domingo, 24 de junho de 2012

Notas acerca das Origens de Portalegre. Uma questão de Geografia Humana. «Mas tudo isso bem ligado ao Rei Lavrador e à sua política. Desenvolve-se logo no século XIII, sendo o próprio monarca Dinis que, após o cerco de 1229, lhe confere o senhorio de Vila do Rei, isto é, apenas vinte anos depois de seu pai, Afonso III, haver doado ao infante Afonso as vilas de Marvão, de Vide e de Portalegre»



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«Por tudo o que dissemos, está para nós fora de qualquer dúvida que o nome actual da cidade de Portalegre deriva dos termos latinos “Portus” e “Alacer”; “Portus alacer” nos escritos da chancelaria do rei Dinis.
O termo “Portus” não se emprega apenas na acepção do porto de mar; também significa lugar de abrigo, de refúgio e de repouso em terra. conhecem-se dezenas de povoados denominados portos, (de terra) em Portugal e nas Espanhas. Aqui está outra vez a referência aos caminhos, à Serra e ao Rossio.
Os muros de defesa da vila medieval toram concluídos pelo “Rei Lavrador”; é porém quase certo que já existissem algumas muralhas mais antigas. O rei Dinis, neto de Afonso X, “o Sábio”, de Leão e Castela, poeta como ele e com quem conviveu na sua juventude em Sevilha, bem que era politicamente indispensável demarcar e ocupar o território do Reino a todo o custo. E em breve verificou que estava na razão; foi Dinis I que assinou o “Tratado de Alcanices” (1297). O extenso e bem protegido castelo de Portalegre defendia a Vila e servia bem para nele se arregimentarem e se treinarem os seus cavaleiros, os seus besteiros e a sua peonagem. Só assim se compreende a largueza dos seus muros que contrasta com o perímetro mais curto de povoados vizinhos muito mais importantes (Marvão, Crato, Arronches). E a Vila que sempre se deve ter estendido até ao Rossio, logo se prolongou para o arrabalde do Corro e, três séculos depois, alargou-se para os lados da Corredoura. A sua natureza militar exigiu essa extensão sucessiva e os nomes desses arrabaldes ensinam-nos o motivo e a razão pelas quais eles se desenvolveram.
António Ventura, Luís Bacharel e outros citam o foral de 1259 de Afonso III e um documento mais antigo que se refere a uma "venda de casa na vila aos templários”. Se diz “casa na vila" é porque já existiam arrabaldes. O convento de São Francisco foi edificado em 1229, junto às Portas de Alegrete, quando Portalegre ainda pertencia ao concelho de Marvão e só muitos anos depois é que o termo do Crato deixou de se encostar às muralhas da vila.

Não julgamos assim que seja fantasista a nossa noção de admitirmos que a importância de Portalegre esteja na sua situação geográfica, no facto de ser encontro de caminhos velhos e, assim, em razões estratégicas e militares. Mas tudo isso bem ligado ao Rei Lavrador e à sua política; Portalegre desenvolve-se logo no século XIII. É o próprio monarca Dinis que, após o cerco de 1229, lhe confere o senhorio de Vila do Rei, isto é, apenas vinte anos depois de seu pai, Afonso III, haver doado ao infante Afonso a s vilas de Marvão, de Vide e de Portalegre.
Portalegre foi um povoado medieval, essencialmente moçárabe, e assim se manteve. A afirmá-1º está todo o arranjo das suas ruas e praças dentro dos muros, a praça maior, a rua dos açougues, a rua nova, a rua da cadeia, a rua dos besteiros, a rua da carreira, a rua do Lourencinho, a rua de Elvas, a rua direita, e já fora da muralha, o rossio, a rua da mouraria, a rua dos potes (ou das olarias), a rua dos violeiros, a rua dos mexes, a rua dos canastreiros, a rua dos clérigos, a rua do chantre, a rua do cano, etc. E ainda a rua da capela, paralela e no extremo da rua da mouraria. Estaria por ali, por aquele pequeno largo junto à igreja (nova) de S. Lourenço, o cemitério mouro, o ‘almocávar’?». In Caria Mendes, Notas acerca das Origens de Portalegre. Uma questão de Geografia Humana, Faculdade de Medicina de Lisboa, Actas do I Encontro da História Regional e Local, Setembro de 1987.

Cortesia do CRAP/ESEP/JDACT