas.
Graças ao apoio bem-sucedido de São Bernardo, em Janeiro de 1128, o Concílio de Troyes reuniu-se com o objectivo de analisar as pretensões de Hugo de Payns e de André de Montbard. Entre os membros do Concílio contavam-se, entre outros, Bernardo, o abade de Clairvaux, o núncio do papa e os arcebispos de Reims e Sens. Precisamente pela decisão dessas personalidades da Igreja por ordem do papa Honório e de Estêvão, patriarca de Jerusalém, foi criada uma norma como diretriz de actuação para a Ordem, sendo-lhes atribuído o hábito branco. Esse foi o melhor apoio que a Ordem poderia receber, na Idade Média, porque ela deixou de ser uma organização clandestina para ganhar notoriedade e reconhecimento pela Igreja Católica.

Plano da Jerusalém latina; o Plano de Cambrai, 1150
jdact

Fundamentos teóricos
  • "Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna à qual foste chamado, como o reconheceste numa bela profissão de fé em presença de numerosas testemunhas. Trava a luta excelente da fé, apega-te firmemente à vida eterna para a qual foste chamado e fizeste uma excelente declaração pública diante de muitas testemunhas". In 1 Timóteo, 6:12
A Regra era uma norma de regimento interno da Ordem, com setenta e dois artigos, acrescidos de mais quatro na tradução francesa, a qual foi essencialmente elaborada por São Bernardo, o patrono dos Templários e também organizador da Ordem Cisterciense. Através da obra de Henri de Curzon, podemos observar alguns excertos fundamentais da também apelidada Regra Latina, apresentada e aprovada pela Igreja no Concílio de Troyes, em 1128. No seu artigo 2.°, o prólogo da regra, não tinha nada de bom, pois São Bernardo definiu o perfil do cavaleiro ao criticar o estado em que se encontrava a cavalaria, por terem os cavaleiros subvertido as suas verdadeiras atribuições:
  • "Eles desprezavam o amor à justiça que era pertinente a seu papel, e não faziam o que deveriam. Em vez de defender os pobres, as viúvas, os órfãos e a Igreja, competiam para estuprar e matar".
Subentende-se que tenha havido um ideal de Cavalaria que os Templários gostariam de restaurar. Ainda nesse prólogo, esses valores perdidos eram enfatizados:
  • "Acima de todas as coisas quem quer que sejais um cavaleiro de Cristo, que escolhais apenas assuntos sagrados, vós que fizestes o juramento deveríeis acrescentar puro zelo e firme perseverança que são valiosos e sagrados e reconhecidos como virtudes elevadas, de modo que, se cumprirdes isso em toda a vossa pureza e eternidade, sereis digno de fazer companhia aos mártires que deram suas almas por Jesus Cristo".
Todo o restante da Regra seguiu a diretriz de seu prólogo, na qual expôs-se o novo conceito de Cavalaria de Cristo». In Pedro Silva, História e Mistérios dos Templários, Rio de Janeiro, Ediouro, 2001, Pdf, ISBN 85-00-00757-5.

Cortesia de Ediouro/JDACT