sábado, 16 de junho de 2012

O Combate de Flor da Rosa. Conflito Luso-Espanhol de 1801. António Ventura. Comentado por Francisco de Borja Garção Stockler. «Chegado a Flor de Rosa, em vez de tomar as cautelas convenientes, contentou-se com saber que no Crato não havia ainda espanhóis: e sem estabelecer guardas avançadas, nem vedetas nos lugares convenientes, assentou de dar algumas horas de descanso à sua Tropa»


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«Entretanto existia ainda no Crato alguma porção de trigo e farinha, que era conveniente salvar, e para este fim mandou o Duque um Destacamento de quinhentos homens de Infantaria, e quarenta ou sessenta cavalos, cujo comando confiou ao coronel Carcome, ordenando-lhe que logo que chegasse a Flor de Rosa, aí tomasse Posto, e se mandasse informar se o inimigo tinha ou não já entrado no Crato; qual a situação de seus Postos avançados; e até onde lançava as suas Patrulhas, a fim de executar esta operação com toda a circunspecção, e prudência.
Nesta segunda comissão se houve Carcome como na primeira. Chegado a Flor de Rosa, em vez de tomar as cautelas convenientes, contentou-se com saber que no Crato não havia ainda espanhóis: e sem estabelecer guardas avançadas, nem vedetas nos lugares convenientes, assentou de dar algumas horas de descanso à sua Tropa, que ainda não tinha comido, e se achava assaz fatigada de marcha, que executara na noite precedente e na manhã daquele dia, a qual por culpa de seu guia fora mais dilatada do que deveria ser. No meio do descanso, a que se abandonara, foi surpreendido por um Corpo espanhol de dois a três mil homens, que o Inimigo mandava ao Crato com o fim de apoderar-se do Depósito secundário, que ali existia. Teve Carcome ainda tempo para formar a sua Tropa; mas em vez de expedir logo a notícia do aperto em que se achava para o Campo do Gavião, e para Ponte de Sor, para onde sabia que se tinha mandado marchar de Abrantes um Destacamento assaz forte para auxiliar a sua retirada, e a marcha do seu Comboio por aquele lado; não conhecendo a vantagem que lhe ofereciam o Convento, e a mesma Povoação de Flor da Rosa, aonde poderia fazer-se forte, e defender-se o tempo bastante para ser socorrido; não sabendo mesmo parquear-se com os seus carros; rumou o partido de bater-se em retirada, o que fez por espaço de uma légua Aldeia da Mata. Ali se defendeu valentemente até consumir o cartuxame, que a sua Infantaria tinha nas patronas: e achando-se envolvido por todos os lados, se rendeu prisioneiro de guerra com mais de metade do seu Destacamento, tendo perdido a sua artilharia e munições, e uma grande parte dos carros que conduzira para a evacuação do Depósito». Cartas do autor da História Geral da Invasão dos Franceses em Portugal, e da restauração deste reino, por Francisco de Borja Garção Stockler [...], Rio de Janeiro, na Impressão Régia, 1813.
In António Ventura, O Combate de Flor da Rosa, Conflito Luso-Espanhol de 1801, Edições Colibri, C. M. do Crato, 1996, ISBN 972-8288-23-9.

Cortesia de Colibri/JDACT